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Comer laranjas piora os sintomas de gripe? 

27 Mar 2025 - 10:01
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Comer laranjas piora os sintomas de gripe? 

Nas redes sociais, diz-se que comer laranjas piora os sintomas de gripe. O autor de um vídeo publicado no Tik Tok alega que o consumo de fruta, em especial de laranjas, deve ser “especialmente evitado” nas estações mais frias, como o outono e o inverno.

Argumenta que as laranjas são “dos alimentos mais frios que existem” e que o seu consumo vai baixar “demasiado a temperatura do corpo”, o que faz com que o sistema imunitário “fique mais debilitado” e “suscetível” ao frio.

Dessa forma, diz, o frio vai “entrar no corpo” que, para se proteger, vai tentar eliminar o frio com “tosse, expetoração e nariz a pingar”. Mas será verdade mesmo assim?

É verdade que comer laranjas piora os sintomas de gripe?

Em declarações ao Viral, Filipa Pinheiro, especialista em Medicina Geral e Familiar no Trofa Saúde Braga Sul, diz que a ideia de que laranjas pioram a gripe e deixam o corpo “mais vulnerável” ao frio é uma ideia “sem fundamento científico”.

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As laranjas são frutas ácidas e, como tal, algumas pessoas podem sentir um “ligeiro desconforto” na garganta ao consumi-las. Contudo, essa acidez “não tem impacto negativo” na progressão da gripe.

Filipa Pinheiro explica que, pelo contrário, o consumo destas frutas “pode ser benéfico” em caso de gripe, porque ajuda a hidratar o organismo e “apoia o sistema imunitário” ao fornecer micronutrientes importantes, como a vitamina C.

“O que sabemos com base na evidência científica é que a vitamina C presente nas laranjas pode ajudar a reduzir a duração e a gravidade dos sintomas da gripe, especialmente em pessoas com um défice desta vitamina”, complementa.

Um estudo publicado na Cochrane Database of Systematic Reviews sugere que, embora a vitamina C não previna a gripe na população em geral, pode encurtar a sua duração e aliviar os sintomas em algumas pessoas, sobretudo em atletas de alta competição.

Consumir laranjas “pode apoiar o sistema imunitário” durante e após uma gripe. A vitamina C estimula a produção de glóbulos brancos, células “essenciais” na defesa do organismo contra infeções, de acordo com um estudo publicado na Annals of Nutrition and Metabolism sobre o papel desta vitamina.

Num artigo sobre vitamina C, de 2017, é dito que “deficiência de vitamina C” resulta em “imunidade prejudicada e maior suscetibilidade a infeções”.

Adicionalmente, a especialista em Medicina Geral e Familiar indica que as laranjas “ajudam na hidratação” devido ao seu “alto teor de água” (cerca de 86%), o que é “fundamental” durante a gripe para “compensar a perda de líquidos causada pela febre e pela produção de muco”.

Neste sentido, a médica defende que a ideia de que as laranjas são “frutas de verão” e que devem ser evitadas no inverno “é mais um mito sem qualquer base científica”.

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“Não existe qualquer evidência de que o consumo de laranjas no frio possa prejudicar a saúde. Pelo contrário, é importante manter uma alimentação variada e rica em frutas e vegetais durante os meses frios para garantir a ingestão de nutrientes essenciais, como a vitamina C, que pode apoiar o sistema imunitário”, reforça.

Além disso, a ideia de que o consumo de laranjas baixa a temperatura do corpo, deixando-o mais debilitado “não tem fundamento”. Isto porque o corpo “mantém a temperatura interna estável através de mecanismos próprios”, como a termorregulação, que não depende diretamente dos alimentos que são ingeridos.

Apesar de os citrinos serem frequentemente consumidos frescos ou refrigerados, o que pode dar uma sensação de “frescura momentânea”, a médica do Trofa Saúde Braga Sul refere que “não há qualquer impacto real” na temperatura corporal ou na vulnerabilidade ao frio.

“Independentemente da estação do ano, uma alimentação equilibrada, com frutas e vegetais variados, continua a ser a melhor estratégia para manter um sistema imunitário forte e prevenir doenças”, defende.

Além de ajudarem durante a gripe, as laranjas têm outros benefícios, refere a médica do Trofa Saúde Braga Sul: são “ricas em vitamina C”, “essencial para a absorção de ferro, ajudando a prevenir a anemia”, têm fibra, o que contribui “para o bom funcionamento intestinal”, e podem “ajudar” na saúde cardiovascular devido ao potássio, que regula a pressão arterial.

O que é uma gripe?

A gripe é uma infeção respiratória, “altamente contagiosa”, causada pelo vírus Influenza, que afeta principalmente as vias respiratórias superiores e, em alguns casos, os pulmões, explica Filipa Pinheiro.

A médica adianta que o vírus se transmite através das gotículas expelidas ao falar, tossir ou espirrar. Num texto informativo, o Serviço Nacional de Saúde (SNS) refere que pode haver transmissão por “contacto direto com partes do corpo”, por exemplo através das mãos, com “superfícies contaminadas com o vírus”, ou quando se toca nos olhos, nariz ou boca.

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No mesmo texto, o SNS diz que esta “doença infeciosa” é mais comum entre outubro e abril, ou seja, nos meses de outono e inverno. O pico costuma ser entre novembro e fevereiro.

Os principais sintomas são febre alta, dores musculares e articulares, fadiga intensa, tosse seca e persistente e dores de cabeça.

A gripe é, muitas vezes, confundida com a constipação, contudo, são doenças diferentes, com “causas e sintomas distintos”, indica a especialista contactada pelo Viral.

A especialista em Medicina Geral e Familiar explica que a gripe é causada pelo vírus Influenza e apresenta sintomas “mais intensos”. O início da gripe é “súbito” e pode durar entre uma a duas semanas e, em alguns casos, especialmente em grupos de risco, como crianças, idosos e pessoas com doenças crónicas, pode levar a complicações, como pneumonia.

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Já a constipação é causada por outros vírus, como o rinovírus, manifesta-se de “forma mais leve e gradual” e raramente causa complicações, durando entre cinco a sete dias. Por norma, refere, não provoca febre alta e os sintomas principais são nariz entupido, espirros, garganta irritada e uma tosse ligeira.

De acordo com o SNS, os sintomas de uma constipação estão, geralmente, “limitados na zona do nariz” e “não estão tão associados a complicações graves”.

Enquanto a gripe pode deixar a pessoa “incapaz de realizar as suas atividades diárias e exigir repouso absoluto”, a constipação permite que a maioria das pessoas “continue com a sua rotina normal”, exemplifica a médica contactada pelo Viral.

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