Beber “chá de gengibre e limão” quente e sem açúcar duas vezes por dia ajuda a “desinchar a barriga”, garante-se numa série de publicações partilhadas numa conta de TikTok com mais de 70 mil seguidores. O primeiro deste conjunto de vídeos sobre a “receita (supostamente) milagrosa” reúne, à data da publicação deste texto, mais de 265 mil visualizações.

Entre as centenas de comentários encontram-se várias respostas de seguidores a assegurar terem ficado “sem calças para vestir” depois de começarem a tomar a infusão diariamente. Mas existe evidência científica sobre a eficácia deste chá na “perda de barriga”?

Os nutricionistas Helena Trigueiro e Pedro Carvalho são claros: “não há evidência nenhuma”. O especialista doutorado em Ciências do Consumo Alimentar e Nutrição acrescenta, inclusive, que a popularidade destes chás é alimentada apenas “pelos interesses comerciais de quem os vende”.

No mesmo plano, Trigueiro lembra que o gengibre é uma “planta histórica e com muito valor cultural”, mas que a maior parte dos benefícios associados a esta raiz “não são claros” à luz da ciência. Além disso, sublinha, os estudos sobre os mesmos não são suficientemente robustos, tal como indica uma “revisão sistemática de 109 ensaios clínicos controlados”. “Esta revisão mostra-nos que estes estudos não só são, muitas vezes, feitos em populações muito pequenas, como também o desenho dos estudos não é propriamente adequado”, sustenta.

O que explica os resultados anunciados no TikTok?

Questionada sobre a razão pela qual vários utilizadores do TikTok dizem sentir a diferença na “perda de barriga” depois de consumirem o chá, Helena Trigueiro aponta a hipótese de esses resultados estarem relacionados com o aumento do consumo de água.

À luz da evidência científica, adianta, “se a pessoa tiver bebido dois grandes copos de chá de gengibre com limão, é provável que o efeito na diminuição do inchaço abdominal seja mais da água que bebeu do que dos eventuais efeitos do gengibre e do limão”.

Mas porquê? Porque a água pode aumentar os movimentos intestinais, levando a que a pessoa vá mais vezes à casa de banho ao longo do dia e reduzindo, eventualmente, o inchaço.

Assim sendo, conclui, “se a infusão consumida fosse de outra planta qualquer, o efeito seria, provavelmente, o mesmo”.