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Suplementos de café verde aceleram queima de gordura?

A venda de café verde em cápsulas é promovida nas redes sociais em páginas de venda de produtos de emagrecimento. Nas publicações alega-se que estes suplementos têm efeito “comprovado e eficaz” na queima de gordura e, consequentemente, na redução de peso. O que diz a ciência?

11 Dez 2022 - 11:11

Suplementos de café verde aceleram queima de gordura?

A venda de café verde em cápsulas é promovida nas redes sociais em páginas de venda de produtos de emagrecimento. Nas publicações alega-se que estes suplementos têm efeito “comprovado e eficaz” na queima de gordura e, consequentemente, na redução de peso. O que diz a ciência?

Várias páginas de venda de produtos de emagrecimento têm promovido, nas redes sociais, os suplementos de café verde como uma solução eficaz para acelerar a queima de gordura. O autor de uma destas publicações identificadas pelo Viral garante que o café verde é “um dos produtos mais usados para queima de gordura” com resultado “comprovado e eficaz”. Mas será mesmo assim?

Café verde em suplemento acelera a queima de gordura?

café verde queima de gordura

Os produtos com supostos resultados “milagrosos” na perda de peso e emagrecimento são comuns nas redes sociais. José Camolas, vice-presidente da Ordem dos Nutricionistas e professor na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa e no Instituto Egas Moniz, recorre a um provérbio popular para classificar este tipo de publicações: “Quando a esmola é muita, o pobre desconfia”. 

Em declarações ao Viral, o especialista adianta que a suplementação à base de café verde “não é, de todo, a solução milagrosa que apregoa ser” e aconselha os consumidores a “desconfiarem de qualquer alimento ou suplemento que apregoa ser milagroso e bom para tudo”.

O que é o café verde? E o que diz a ciência sobre este produto?

café verde queima de gordura

O café verde resulta de um processamento diferente dos grãos de café. Antes de passarem pela torrefação, estes grãos ficam armazenados em recipientes fechados durante algum tempo, resultando num produto com mais antioxidantes e maior teor de cafeína. Um dos componentes ativos que existe no café verde é o ácido clorogénico.

Existem poucos estudos sobre os impactos dos extratos de café verde no metabolismo humano, e os que existem têm baixa qualidade aos olhos da ciência. Apesar de existir “alguma evidência que o extrato do café verde poderá ter efeitos potenciais ao nível do metabolismo”, explica José Camolas, “não há evidência de que esse impacto seja clinicamente relevante”, ou seja, “que se traduza num benefício para as pessoas, principalmente as que têm obesidade.”

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Numa revisão sistemática, publicada em junho de 2020, foram analisados 15 ensaios clínicos que incluíram 897 participantes. Os investigadores concluíram que a suplementação de extratos de café verde tem benefícios “na redução de peso corporal, IMC e na circunferência da cintura” – concretamente 1,26kg de peso corporal e 0,48kg/m2 de IMC –, mas “não tem efeito significativo na percentagem de gordura corporal e no rácio cintura-anca”. 

Contudo, estas conclusões foram questionadas por um investigador da Universidade de Sidney, na Austrália. Nicholas R. Fuller assinalou que a “diferença média ponderada entre os grupos de intervenção e controlo” não é “clinicamente significativa” e que “o verdadeiro problema em questão é ignorado”. Além disso, o investigador criticou o facto de os estudos analisados serem “de muito curta duração (variando entre uma e 12 semanas)”.

Também José Camolas considera que os valores referidos pelos investigadores são muito reduzidos e que não apresentam uma relação custo/eficácia para o paciente. “É muito questionável se o dinheiro que as pessoas gastam nestes produtos se traduz num resultado clínico significativo”, alerta o nutricionista.

“O grande risco com estes suplementos é que os estudos são, infelizmente, pouco robustos e fiáveis. Mesmo que assumíssemos os estudos como válidos, os resultados são muito ténues e pouco expressivos”, prossegue o especialista, sublinhando a “agravante” de os estudos serem feitos “com os extratos” e não com “a totalidade do grão”.

Além disso, os estudos científicos analisam o extrato de café verde, ou seja, os princípios ativos que existem neste alimento. Não são analisados todos os componentes dos grãos, nem as fórmulas utilizadas nos diversos suplementos disponíveis no mercado. 

Estes suplementos incluem, muitos vezes, outros componentes que podem provocar efeitos secundários. Também a quantidade de princípio ativo existente nos suplementos inferior à utilizada nos estudos, o que não será suficiente para replicar os efeitos identificados – que, no caso do café verde, são já reduzidos.

A utilização de suplementos sem indicação ou supervisão médica é também um problema identificado pelo vice-presidente da Ordem dos Nutricionistas. “Do ponto de vista teórico, os suplementos alimentares podem ter eficácia ou não. Se têm eficácia, têm exatamente os mesmos riscos que um medicamento”, avisa José Camolas. 

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Por isso, conclui, “se não se deve tomar um medicamento de ânimo leve, também não se deve tomar um suplemento de ânimo leve, porque pode ter risco para a saúde.”

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Alimentação

11 Dez 2022 - 11:11

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