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Cirurgias à coluna são sempre desnecessárias e perigosas?

30 Ago 2024 - 09:45
falso

Cirurgias à coluna são sempre desnecessárias e perigosas?

“Não opere a sua coluna”, sugere-se num vídeo partilhado no TikTok. Segundo o autor do vídeo, os médicos recomendam estas “cirurgias desnecessárias” que fazem “com que muitas pessoas se submetam a um procedimento em que, a médio e longo prazo, terão um efeito pior ou igual ao que estava”. Mas será mesmo assim? As cirurgias à coluna são sempre desnecessárias e perigosas?

É verdade que as cirurgias à coluna são sempre desnecessárias e perigosas?

Em esclarecimentos ao Viral, Rui Duarte, diretor do Serviço de Ortopedia do Centro Hospitalar Médio Ave e professor e investigador na Universidade do Minho, rejeita a ideia de que as cirurgias à coluna são sempre desnecessárias e perigosas.

Aliás, adianta o coordenador do projeto “Olhe pelas Suas Costas”, “há, de facto, uma percentagem de doentes em que a cirurgia é absolutamente necessária” (ver também aqui, aqui e aqui).

Pessoas com certos problemas neurológicos, por exemplo, “podem necessitar de uma cirurgia e, se não forem operados, há, na verdade, um risco elevado de ficarem com uma sequela permanente”, acrescenta.

Por isso, salienta, “não podemos também dizer que ninguém precisa, até porque o não tratar também tem um risco associado”. 

Segundo Rui Duarte, há algumas situações específicas em que existem indicações claras para cirurgia de coluna: “Doentes com complicações neurológicas, associadas frequentemente a uma perda de continência dos esfíncteres (não conseguem controlar a urina ou as fezes), por exemplo, estão em situações críticas e que, muitas vezes, obrigam a uma intervenção cirúrgica urgente”, explica.

Além disso, “doentes com instabilidade da coluna”, que “sofreram uma fratura”, por exemplo, também têm muitas vezes de ser submetidos a uma cirurgia.

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Por último, existe ainda um grupo de doentes “em que o tratamento conservador falha” e que acabam por precisar de cirurgia (ver também aqui). Isto pode acontecer com doentes oncológicos, exemplifica o médico.

Nestes casos, refere-se num texto informativo do Sistema Nacional de Saúde britânico (NHS, na sigla inglesa), antes de se recomendar a cirurgia, o doente “pode ser submetido a vários exames, como uma ressonância magnética (RM), uma tomografia computorizada (TAC) ou radiografias”, para que o médico tenha “a certeza do diagnóstico”.

Apesar de a cirurgia ser indispensável em alguns casos, Rui Duarte explica que “a primeira linha de tratamento na maioria dos problemas de coluna é o tratamento conservador, ou seja, o tratamento não cirúrgico”.

Neste tipo de tratamento estão incluídas medidas “como: fisioterapia, medicação e a mudança do estilo de vida, em que se enquadra, por exemplo, o desporto”. 

A maioria dos doentes com patologia da coluna (os casos menos graves) são tratados desta forma e não precisam de ser submetidos a uma cirurgia.

Importa ainda esclarecer que, na maior parte dos casos, a cirurgia à coluna é eficaz e segura.

Contudo, o sucesso só é atingido se “a cirurgia for bem indicada” e, por outro lado, se o doente tiver os cuidados necessários após o procedimento, ou seja, na fase de recuperação.

Isto porque, hoje em dia, “as técnicas usadas são minimamente invasivas”, por isso, “a cirurgia à coluna é mais segura”.

A ideia de que as cirurgias à coluna são perigosas começou “nos anos 80 e 90 em que muitas das cirurgias eram feitas em contexto traumático, ou seja, em doentes que tinham um acidente de viação ou uma queda”, explica Rui Duarte.

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A partir desta altura começou a criar-se “a perceção de que aquele doente teve um acidente, foi operado à coluna e ficou numa cadeira de rodas”. 

Mas, na verdade, “o que provocou a lesão foi o traumatismo e não a cirurgia”, sustenta.

Para ser eficaz, a cirurgia à coluna só deve ser feita em doentes que precisam. “A evidência mostra-nos que o resultado é muito bom, mas temos de ser muito rigorosos e criteriosos na indicação cirúrgica”, realça o médico. 

Para mais, após o procedimento, tem de haver um compromisso do doente com a recuperação, ou seja, com a reabilitação através da fisioterapia. Caso contrário, “não há nenhuma cirurgia que funcione”, defende Rui Duarte.

Tem dores nas costas? Os sinais de alerta que o devem levar ao médico

A dor nas costas “é muito comum na população”, adianta Rui Duarte. Apesar de não ser necessário ir a um especialista devido a uma dor temporária, é importante não desvalorizar alguns sinais de alerta.

Se uma dor de costas (que não existia) “permanecer no tempo”, é importante “procurar ajuda”, avisa.

Em conjunto com esta dor podem surgir outros sintomas, como “uma dor de predomínio noturno, uma perda de peso” sem motivo aparente, febre” e “perda de controlo dos esfíncteres”. Nesse caso, também há motivo para ir ao médico.

Se a dor não for na lombar mas espalhar-se “ao longo do braço ou da perna” e vier associada “a um formigueiro e perda de força”, é igualmente importante “procurar ajuda especializada”.

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Sobretudo na população mais idosa, o doente deve ir ao médico se “notar uma diminuição progressiva da capacidade a andar, ou seja, se notar que a distância que percorria no passado começa a ficar mais reduzida, associado a dores nos membros inferiores, nas duas pernas”, clarifica.

Na perspetiva de Rui Duarte, “é importante uma atuação mais célere, em casos em que se verifiquem estes sinais de alerta”. Isto porque “quanto mais rápido se procurar um médico, melhor será o prognóstico”.

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30 Ago 2024 - 09:45

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