Adormecer rapidamente e ter uma boa noite de sono nem sempre é uma realidade para muitas pessoas. Por isso, há quem procure online técnicas e receitas caseiras (muitas delas sem fundamento científico) para melhorar a qualidade do sono. Nesse sentido, defende-se nas redes sociais que comer pistácios antes de deitar ajuda a dormir melhor.

Segundo o que se alega várias publicações, deve-se “comer uma mão cheia de pistácios” antes de ir para a cama, porque este gesto supostamente terá o mesmo efeito de “um suplemento de melatonina“.

A alegação está a ser partilhada no Facebook, no Instagram, no Twitter e até no TikTok. Os autores dos posts defendem que o pistácio “contém uma grande quantidade de melatonina – a hormona do sono”. Por isso, escrevem, o seu consumo vai ajudar a dormir melhor. Mas esta afirmação tem fundamento?

É verdade que comer pistácios ajuda a dormir melhor?

Num esclarecimento conjunto enviado ao Viral, dois professores da Escola Superior de Tecnologia da Saúde (ESTeSC) do Instituto Poĺitécnico de Coimbra (IPC) – a nutricionista Helena Loureiro e o fisiologista Telmo Pereira – garantem que “não existe evidência científica que permita traçar uma relação causal entre o consumo de pistácios e a qualidade de sono”.

Telmo Pereira assegura que a ideia em torno dos benefícios do pistácio para uma boa noite de sono não passa de “um mito“. Segundo o fisiologista, esta ideia ganhou popularidade aquando da publicação de “um estudo pouco rigoroso realizado em 2014, que sugere a existência de melatonina no núcleo do pistácio”.

No entanto, na visão do fisiologista, as conclusões do estudo “não são consistentes” o suficiente para revelarem “essa associação”. “Há evidências em termos de benefício de um consumo equilibrado” de pistácios “em diversos aspetos, mas nada é referido quanto à qualidade do sono“, explica.

Questionada sobre se é correto dizer-se que comer “uma mão cheia” de pistácios é o equivalente a tomar um suplemento de melatonina, Helena Loureiro adianta não existir “evidência científica que viabilize essa afirmação até porque os suplementos podem ter quantidades variáveis de melatonina, o que não significa que esta seja totalmente absorvida”.

“Aliás, para se conseguir uma dose relevante de melatonina a partir do pistácio, a pessoa teria de ingerir quantidades absurdas do mesmo”, acrescenta.

A nutricionista conclui, portanto, que consumir pistácio “pode ser benéfico” quando este consumo é feito com moderação e não em “megadoses”.

Existem contraindicações para o consumo de pistácios?

“Não existe nenhuma contraindicação no consumo de pistachio a não ser que a pessoa seja alérgica”, adianta Helena Loureiro. Isto porque esta oleaginosa “contém diversos alérgenos proteicos que podem desencadear reações de hipersensibilidade”.

Por outro lado, o pistácio tem benefícios a nível nutricional. Segundo os especialistas, este alimento “é considerado uma fonte relevante de componentes biologicamente ativos que, em comparação com outros frutos oleaginosos, possui um perfil nutricional mais saudável com baixo teor de gordura, composto principalmente por ácidos gordos monoinsaturados”.

Além disso, trata-se de uma “alta fonte de proteína vegetal e fibra alimentar”, tem um “notável teor de minerais (especialmente potássio)”, e é “uma excelente fonte de vitaminas C e E”, acrescentam.

Para mais, a “composição rica em fitoquímicos, como tocoferóis, carotenóides e, principalmente, compostos fenólicos” faz do pistácio um alimento associado à “prevenção de várias patologias”.

Em suma, apesar dos benefícios nutricionais do pistácio, não há comprovação científica de que o seu consumo ajuda a dormir melhor.

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