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Chá de folha de figueira é “milagroso” contra diabetes e colesterol alto?

28 Fev 2023 - 08:46
falso

Chá de folha de figueira é “milagroso” contra diabetes e colesterol alto?

Em várias publicações das redes sociais alega-se que o chá de folha de figueira é um “remédio milagroso” para vários problemas de saúde.

“Estas folha são remédio milagroso contra diabetes, triglicerídeos e colesterol alto”, lê-se num destes posts.

chá de folha de figueira

Segundo o autor de uma destas publicações, a receita deste chá é simples: basta colocar folhas de figueira em água a ferver durante cinco minutos. Mas é verdade que o chá de folha de figueira tem efeitos “milagrosos” contra problemas de saúde como a diabetes?

Confirma-se que o chá de folha de figueira é eficaz contra problemas como a diabetes e o colesterol alto?

chá de folha de figueira

Em declarações ao Viral, dois endocrinologistas adiantam não existir evidência científica que sustente a tese de que o chá de folha de figueira é um “remédio milagroso” contra “diabetes, triglicerídeos e colesterol alto”.

“Quando é bom demais para ser verdade, temos de ter algum cuidado. Este é só um dos exemplos das muitas substâncias naturais que são promovidas como tendo um impacto dramático em várias doenças. A evidência científica nesse sentido é tudo menos robusta”, afirma João Sérgio Neves, endocrinologista no Centro Hospitalar Universitário de São João e docente na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto.

O especialista alerta ainda para o facto de os estudos realizados sobre o tema terem sido feitos, maioritariamente, em modelos animais e que as doses usadas não são transponíveis para a realidade do consumo deste chá em humanos.

“Mesmo que fossem doses semelhantes, não quereria dizer que a resposta em humanos fosse similar. Não podemos assumir que estes benefícios se mantenham”, realça o médico.

Num dos estudos, publicado em 1998, a amostra utilizada – ou seja, o número de pessoas que participaram – é muito reduzida. Neste caso foram testados apenas 10 indivíduos com diabetes tipo 1. É um dos fatores que torna este estudo muito pouco robusto.

Os resultados apontam para “benefícios que são relativamente modestos” e “utilizam formas de medir os valores de diabetes no estudo que já não as formas como atualmente nós valorizamos”, alerta João Sérgio Neves.

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Para Luís Gardete Correia, endocrinologista da Associação Protetora dos Diabéticos de Portugal (APDP) e presidente da Fundação Ernesto Roma, o consumo deste chá traz “benefícios marginais”, que “não têm capacidade de serem usados como medicamento”.

O chá de folha de figueira não substitui os tratamentos adequados

chá de folha de figueira
Few figs in a bowl and on the fig leaves

Apesar de não haver nenhum risco comprovado associado ao consumo do chá de folha de figueira quando bebido com moderação, esta bebida não deve ser vista como um tratamento para a diabetes, para o colesterol elevado ou para os triglicerídeos elevados.

“Nunca deve ser feito no sentido de tratar ou melhorar qualquer uma destas condições”, adverte João Sérgio Neves.

Tampouco é um substituto dos cuidados com a alimentação, da prática de exercício físico ou do tratamento farmacológico que algumas destas situações exigem.

Importa sublinhar que substituir os tratamentos recomendados e prescritos pelos médicos e outros profissionais de saúde por este género de terapêuticas pode trazer complicações. Assim, quem os quiser experimentar deve consultar sempre o médico e perceber se há riscos associados.

Isto porque alguns chás podem interagir com medicamentos e alterar o seu modo de funcionamento.

Além disso, estas são doenças complexas, multifatoriais e que exigem sempre uma abordagem com acompanhamento profissional.

A diabetes, em particular, é uma doença que tem risco de complicações cardíacas, renais, de amputação do pé e de complicações da visão, especialmente a nível da retina.

Portanto, “temos de garantir que as pessoas controlam bem a diabetes desde cedo e que não optam por terapêuticas não comprovadas em alternativa às terapêuticas que nós sabemos que são eficazes e que são seguras”, realça João Sérgio Neves.

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Qual é o tratamento atual para a diabetes?

chá de folha de figueira

A base do tratamento da diabetes tem quatro pilares fundamentais: tratamentos farmacológicos; intervenções a nível nutricional; medidas de atividade física e monitorização da glicemia – que é o nível de açúcar no sangue.

João Sérgio Neves deixa claro: “Todas as pessoas com diagnóstico de diabetes têm indicação para fazer algum tratamento farmacológico.”

Esta não é uma doença que possa ser tratada numa primeira fase apenas com mudança alimentar.

Aquilo que se recomenda para o tratamento da diabetes – tanto para a diabetes tipo 1 como para a diabetes tipo 2 – é uma dieta variada que seja rica em legumes e que englobe também a fruta. Contudo, há que ter em atenção que a fruta tem açúcares e deve ser consumida com moderação.

A dieta deve ainda conter fontes de proteína variadas de origem animal – quer o peixe quer a carne, preferencialmente as carnes brancas – ou de origem vegetal.

Deve incluir também hidratos de carbono, evitando os hidratos de carbono simples – com açúcares adicionados, como as bolachas e os bolos – e preferindo os mais complexos, presentes em alimentos como o arroz, a batata, o pão e a massa.

Qualquer um destes alimentos vai ter impacto nos valores da glicemia. Por isso, na maior parte dos casos, devem ser consumidos com moderação.

Um dos tipos de padrões alimentares que tem benefício nas pessoas com diabetes é a dieta mediterrânica. É uma dieta bem conhecida dos portugueses, em que o azeite tem um papel importante, tal como a utilização de produtos locais e de produtos naturais em alternativa a produtos ultraprocessados.

Quanto ao exercício físico, o ideal é praticar-se uma atividade moderada a intensa pelo menos 150 minutos por semana, de preferência distribuídos ao longo da semana.

Além disso, deve-se evitar o sedentarismo, ou seja, estar longos períodos sentado ou parado. Recomenda-se que a cada 30 a 60 minutos a pessoa se levante e ande um pouco durante três a cinco minutos no mínimo.

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Já a monitorização da glicemia pode ser feita de várias formas, mediante o tipo de diabetes e consoante as necessidades de cada caso. Pode ser feita com recurso a análises regulares a cada três a seis meses; com picada no dedo para medição do valor várias vezes ao longo dia ou utilizando dispositivos que são monitores contínuos da glicose.

Quais os tratamentos para triglicerídeos elevados e colesterol alto?

chá de folha de figueira

Nestes casos o tratamento adotado vai depender do nível de risco da pessoa. Se na diabetes é essencial haver um tratamento farmacológico, no caso da hipercolesterolemia e na hipertrigliceridemia nem sempre é assim. A avaliação é feita caso a caso.

Se for uma pessoa que tem um risco de doenças cardiovasculares baixo, a primeira intervenção para controlar quer o colesterol elevado quer os triglicerídeos elevados pode ser uma intervenção no estilo de vida.

Para muitas pessoas é suficiente fazer escolhas alimentares ajustadas às necessidades consoante o tipo de alteração apresentada, aliando a isso um aumento da atividade física.

Por outro lado, em alguns casos são pessoas que apresentam um risco muito alto. Por exemplo, alguém que já teve um enfarte do miocárdio ou que já teve um acidente vascular cerebral (AVC).

Desde logo, é necessário prevenir o aumento, especialmente do colesterol, que vai ter um impacto maior no risco de voltar a acontecer um AVC ou um enfarte do miocárdio.

Portanto, muitas vezes essas pessoas precisam de ter, desde o início, uma intervenção na parte alimentar e de atividade física, mas também começar desde logo a medicação para reduzir o risco de voltarem a ter um destes eventos.

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