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Dermatologia

Cremes de branqueamento de pele têm riscos e podem deixar marcas definitivas

26 Mai 2022 - 09:00

Dermatologia

Cremes de branqueamento de pele têm riscos e podem deixar marcas definitivas

Um estudo realizado pelas antropólogas Chiara Pussetti e Isabel Pires, do Instituto de Ciências Sociais de Lisboa, e citado pela Agência Lusa, denuncia a venda ilegal de produtos para branqueamento de pele em Lisboa, incluindo cremes com substâncias proibidas. Estes produtos podem ser encontrados no centro da capital, em particular na zona da Avenida Almirante Reis e no Martim Moniz.

O Infarmed disse à Lusa ter conhecimento que “esses produtos existem no mercado europeu”. Uma das substâncias utilizadas nesses cremes é a hidroquinona, cuja inclusão “em produtos cosméticos é proibida” desde 2000. O regulador explica que a “única exceção permitida a sua inclusão em produtos de coloração capilar e para unhas artificiais”. O Viral falou com especialistas em dermatologia para perceber as consequências que o uso prolongado destes cremes pode ter na saúde.

Primeiro, é necessário perceber como estes cosméticos atuam: “A hidroquinona inibe a formação da melanina, o pigmento que dá cor à pele, e aclara um pouco a pele. Mas só atua enquanto for aplicada, ou seja, as pessoas para manterem o clareamento têm de continuar sistematicamente a aplicar [o creme]”, explica Margarida Gonçalo, diretora do serviço de dermatologia do Hospital Universitário de Coimbra e professora na Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra.

“Um dos riscos que pode ocorrer é haver um depósito de hidroquinona na pele e nas cartilagens que pode deixar pigmentações definitivas, que, por vezes, parece ter uma cor azulada. A esta condição chama-se ocronose. É uma pigmentação definitiva, não vamos conseguir tirar”.

A hidroquinona pode ser utilizada para fins medicinais, atuando na redução de manchas escuras que possam aparecer na pele pela acumulação de melanina. No entanto, quando aplicada em áreas extensas da pele e de forma continuada – como, por exemplo, para tornar o tom de pele mais claro – pode provocar danos definitivos na pele.

“Um dos riscos que pode ocorrer é haver um depósito de hidroquinona na pele e nas cartilagens que pode deixar pigmentações definitivas, que, por vezes, parece ter uma cor azulada. A esta condição chama-se ocronose. É uma pigmentação definitiva, não vamos conseguir tirar”, alerta a diretora do serviço de dermatologia.

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Também Alberto Mota, professor de dermatologia na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto e investigador no CINTESIS, explica ao Viral que “o abuso de certos compostos, como a hidroquinona, por exemplo, pode causar problemas paradoxais da pigmentação da pele, como ocronose”.

O investigador destaca que a “a aplicação prolongada em grandes áreas da pele de qualquer composto pode causar toxicidade por absorção dos componentes”. “Qualquer método de despigmentação, seja através da aplicação de compostos na pele ou por procedimentos como a aplicação de peelings químicos, laserterapia ou luz intensa pulsada acarreta riscos específicos que podem depender de o tipo de pele do doente ser clara ou escura, por exemplo, sendo necessária uma correta avaliação e indicação caso a caso.”

Alberto Mota alerta para “a presença ilegal de cortisona em produtos de venda livre” que pode “causar efeitos irreversíveis na pele, como a atrofia ou mesmo toxicidade endócrina se forem absorvidos pelo sangue”.

Sobre o potencial carcinogéneo da hidroquinona, Margarida Gonçalo reconhece que há “estudos em animais que podem sugerir o aumento de tumores renais”, mas ressalva que “nada está provado no ser humano”. E acrescenta: “Há estudos de indivíduos que estão cronicamente expostos à hidroquinona em situações profissionais – por exemplo no setor do plástico ou de gráficas – onde há hidroquinona em grandes quantidades e, nesses indivíduos, não está descrito nada sobre o aumento do risco de cancro cutâneo ou outro tipo de cancro.”

Há ainda outras substâncias que podem ser adicionadas aos produtos para potenciar o efeito da hidroquinona. Alberto Mota alerta para “a presença ilegal de cortisona em produtos de venda livre” que pode “causar efeitos irreversíveis na pele, como a atrofia ou mesmo toxicidade endócrina se forem absorvidos pelo sangue”. A adição de cortisona tem como objetivo potenciar o efeito da hidroquinona. Margarida Gonçalo alerta que em alguns países, onde o branqueamento da pele é uma prática comum – tal como no continente africano ou em países asiáticos –, os produtos podem também conter mercúrio, uma substância tóxica para o sistema renal, ou retinoides (derivados da vitamina A), que são teratogénicos e podem provocar malformações fetais em mulheres grávidas.

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Margarida Gonçalo destaca ainda os riscos da utilização de monobenzil éter de hidroquinona, um sal que deriva da hidroquinona e cuja utilização é proibida em Portugal. Enquanto a hidroquinona provoca uma inibição “é transitória”, ou seja, “assim que deixa de haver hidroquinona no melanócito, a tirosinase volta a funcionar normalmente”, a aplicação de monobenzil éter de hidroquinona pode “matar o melanócito completamente”, fazendo com que a “célula nunca mais seja capaz de produzir melanina”, prossegue a dermatologista.

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“É o que se pensa que poderá ter feito Michael Jackson. A monobenzil éter de hidroquinona destrói completamente os melanócitos e pode facilitar a indução de um vitiligo. Os melanócitos que foram agredidos vão ser expostos ao sistema imunitário, que vai lutar contra os restos de melanócitos mortos e depois pode lutar contra os normais, fazendo com que as pessoas fiquem com vitiligo”, conclui.

 

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26 Mai 2022 - 09:00

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