As sementes de chia são um alimento popular nas redes sociais, pelos seus benefícios para a saúde, quando integradas numa alimentação equilibrada e variada. No entanto, avisa-se em vídeos partilhados no TikTok, é preciso “ter cuidado quando se come sementes de chia”.

A autora de um dos vídeos defende que se deve “sempre demolhar as sementes de chia em água ou em qualquer outro líquido uma a duas horas antes de as consumir”, porque, supostamente, comer sementes de chia secas é perigoso para a saúde. Confirma-se que se deve hidratar as sementes de chia antes de as consumir?

As sementes de chia não devem ser consumidas secas?

Em esclarecimentos ao Viral, Margarida Beja, nutricionista no Reino Unido (equivalente a registered dietitian), explica que a chia é uma fibra com uma capacidade hidrofílica enorme, o que significa que “absorve quantidades de água aproximadamente 12 vezes a sua massa”. 

Atendendo às características das sementes de chia, consumi-las “com líquidos ou hidratadas pode ser uma medida de precaução”, defende a nutricionista.

No entanto, segundo a nutricionista, não existem normas ou recomendações específicas neste sentido, ou seja, aconselha-se apenas que sejam consumidas com líquidos ou demolhadas durante tempo suficiente para formarem um gel.

“O organismo não é um meio ‘seco’, pelo que à partida a sua ingestão não provoca um problema imediato, especialmente se for em pouca quantidade”, esclarece. 

Contudo, quando ingeridas em maiores quantidades, “faz sentido ingeri-las com fluidos”, salienta.

Não só porque esta prática “diminui o risco de efeitos secundários e obstruções, mas porque potencia as suas caraterísticas funcionais ao nível intestinal”, prossegue Margarida Beja.

Para mais, acrescenta, “se forem consumidas a seco, a probabilidade de engasgamento é maior, especialmente se existirem já fatores de risco”.

Por exemplo, “em pessoas com hérnias, espessuras no trato gastrointestinal ou outras alterações anatómicas” comer sementes de chia sem as hidratar antes “pode contribuir para obstruções”. 

Num artigo informativo publicado no site da Escola de Saúde Pública de Harvard também se reforça a ideia de que as sementes de chia não devem ser ingeridas “secas por si só”.

Além disso, recomenda-se que as pessoas com disfagia, “uma condição que causa dificuldade em engolir, ou outros problemas digestivos”, tenham cuidados extra.

Estes cuidados não são muito diferentes dos que se aplicam a todas as outras fibras. Tal como já tinha esclarecido Ana Raquel Marinho, em declarações anteriores ao Viral, a ingestão de fibra deve ser sempre acompanhada “por um reforço da ingestão de água, para evitar e minimizar sintomas de desconforto”, como a obstipação.

Para mais, como em tudo, é importante não exagerar na quantidade que se consome. Margarida Beja explica que “o consumo total excessivo de fibra” pode provocar “alterações no trânsito intestinal”.

Nas declarações prestadas anteriormente ao Viral, Ana Raquel Marinho salientava que “uma ingestão acima de 30 gramas de fibra por dia pode estar associada a alguns sintomas de desconforto gastrointestinal, como distensão abdominal e alguma flatulência”. Isto porque a fibra nestas doses é menos tolerável.

Quando consumida de forma moderada e inserida numa alimentação variada, a chia é um alimento muito interessante do ponto de vista nutricional. 

Além de ser uma boa “fonte de fibra”, também é rica em “magnésio, cálcio, compostos antioxidantes e ómega 3 (interessante para quem não consome fontes de ómega 3 de origem animal)”, adianta a nutricionista Margarida Beja.

Este alimento é “muito interesse na indústria alimentar e substitui, muitas vezes, ovos e óleos em receitas onde estes ingredientes não podem ser usados”, destaca.