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Tabagismo

Cigarros eletrónicos para deixar de fumar? Atenção que o vício da nicotina pode manter-se

30 Mai 2022 - 09:00

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Cigarros eletrónicos para deixar de fumar? Atenção que o vício da nicotina pode manter-se

O tabaco é um dos principais problemas de saúde a nível mundial. Estima-se que 1,3 mil milhões de pessoas em todo o mundo sejam fumadores. Tratar a dependência tabágica pode ser um enorme desafio – seja com pastilhas de nicotina, adesivos ou outros tratamentos aconselhados por médicos. No entanto, começou a circular a informação de que os cigarros eletrónicos são mais eficazes para deixar de fumar do que os adesivos de nicotina. Será verdade?

Segundo a Direção-Geral de Saúde, “os cigarros eletrónicos podem ajudar algumas pessoas a deixar de fumar, mas a sua eficácia na cessação tabágica é inconclusiva”. “Alguns estudos revelam que muitas pessoas que deixaram de fumar com recurso ao cigarro eletrónico mantêm o seu consumo indefinidamente ou voltaram a consumir outros produtos do tabaco em simultâneo, não abandonado verdadeiramente o consumo de nicotina ou de tabaco”, lê-se no site.

Também a médica pneumologista Sofia Ravara, professora na Universidade da Beira Interior e coordenadora da comissão de tabagismo da Sociedade Portuguesa de Pneumologia, explica ao Viral que a utilização dos cigarros eletrónicos não trata a dependência nicotínica, ou seja, o paciente continua dependente desta droga. A especialista explica que o melhor procedimento para parar de fumar é através de uma combinação de aconselhamento médico e terapêutica farmacológica.

“Os cigarros eletrónicos não são fármacos, não são medicamentos nem dispositivos médicos, não foram originalmente desenvolvidos e testados para esse efeito. (…) Também não tratam a dependência tabágica porque as pessoas ficam viciadas e continuam a consumir nicotina”.

“Os cigarros eletrónicos não são fármacos, não são medicamentos nem dispositivos médicos, não foram originalmente desenvolvidos e testados para esse efeito. Há alguns ensaios clínicos que mostram que estes dispositivos podem ajudar os fumadores a deixar de consumir os cigarros tradicionais, mas a esmagadora maioria persiste na utilização dos cigarros eletrónicos a longo prazo, o que poderá prejudicar a saúde, de acordo com a evidência crescente de estudos científicos robustos. Também não tratam a dependência tabágica porque as pessoas ficam viciadas e continuam a consumir nicotina”, afirma, alertando que o problema permanece e é necessário depois “tratar as pessoas para deixarem os cigarros eletrónicos”.

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E acrescenta: “Por outro lado, a maioria dos fumadores que experimenta os cigarros eletrónicos na vida real, fá-lo sem supervisão médica e na maioria dos casos não consegue deixar de fumar, como é demonstrado por várias revisões sistemáticas científicas.”

A via inalada “é altamente aditiva”, uma vez que as substâncias chegam ao cérebro mais rapidamente do que por outras vias – entre sete e 10 segundos, comparando com 20 a 30 segundos se for injetado na veia.

Um paciente que fume cigarros regularmente e que, com o intuito de deixar de fumar, comece a vaporizar cigarros eletrónicos tem uma forte probabilidade de ficar viciado nestes dispositivos. Irá continuar a introduzir nicotina no seu organismo, assim como um conjunto de outras substâncias tóxicas que existem nos cigarros eletrónicos. “Diversos estudos mostram que entre 50% a 80% das pessoas que usam cigarros eletrónicos ficam dependentes”, afirma Sofia Ravara.

À semelhança dos cigarros tradicionais, também os cigarros eletrónicos são potencialmente aditivos, ao contrário de outras formas de cessação tabágica. A via inalada “é altamente aditiva”, uma vez que as substâncias chegam ao cérebro mais rapidamente do que por outras vias – entre sete e 10 segundos, comparando com 20 a 30 segundos se for injetado na veia.

“Os estudos mostram que a terapêutica combinada de adesivos e pastilhas funciona muito bem e é tão eficaz como outros medicamentos para a cessação tabágica que atuam nas vias cerebrais da dependência nicotínica, tais como a Vareniclina”.

Por outro lado, os adesivos de nicotina – que são recomendados em conjunto com as pastilhas de nicotina – permitem ao paciente fazer uma redução progressiva da dosagem, o chamado “desmame”, até ser superada por completo a adição a esta droga. Além dos adesivos e pastilhas, existem também outros fármacos que atuam diretamente nos recetores de nicotina existentes no cérebro e que, desta forma, anulam o desejo de fumar e o prazer que o indivíduo tem ao fumar. Um desses medicamentos é, por exemplo, a Vareniclina.

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“Os estudos mostram que a terapêutica combinada de adesivos e pastilhas funciona muito bem e é tão eficaz como outros medicamentos para a cessação tabágica que atuam nas vias cerebrais da dependência nicotínica, tais como a Vareniclina. O que acontece é que poderá ser mais difícil o fumador administrar a terapêutica de substituição de nicotina (adesivos e pastilhas) porque não reduz o desejo de fumar – trata a privação nicotínica, mas não atua nas vias centrais e não bloqueia a recompensa do cigarro, como os medicamentos não nicotínicos,”, esclarece.

“As pessoas que usam os medicamentos nicotínicos conseguem ficar verdadeiramente ‘nicotina free’ fazendo um desmame gradual dos adesivos e pastilhas de nicotina ao longo de três meses. Isso é que é tratar uma dependência: conseguir fazer um desmame gradual para que a pessoa deixe de consumir aquela droga.”

Além disso, Sofia Ravara destaca que ainda não se sabe muito sobre os efeitos que os cigarros eletrónicos vão ter ao nível da saúde. “Não sabemos quais são os riscos a médio longo prazo, mas a evidência é crescente de que existe um grande potencial para causar doença respiratória, cancro, doença cardiovascular e diminuição do sistema imunitário”, explica.

“As pessoas que usam os medicamentos nicotínicos conseguem ficar verdadeiramente ‘nicotina free’ fazendo um desmame gradual dos adesivos e pastilhas de nicotina ao longo de três meses. Isso é que é tratar uma dependência: conseguir fazer um desmame gradual para que a pessoa deixe de consumir aquela droga.”

Segundo dados da Organização Mundial de Saúde, mais de oito milhões de pessoas morrem anualmente devido ao tabaco, das quais sete milhões mortes resultam diretamente do consumo de cigarros e cerca de 1,2 milhões são associadas à exposição secundária. Em Portugal, morreram, em 2019, “mais de 13.500 pessoas por doenças atribuíveis ao tabaco, das quais 10.814 homens (18,6% do total de óbitos) e 2.745 mulheres (4,7% do total de óbitos)”, avança o relatório do Programa Nacional para a Prevenção e Controlo do Tabagismo em Portugal 2020.

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Se está a pensar deixar de fumar, consulte o seu médico que irá fazer uma avaliação da sua dependência e dar-lhe-á orientações para que possa atingir o seu objetivo. As consultas de apoio à cessação tabágicas no Serviço Nacional de Saúde são isentas de taxas moderados. Pode também marcar uma teleconsulta através da Clínica do Pulmão, uma clínica virtual que pertence à Fundação Portuguesa do Pulmão.

 

30 Mai 2022 - 09:00

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