Beber chá verde ajuda a curar o cancro?
Nas redes sociais sugere-se que o chá verde é “um aliado contra o cancro” e até há quem apelide esta bebida de “chá anti-cancro”. Num dos vídeos partilhados no TikTok atribui-se a suposta ação do chá verde na prevenção e na cura do cancro à substância “epigalocatequina-3-galato (EGCG), um polifenol com comprovada ação bioquímica contra a o cancro”, refere o autor do post. Mas existe evidência científica que comprove que o chá verde ajuda a curar o cancro?
É verdade que o chá verde ajuda a curar o cancro?
Não, não há evidência científica que comprove que o chá verde ajuda a curar o cancro. Aliás, tal como se salienta num texto informativo publicado no site do Cancer Research UK, “há muito pouca investigação sobre se o chá verde ou o extrato de chá verde podem ajudar a tratar o cancro”.
Num texto publicado no site do Cancer Council, explica-se que “o chá verde é feito a partir das folhas secas da planta Camellia sinensis e contém substâncias químicas conhecidas como polifenóis”.
Segundo o Cancer Research UK, “a substância do chá verde que os investigadores consideram ser mais útil” chama-se “epigalocatequina-3-galato (EGCG)”.
De facto, alguns estudos laboratoriais sugeriram que os polifenóis do chá “podem impedir o crescimento das células cancerígenas”, mas “os estudos em humanos apresentam resultados variáveis”, esclarece-se no texto do Cancer Council.
De modo geral, concluem as duas organizações, os estudos sobre o efeito do chá verde na prevenção e na cura do cancro são inconclusivos e são necessários mais ensaios clínicos de grande escala.
No mesmo sentido, uma revisão de 2020 da Cochrane, uma organização de investigação prestigiada, que pretendeu estudar o efeito do chá verde na prevenção do cancro, refere-se que “os resultados dos estudos epidemiológicos experimentais e não experimentais foram inconsistentes”.
Assim, conclui-se que são “necessários ensaios clínicos randomizados bem conduzidos e com a potência adequada para tirar conclusões sobre os possíveis efeitos benéficos do consumo de chá verde no risco de cancro”.
Tal como já tinha esclarecido a médica e nutricionista em oncologia Paula Ravasco, em declarações anteriores ao Viral, “não há planta consumida em forma de chá, extrato, elixir ou qualquer outra forma que consiga ter capacidade de eliminar células neoplásicas num ser humano”.
O cancro é uma “doença difícil, agressiva e complexa”, provocada por “múltiplos fatores e cujo tratamento inclui múltiplas intervenções”, salientava.
No tratamento do cancro, “são usadas diferentes tipos de terapêuticas”, que incluem a “terapêutica local” (como cirurgia e radioterapia) e a “terapêutica sistémica” (como quimioterapia, imunoterapia e terapêutica-alvo), informa-se num guia explicativo publicado no balcão digital do Serviço Nacional de Saúde (SNS 24).
A escolha do tratamento é “feita caso a caso” e vai depender do tipo de tumor, do tamanho, da localização, da idade, do estado de saúde e se há metástases.
Apesar de não ter efeitos curativos, a alimentação é muito importante durante o tratamento oncológico. A oncologista Ana João Pissarra já tinha explicado ao Viral, em esclarecimentos anteriores, que uma alimentação equilibrada ajuda o doente “a manter o organismo mais saudável” e a “conseguir tolerar melhor os tratamentos”.
Além disso, uma boa alimentação “também ajuda a minimizar os efeitos secundários dos tratamentos, como as náuseas, os vómitos e as diarreias”, acrescentava.
Cuidados a ter na ingestão de chá verde
De acordo com a informação transmitida pelo Cancer Council, “beber chá verde em quantidades moderadas não está associado a quaisquer efeitos nocivos significativos”.
Contudo, importa salientar que alguma evidência sugere que beber chá verde (e outras bebidas) muito quente pode contribuir para o desenvolvimento de cancro do esófago (ver aqui e aqui).
Num artigo de revisão de 2020 do European Journal of Clinical Nutrition também são “levantadas preocupações quanto à hepatotoxicidade [efeito tóxico no fígado] como consequência de doses elevadas de chá verde”.
Para mais, no texto do Cancer Research UK alerta-se para a “possível interação entre o chá verde e o medicamento bortezomib (Velcade)”.
Apesar de ser necessária mais investigação, existe alguma evidência que sugere que o chá verde pode estar a comprometer a eficácia deste medicamento (que pode ser utilizado no tratamento do cancro).
Este artigo foi desenvolvido no âmbito do European Media and Information Fund, uma iniciativa da Fundação Calouste Gulbenkian e do European University Institute.
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