Pode acontecer, quando se está a meio de uma refeição, a comida ou a bebida ir para “o canal errado”. Assim que esses sólidos ou líquidos entram na via respiratória, provoca um engasgamento que tanto pode ser ligeiro, como levar à morte.

O que se deve fazer nestas situações? É importante bater nas costas? A ingestão de água ajuda? O Viral tirou as dúvidas com o pneumologista Carlos Robalo Cordeiro, presidente da Sociedade Respiratória Europeia (ERS) e diretor da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra (FMUC) e do Serviço de Pneumologia do Centro Hospitalar e Universitário.

“Aquilo que normalmente se chama engasgamento consiste na entrada de líquidos ou sólidos nas vias aéreas inferiores, dirigindo-se para a laringe e traqueia e não para o esófago”, começa por dizer Carlos Robalo Cordeiro.

Isto acontece devido a problemas gastrointestinais, respiratórios e neurológicos, “que dificultam a normal capacidade de deglutição, perturbando o encerramento da epiglote, uma espécie de válvula que normalmente se encerra para permitir a entrada de conteúdo líquido ou sólido no aparelho digestivo inferior”, explica o pneumologista. É habitual que isto aconteça a pessoas que tiveram acidentes vasculares cerebrais, porque a sua capacidade de deglutição foi afetada.

O que deve ser feito em caso de engasgamento?

De acordo com o diretor da FMUC, é mais grave quando as pessoas se engasgam com comida sólida, ou por “inalação de corpos estranhos”. Nestas situações, é mais difícil resolver o problema. No entanto, a maior parte dos episódios de engasgamento é resolvida com a tosse reflexa, que permite expulsar o conteúdo para fora das vias aéreas.“Se isso não acontecer e se a pessoa demonstrar dificuldade respiratória, pode-se aplicar, como primeiro passo, pancadas secas nas costas com a base de uma mão”, aponta o médico.

Se os passos seguidos até ao momento não resolverem a situação, deve-se partir para a manobra de Heimlich. “Tal consiste em posicionar-se por detrás da pessoa, envolvendo-a com os braços, fechando uma das mãos e agarrando-a com a outra mão, posicionadas na região superior do abdómen, entre o umbigo e a caixa torácica, e puxando com força ambas as mãos para dentro e para cima”, esclarece o presidente da ERS.

“Tal consiste em posicionar-se por detrás da pessoa, envolvendo-a com os braços, fechando uma das mãos e agarrando-a com a outra mão, posicionadas na região superior do abdómen, entre o umbigo e a caixa torácica, e puxando com força ambas as mãos para dentro e para cima”.

O pneumologista garante que “esta manobra requer treino e pode ser repetida várias vezes, até se perceber se o conteúdo foi expelido e se a pessoa consegue respirar normalmente”. Além disso, é importante que, em todos os passos, a pessoa se incline para a frente, “para permitir mais facilmente a expulsão do conteúdo retido nas vias aéreas inferiores”. Se, ainda assim, a pessoa ainda estiver com dificuldades em respirar, “devem ser acionados mecanismos de apoio médico de emergência”, aconselha Carlos Robalo Cordeiro.

Muitas vezes há a tendência de beber água, porque se acha que isso vai ajudar. No entanto, Carlos Robalo Cordeiro explica que “o problema reside no aparelho respiratório e não no aparelho digestivo”, por isso beber água não fará diferença nenhuma.

Se for uma criança o processo para combater o engasgamento é o mesmo?

Seja um adulto ou uma criança, o médico afirma que o processo é, de um modo geral, o mesmo, com algumas adaptações em função da idade. Quando se trata de uma criança, é possível realizar a manobra de Heimlich, mas poderá ser necessário que se faça de joelhos.

“Se for uma criança com menos de dois anos, a manobra referida anteriormente deve ser substituída pela colocação da criança de bruços, deitada em cima do nosso antebraço e com a cabeça virada para baixo. Então, segurando a criança firmemente e com as costas direitas, devemos dar pancadas no meio das costas e entre os ombros, sem força excessiva, mas com impacto suficiente para que o conteúdo possa sair”, explica.

Caso não resulte, deve-se virar o bebé de barriga para cima, sob o outro antebraço, e pressionar no meio do peito do bebé com os dois dedos indicadores diversas vezes. Se a criança chorar, vomitar ou tossir, a situação foi resolvida com sucesso. Caso contrário, deve-se, então, chamar ajuda médica de emergência.