

Chá de casca de romã cura feridas no útero?
Em vídeos partilhados no TikTok alega-se que o chá de casca de romã “é bom para vários problemas de saúde”. Um dos supostos benefícios destacados é a suposta capacidade que esta bebida terá de curar feridas no útero devido às suas “propriedades anti-inflamatórias”. Mas será mesmo assim? O chá de casca de romã tem a capacidade de curar feridas no útero?
É verdade que beber chá de casca de romã cura feridas no útero?
Em declarações ao Viral, Fernando Cirurgião, diretor do serviço de ginecologia e obstetrícia do Hospital de São Francisco Xavier, adianta que não existe evidência científica que comprove que o chá de casca de romã cura feridas no útero.
O médico admite que alguns estudos sugerem que a romã e o extrato da sua casca têm propriedades anti-inflamatórias e antioxidantes (ver aqui, aqui, aqui, aqui e aqui). Contudo, salienta, “isso também acontece com outros extratos de uma série de substâncias”.
Além disso, importa sublinhar que a maior parte dos estudos foi feita com extratos da casca de romã e não com o chá da casca de romã. Assim sendo, não se pode afirmar com total certeza que o chá da casca de romã tenha os mesmos benefícios ou propriedades terapêuticas atribuídas aos extratos utilizados nos estudos.
Em relação à romã (ou à sua casca), não se pode, de facto, afirmar que esta fruta trata qualquer condição, nem que melhora, por si só, a saúde do útero.
Fernando Cirurgião explica que, “hoje em dia, já não se utiliza o termo ‘ferida no útero’”, mas, à partida, quando se fala de “lesões no colo do útero” estão em causa “problemas sérios”, que nunca iriam ser tratados com um chá ou uma infusão.
Em contexto de lesões do colo do útero, “não há coisas benignas, ou se trata de algo sério, ou é algo trivial que não lança qualquer preocupação”, realça o médico.
Por norma, segundo o especialista, fala-se de lesões no colo do útero no contexto de uma infeção pelo vírus do HPV (vírus do papiloma humano).
Por isso, dizer “que uma infusão ou um chá da casca de romã pode tratar feridas do colo do útero é como dizer que é possível tratar lesões provocadas por esse vírus” com esta infusão, defende Fernando Cirurgião.
Na perspetiva do médico, este tipo de alegação é perigoso, porque pode levar à desvalorização de tratamentos médicos eficazes para um problema grave. “Estas lesões do colo do útero, se não forem tratadas atempadamente, podem evoluir para cancro do colo do útero”, avisa.
Tal como se pode ler num texto informativo do balcão digital do Serviço Nacional de Saúde (SNS 24), “não se conhecem ainda medicamentos que eliminem o vírus do HPV do organismo, mas, na maioria das vezes, o próprio sistema imunitário consegue eliminar o vírus”.
Regra geral, “o tratamento incide nas lesões (verrugas) provocadas pela infeção por vírus do papiloma humano, de acordo com a orientação médica”, esclarece-se no mesmo texto.
Os tratamentos podem incluir: “medicamentos de aplicação local (tópica)”, “eletrocirurgia laser”, “crioterapia” e “excisão cirúrgica”.
O único produto, no âmbito das alternativas naturais, que mostrou resultados promissores enquanto complemento no contexto de lesões do colo do útero foi “o extrato de um cogumelo chamado coriolus versicolor”, refere Fernando Cirurgião.
“Existem estudos e algumas provas científicas a sugerir que os extratos destes cogumelos” têm “propriedades anti-inflamatórias e, possivelmente, propriedades benéficas para as células conseguirem recuperar com maior facilidade”, esclarece.
Isto significa que este produto poderá ser utilizado como “complemento” para “erradicar a presença do vírus”, ou seja, para prevenir uma possível infeção que pode causar lesões. Ainda assim, salienta, “não trata uma lesão causada pelo vírus” (ver aqui, aqui e aqui).

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