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Colesterol

Comer ovos aumenta o colesterol? Não, mas o consumo deve ser moderado

5 Mai 2022 - 09:00

Colesterol

Comer ovos aumenta o colesterol? Não, mas o consumo deve ser moderado

Nas redes sociais, ainda se afirma atualmente que há um risco associado ao consumo excessivo de ovos. “Ovo não pode porque aumenta o colesterol”, afirma uma utilizadora do Twitter.

“Eu com o colesterol alto e comendo pão integral com ovo no café da tarde porque é mais saudável. E meio que o ovo aumenta o colesterol”, diz-se noutro tweet, partilhado no dia 25 de março.

Já há alguns anos que os ovos são vistos como um alimento com o qual deve haver algum cuidado e continua a acreditar-se que o consumo de ovos aumenta o colesterol. Afinal este alimento faz bem ou não? Podemos comer um ovo todos os dias? Há alguma relação entre o consumo deste alimento e o risco cardiovascular?

Primeiro é importante perceber quais são os benefícios nutricionais dos ovos e se são saudáveis ou não. A nutricionista Mariana Pinto, nutricionista e elemento do Laboratório de Nutrição da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa (FMUL), explica ao Viral que “o ovo é um alimento muito rico do ponto de vista nutricional, contendo proteína de alto valor biológico e compostos bioativos (como luteína e zeaxantina, que apresentam propriedades cardioprotetoras) e apenas 2,7g de gordura saturada em 100g. Alguns peptídeos da clara de ovo parecem causar vasodilatação e os fosfolípidos na gema associam-se à inibição da absorção de colesterol”.

“O ovo é um alimento muito rico do ponto de vista nutricional, contendo proteína de alto valor biológico e compostos bioativos (como luteína e zeaxantina, que apresentam propriedades cardioprotetoras) e apenas 2,7g de gordura saturada em 100g”.

Além disso, a especialista do Laboratório de Nutrição da FMUL aponta que o ovo é “um alimento amplamente disponível, acessível e cujo impacto ambiental é inferior comparativamente a outras fontes proteicas de origem animal”.

Existe um máximo de consumo recomendável de ovos diário ou semanal?

De acordo com a nutricionista, não há uma resposta única e certa para esta questão, uma vez que não há um consenso científico sobre quantos ovos se pode comer por dia. “Do ponto de vista de risco cardiovascular, desde que consumido como parte de uma dieta saudável e variada, o consumo de até um ovo por dia parece não aumentar o risco de doença cardiovascular, sendo esta a posição da American Heart Association”, aponta.

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No entanto, é de realçar que o ovo é um alimento de origem animal e que a “adoção de dietas que privilegiem um maior consumo de produtos de origem vegetal em detrimento de produtos de origem animal, tem se mostrado fulcral para uma melhor saúde”, explica Mariana Pinto. O padrão alimentar mediterrânico – qualificado como uma referência a nível mundial para a manutenção da saúde e prevenção da doença – limita o consumo de ovos a duas porções semanais, clarifica a especialista em nutrição.

“Do ponto de vista de risco cardiovascular, desde que consumido como parte de uma dieta saudável e variada, o consumo de até um ovo por dia parece não aumentar o risco de doença cardiovascular”.

Tal como qualquer outro alimento, um consumo excessivo de ovos poderá ter impacto na saúde. Mariana Pinto aponta que a chave para uma alimentação equilibrada consiste também em consumir alimentos variados, para que se consiga obter um maior leque de nutrientes.

“Além disso, existem vários fatores a contribuir para a nossa saúde além daquilo que ingerimos – desde a forma como cada pessoa reage aos alimentos até à genética e ao estilo de vida. Sendo o ovo um alimento com um teor considerável de gordura, um consumo excessivo poderá levar a ultrapassar as recomendações para este nutriente por exemplo”, alerta a nutricionista da FMUL.

É verdade que o consumo de ovos aumenta o colesterol?

A resposta da especialista é clara: os resultados obtidos em vários estudos são controversos, mas a evidência científica atual mostra que “o consumo de até um ovo por dia é seguro e não representa um aumento no risco de doença cardiovascular”.

Mariana Pinto dá exemplos de vários estudos recentes com resultados diferentes. Um deles, publicado em 2019, concluiu que “o consumo de apenas meio ovo estava associado a um aumento do risco de doença cardiovascular e de mortalidade por todas as causas”. No mesmo ano, outro trabalho chegou à conclusão que comer mais de quatro ovos por semana “não influencia a concentração sanguínea de lípidos nem lipoproteínas”.

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“O consumo de até um ovo por dia é seguro e não representa um aumento no risco de doença cardiovascular”.

Mais recentemente, em janeiro de 2020 foi publicado um estudo em que se estabeleceu que o consumo moderado de ovo, isto é, até um ovo por dia, não se associa ao aumento do risco de doença cardiovascular, “e que inclusivamente em população asiática se associava a um menor risco cardiovascular”. No mesmo mês, outra investigação, cujo objetivo era avaliar a resposta ao consumo de diferentes doses de ovo no perfil lipídico, concluiu que o “consumo superior a um ovo por dia em menos de 12 semanas pode aumentar os lípidos séricos, mas sem alterar o rácio colesterol LDL (‘mau colesterol’)/ colesterol HDL ( ‘bom colesterol’)”.

A especialista diz que as investigações mais recentes sugerem que a ingestão de gordura saturada tem um maior impacto no aumento do colesterol sanguíneo do que propriamente o colesterol da dieta. “Devido à inconsistência na evidência e à dificuldade em isolar o efeito independente do colesterol da dieta no risco de doença cardiovascular, as mais recentes guidelines da American Heart Association e da American College of Cardiology bem como as Dietary guidelines for Americans 2015-2020, não estabelecem um limite específico para o consumo de colesterol proveniente da dieta”, refere.

Porque é que se continua a acreditar que comer ovos aumenta o colesterol?

Durante décadas, diversas recomendações indicavam que se deveria limitar a ingestão de colesterol na dieta, de forma a prevenir doenças cardiovasculares. No entanto, a nutricionista da FMUL volta a referir que a evidência mais recente não conseguiu encontrar conclusões significativas sobre a associação entre consumo de colesterol na dieta e doença cardiovascular. Isto deve-se principalmente “à heterogeneidade dos estudos e falta de rigor metodológico dos mesmos”.

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Segundo a explicação da nutricionista, o colesterol, a gordura saturada e a proteína animal coexistem frequentemente nos alimentos. “A interação e independência entre o colesterol da dieta e estes nutrientes em relação às doenças cardiovasculares permanece incerta”.

No entanto, “devido ao seu alto conteúdo em colesterol (408 mg colesterol em 100g) o papel do ovo nas doenças cardiovasculares tem sido um tópico bastante estudado”, conclui.

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5 Mai 2022 - 09:00

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