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Calçar sapatos em segunda mão? Especialistas alertam para potenciais riscos

O mercado de compra e venda de roupa e calçado em segunda mão está em crescimento por promover uma utilização mais longa dos artigos e mitigar os impactos ambientais e sociais da indústria da moda. No entanto, no caso dos sapatos usados, os benefícios para o planeta podem nem sempre compensar os efeitos negativos na saúde dos pés e da coluna vertebral.

14 Set 2022 - 09:50

Calçar sapatos em segunda mão? Especialistas alertam para potenciais riscos

O mercado de compra e venda de roupa e calçado em segunda mão está em crescimento por promover uma utilização mais longa dos artigos e mitigar os impactos ambientais e sociais da indústria da moda. No entanto, no caso dos sapatos usados, os benefícios para o planeta podem nem sempre compensar os efeitos negativos na saúde dos pés e da coluna vertebral.

É um conselho que vem das gerações mais antigas: não se deve calçar sapatos de outras pessoas porque esse gesto pode provocar deformações nos pés. Apesar de muitas vezes a sabedoria popular ser a origem de vários mitos sobre saúde, neste caso a recomendação dos mais velhos tem algum fundamento científico.

Contactado pelo Viral, o presidente da Associação Portuguesa de Podologia (APP), Manuel Azevedo Portela, começa por explicar que os sapatos se adaptam ao formato do pé de quem os usa, bem como à postura de apoio do pé no chão ou à forma de caminhar. Isso significa que, se existir uma patologia do pé ou uma alteração da forma de caminhar, “o calçado pode, com o uso, sofrer algum tipo de deformações ou desgaste”.

No mesmo sentido, o médico especialista em ortopedia e medicina desportiva Henrique Jones acrescenta que esta adaptação dos sapatos aos pés torna o seu uso “mais confortável” com o passar do tempo. Por essa razão, o especialista desaconselha o uso de calçado de outra pessoa, ressalvando que essa utilização “só se justifica por motivos sentimentais ou, infelizmente, económicos”.

Calçado demasiado apertado ou demasiado largo é responsável por lesões (Henrique Jones)

O ortopedista lembra que “duas pessoas podem calçar o mesmo número, mas terem o pé completamente diferente: mais largo, mais plano, mais cavado, com joanetes, com calosidades, etc.”. Assim sendo, esclarece, usar regularmente um sapato com deformações que não estão ajustadas aos pés do indivíduo poderá causar dano tanto nos pés como na anca ou até na coluna vertebral.

“Calçado demasiado apertado ou demasiado largo é responsável por lesões dermatológicas de pressão ou fricção, com formação de vesículas dolorosas e que poderão ser complicadas por infeções locais. Do ponto de vista osteoarticular (relativo a ossos e articulações), o calçado apertado e afilado pode contribuir para alterações ósseas articulares e deformações como hallux valgus [vulgarmente conhecidos como joanetes]”, sustenta.

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Crianças e desportistas devem ter especial cuidado

Estes riscos são ainda mais significativos no caso das crianças, cujos pés estão ainda “em crescimento e em formação”. Logo, “se houver uma enformação provocada pelo calçado, o pé pode deformar-se em função do sapato.” 

Já no caso do calçado desportivo, é necessário estar atento ao desgaste das sapatilhas em segunda mão. Além das possíveis deformações, importa perceber se o calçado está em boas condições para evitar lesões. 

Nos desportos que implicam corrida, adianta Azevedo Portela, é necessário que as sapatilhas tenham uma sola capaz de absorver o impacto das passadas. Porquê? Porque “os pés e o calçado absorvem o impacto do nosso peso e da carga que fazemos durante a corrida”. Assim, se as sapatilhas não estiverem em condições, esse peso irá ser suportado pela articulação da coxa, do joelho e do tornozelo, podendo causar lesões, alerta o especialista.

Para um atleta de competição, acrescenta Henrique Jones, o calçado deverá ser utilizado até percorrer os 400 quilómetros de uso. Já “no caso do calçado do dia a dia, a recomendação é usar entre oito e dez meses”.

Como escolher calçado em segunda mão sem prejudicar a saúde

Ainda assim, para quem não quer abdicar da compra de calçado em segunda mão, o presidente da APP recomenda que se “verifique se o calçado tem uma forma regular, se não tem nenhum desgaste anormal, se a sola não está mais desgastada de um lado ou do outro, se o contraforte (reforço colocado na região do calcanhar) não tem nenhuma inclinação para a parte interna ou externa, se na zona da biqueira não existe desgaste ou curvatura acentuada para a parte interna.”

Se o calçado tiver sido “usado por alguém que não tenha nenhum tipo de deformação no pé, não existe nenhuma razão para não lhe dar uma vida mais longa”, acrescenta o podologista.

Ambos os especialistas destacam ainda a importância de higienizar o calçado antes de o utilizar, para evitar a propagação de bactérias e fungos causadoras de doenças, como o pé de atleta.

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Em suma, é verdade que usar sapatos que já pertenceram a outra pessoa pode ter efeitos negativos na saúde e provocar problemas nos pés, na anca e na coluna vertebral. No entanto, os especialistas contactados pelo Viral adiantam que, se o sapato em segunda mão não tiver deformações ou sinais de desgaste anormais, podem ganhar um novo dono.

Categorias:

Ortopedia

14 Set 2022 - 09:50

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