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Chupar a cabeça do camarão é perigoso para a saúde?

A cabeça do camarão é, para muitos, uma das melhores partes deste petisco. No entanto, em várias publicações das redes sociais, alega-se que consumir esta parte do camarão pode ser perigoso para a saúde. Mas será mesmo assim?

26 Abr 2023 - 03:13
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Chupar a cabeça do camarão é perigoso para a saúde?

A cabeça do camarão é, para muitos, uma das melhores partes deste petisco. No entanto, em várias publicações das redes sociais, alega-se que consumir esta parte do camarão pode ser perigoso para a saúde. Mas será mesmo assim?

Na hora de comer camarão, há uma prática que se estende a todos os apreciadores: antes de se descascar este crustáceo, separa-se a cabeça do corpo.

Depois é que as águas se dividem. Enquanto uns descartam a cabeça, outros sugam o seu interior para daí extraírem ainda mais sabor. Há até quem utilize esta parte do camarão para fazer caldos e molhos.

No entanto, em várias publicações nas redes sociais, alega-se que esta prática é perigosa para a saúde porque, supostamente, a cabeça do camarão pode conter uma maior concentração de substâncias contaminantes.

Uma das substâncias referidas nos posts é o cádmio, um mineral que, quando absorvido em grandes quantidades por humanos, pode causar, por exemplo, problemas no funcionamento dos rins e acelerar a desmineralização dos ossos.

Chupar a cabeça do camarão constitui um perigo para a saúde?

As várias publicações que alertam para o risco de chupar a cabeça do camarão citam uma recomendação da Agência Espanhola para a Segurança Alimentar e Nutrição (ASEAN) publicada em abril de 2011. 

Neste documento avança-se que, segundo os dados disponíveis à época, “a ingestão de cádmio ao consumir a cabeça [dos camarões e afins] é quatro vezes a ingestão que seria obtida consumindo apenas o abdómen”.

Nesse sentido, Duarte Torres, docente na Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto (FCNAUP) e investigador no Instituto de Saúde Pública da mesma universidade, reconhece que, anatomicamente, as vísceras do camarão – os órgãos onde se acumulam potenciais contaminantes – estão localizadas na zona da cabeça, mas sublinha que todo o marisco (e qualquer alimento) vendido no espaço europeu tem de seguir as regulamentações imposta pela União Europeia

No caso dos crustáceos, a concentração máxima de cádmio não pode ultrapassar os 0,5 mg/kg.

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“Quando analisamos o camarão, analisamos como é consumido, ou seja, o corpo todo. Se não identificarmos um nível relevante de um determinado composto contaminante, significa que podemos consumi-lo inteiro, pois o risco é baixo”, prossegue o especialista, lembrando que, na alimentação, “o risco zero não existe”.

Também João Noronha, professor da área de segurança alimentar da Escola Superior Agrária de Coimbra (ESAC), sublinha que o indivíduo “teria de comer muito camarão, quase todos os dias”, até atingir uma quantidade de cádmio no organismo que causasse problemas à saúde. 

“Não comemos camarão muito frequentemente, é um prato de festa”, diz ainda o professor, sublinhando que não encontrou evidência “que sugira que [esta] seja uma questão de saúde pública”.

Alimentação entre as principais fontes de exposição ao cádmio

A Autoridade Europeia para a Segurança Alimentar (EFSA, na sigla inglesa) avança que, apesar de a alimentação ser a principal fonte de exposição ao cádmio em não fumadores, a absorção desta substância através do sistema digestivo humano é relativamente baixa. Por outro lado, uma vez no organismo, este metal pesado poderá demorar entre 10 e 30 anos a ser expelido. 

Também a Comissão Europeia avança que “exposição dietética média para adultos em toda a Europa é próxima ou ligeiramente superior à ingestão semanal tolerável”, havendo grupos em que a quantidade de ingestão de cádmio pode chegar ao dobro do recomendável – nomeadamente entre vegetarianos (devido ao maior consumo de cereais), crianças (pelo peso), fumadores ou pessoas que vivam em zonas contaminadas.

Os dois especialistas contactados pelo Viral frisam a importância de se seguir uma alimentação variada de forma a evitar a acumulação de potenciais contaminantes. 

Além do marisco, os metais pesados – nos quais se inclui o cádmio e o mercúrio – podem também ser encontrados em várias espécies de pescado, sendo mais provável estarem presentes nos animais que estejam em níveis superiores da cadeia alimentar. 

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A contaminação dos solos e das águas pode também levar os metais pesados até à mesa do consumidor.

A Agência para a Investigação sobre o Cancro da Organização das Nações Unidas classifica, desde 2012, o cádmio como uma substância “cancerígena para os humanos”. O tabaco é também uma fonte de contaminação por cádmio semelhante à exposição pela dieta.

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Em conclusão, apesar de a cabeça do camarão poder conter uma maior concentração de contaminantes, seria necessário consumir uma grande quantidade para atingir uma intoxicação por cádmio. Ainda assim, quem quiser jogar pelo seguro, pode optar por descartar a cabeça do camarão. 

Importa referir, contudo, que o marisco e todos os alimentos vendidos na União Europeia são regulados e fiscalizados.

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Alimentação

26 Abr 2023 - 03:13

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