
Como gerir a ansiedade no regresso às aulas: 7 estratégias para pais e alunos
A época de regresso às aulas pode ser um desafio para a gestão emocional das famílias, sobretudo quando o novo ano letivo arranca com uma grande mudança que traz consigo o medo do desconhecido. Nesses casos, o que podem os adultos fazer para ajudar as crianças a lidarem com a ansiedade e a construírem memórias positivas?
O início de um novo ano letivo é motivo de entusiasmo e alegria para muitas crianças e jovens, mas é também uma época de grande ansiedade para algumas famílias. Mudar de escola, de turma, de ciclo de ensino ou sentir a pressão de ter boas notas são fatores que contribuem para que o regresso às aulas seja, em algumas casas, um período de grande tensão, tanto para os estudantes quanto para quem os educa.
No entanto, existem algumas técnicas para ajudar os adultos a guiarem os mais novos na gestão das suas emoções e, assim, tornarem o ambiente familiar mais harmonioso. A pensar nisso, o Viral entrevistou as psicólogas Helena Marujo e Tânia Gaspar e reuniu sete estratégias para ajudar pais e alunos a lidarem com a ansiedade.
1 – Distinguir a “ansiedade boa” da “ansiedade má”
Antes de mais, é necessário perceber que “a ansiedade não é necessariamente má”. Quem o diz é Tânia Gaspar, coordenadora da equipa portuguesa do estudo “Health Behaviour in School-aged Children” da OMS, uma investigação internacional que analisa os comportamentos e a saúde das crianças e dos jovens.
A especialista começa por esclarecer que, por um lado, “existe uma ansiedade que nos ativa, que nos faz ficar mais alerta e que estimula as nossas competências”. Por outro lado, existe também “uma ansiedade negativa que nos dificulta a vida, bloqueia-nos e faz com que não consigamos pôr em prática as nossas competências”.
Por isso, antes de agir, é fundamental perceber se o estudante está “expectante e curioso” em relação às mudanças que se avizinham ou se há sinais de uma “ansiedade negativa”. E que sinais são esses? A psicóloga dá dois exemplos: o jovem começar a queixar-se de “dores de barriga” com frequência ou insistir em “fazer perguntas que mostrem que está com medo e com dificuldades”.
2 – Seguir o lema: pais serenos, crianças tranquilas
Quando se confirma que a ansiedade da criança é negativa, os pais devem esforçar-se para acalmarem as suas próprias emoções, antes de tentarem ajudar as crianças a lidar com a situação. Para Helena Marujo, coordenadora da pós-graduação em psicologia positiva aplicada do ISCSP, “o primeiro grande passo é os próprios pais estarem serenos”.
A psicóloga defende que “ninguém aprende a gerir emoções sem ter um adulto que lhe ensine essa capacidade”. Logo, os adultos devem esforçar-se para ser “um exemplo e um modelo de uma forma serena, tranquila e leve de gerir a vida”.
“Não é possível pedir a um filho que tenha calma se nós estamos aos gritos ou pedir a um filho que consiga ver o lado positivo de uma circunstância quando nós estamos constantemente a falar daquilo que não vai correr bem”, sustenta.
3 – Ensinar a “parar para respirar”
Depois de se acalmarem, os educadores devem começar por “pedir à criança para parar e respirar”, adianta Helena Marujo. Segundo a especialista em psicologia positiva, “a respiração continua a ser um dos instrumentos mais imediatos e mais poderosos para dizer ao nosso sistema nervoso central que temos em nós a capacidade de enfrentar e lidar com aquela situação”.
Assim, fazer respirações “profundas e lentas” em conjunto com a criança é uma atitude recomendada já que esta técnica ajuda a “enviar uma mensagem ao cérebro a dizer que estamos em segurança” e “tem um efeito automático de descontração e de alguma libertação”.
4 – Dar um nome às emoções e evitar usar a palavra “calma”
Numa situação de ansiedade a palavra “calma” pode ter o efeito contrário ao pretendido, explica Marujo. A psicóloga expõe que, tal como acontece nos adultos, “quando um jovem está muito descontrolado” e ouve a palavra “calma”, sente que “não estão a validar as suas” e ficar até “mais irritado”.
Assim sendo, é fundamental “dar um nome às emoções” e validá-las. Como? Os pais podem dizer algo como “percebo que estás nervoso, que estás preocupado, que estás ansioso” e explicar que “é natural estarmos nervosos, ansiosos ou preocupados, porque essas emoções são normais nos seres humanos e são fundamentais para a sobrevivência”.
Depois, há que reenquadrar essas emoções, “ouvindo sempre a criança”. Isso, avança a especialista, significa fazer questões como as seguintes: “O que achas que podemos fazer? Como é que te posso ajudar a controlar a tua ansiedade e a mandares no teu medo?”.
5 – Ver o problema “de longe” e agir
Assim que a criança conseguir “reconhecer a emoção” é necessário “ajudá-la a perceber o que fazer com ela de maneira a que a sua resposta seja produtiva e que não aumente a ansiedade”. Nesse ponto, pode ser benéfico iniciar atividades que provoquem emoções positivas, como “cantar, dar abraços ou ouvir uma música”, porque “quando nos viramos para a ação o nosso cérebro também fica mais sossegado”. Posto isto, as famílias estão finalmente prontas para convidar as crianças a “pensarem em soluções para os problemas em conjunto”.
6 – Criar momentos de aprendizagem calmo e “sem pressões”
Nas situações em que a ansiedade dos estudantes está relacionada com a dificuldade em estudar ou em ter resultados positivos na escola, Tânia Gaspar aconselha os pais a “estarem atentos para perceber se a criança está a perceber a matéria, mas sem transformar os momentos de aprendizagem em momentos de tensão.”
“Se, na altura de fazer os trabalhos de casa, a criança chora ou os pais ralham, cria-se “um clima de stress e tensão em relação ao estudo”, avança a investigadora. Por isso, em alguns casos, pode ser benéfico pedir a alguém “neutro” (um explicador, por exemplo) para ajudar nesta tarefa.
7 – Evitar transições bruscas e mostrar que nem tudo mudou
Noutro plano, quando as preocupações dos estudantes se devem a uma mudança de turma ou de escola, Tânia Gaspar recomenda aos pais criarem um “fio de continuidade” entre a realidade anterior e a nova realidade. Para tal, pode haver um esforço, por exemplo, para “organizar atividades em que o jovem possa estar com os amigos antigos”.
O objetivo, justifica, é fazer o estudante “sentir que não há uma mudança abrupta” e que “há aspetos da sua vida que permanecem iguais: os pais, alguns amigos, a sua casa, alguns dos brinquedos, etc.”.
Por fim, Helena Marujo conclui ser crucial agir na “prevenção” destas situações de crise, ou seja, alimentar o hábito de falar abertamente sobre as emoções e sobre a forma como se pode lidar com elas para que exista uma “rotina na gestão emocional” não só no regresso às aulas, mas durante todo o ano e toda a vida.
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