

Não se deve beber chá de boldo durante a gravidez?
Nas redes sociais, descreve-se o chá de boldo como “extremamente perigoso” durante a gravidez. Num vídeo publicado no TikTok alega-se que este chá nunca deve ser tomado por grávidas, porque é “abortivo”.
Esta ideia é também partilhada num post de Facebook em que se sugere que o chá de boldo pode “causar contrações uterinas e outras complicações”. Mas é verdade que não se deve beber chá de boldo durante a gravidez?
É desaconselhado beber chá de boldo durante a gravidez?
Sim, beber chá de boldo é desaconselhado durante a gravidez. Em esclarecimentos ao Viral, o diretor do serviço de ginecologia e obstetrícia do Hospital de São Francisco Xavier, Fernando Cirurgião, e a nutricionista Catarina Paixão adiantam que é recomendado que as grávidas e lactantes evitem este tipo de chá.
De facto, “o boldo é uma planta conhecida pelas suas potenciais propriedades benéficas na saúde digestiva”, aponta Fernando Cirurgião.
No entanto, os poucos estudos que existem sobre o boldo e o chá de boldo (ver aqui, aqui, aqui e aqui) indicam que há a possibilidade de esta bebida ser prejudicial durante a gravidez.
Segundo Catarina Paixão, este potencial efeito nefasto é atribuído “a uma substância chamada ascaridol, que pode comprometer a gravidez, pois pode induzir contrações uterinas, abortos ou malformações no feto”.
Não havendo evidência científica suficiente “que ateste a segurança deste chá, a recomendação é evitar durante os períodos de gravidez e lactação”, frisa a nutricionista.
Seguir esta recomendação é particularmente importante “durante o primeiro trimestre da gravidez”, refere Fernando Cirurgião.
Este período é um momento sensível e precoce na formação do embrião, “em que qualquer coisa que venha do exterior e interaja com o interior poderá ter um efeito negativo”, justifica o médico.
Ainda assim, do ponto de vista dos dois especialistas, se houver um consumo pontual e/ou acidental de chá de boldo, à partida, não há um risco imediato e não há motivo para uma preocupação excessiva.
No entanto, “é sempre melhor jogar pelo seguro e consultar o profissional de saúde que acompanha a grávida”, defende Catarina Paixão.
Quais os cuidados a ter na ingestão de chás durante a gravidez?
Catarina Paixão esclarece que “o facto de não termos estudos suficientes que comprovem os efeitos negativos da ingestão de chás ou infusões na gravidez não prova que estes são seguros”.
Assim, num momento especialmente vulnerável como a gravidez, é melhor evitar os chás ou infusões que levantam a mínima suspeita em relação à sua segurança.
Existem alguns chás cuja evidência científica disponível indica que “podem ter consequências negativas para a gravidez”, aponta a nutricionista.
Por exemplo, as infusões de “funcho, tomilho ou alcaçuz” podem “aumentar a probabilidade de abortos ou partos prematuros”, salienta.
Também “os chás de agripalma ou de borragem” podem “aumentar a probabilidade de malformações congénitas”.
Existem ainda alguns chás, como o “chá verde, preto e branco” que, por conterem cafeína, devem ser evitados.
Segundo Catarina Paixão, “o consumo de cafeína na gravidez deve ser mantido em níveis mínimos”, visto que esta substância “pode provocar partos prematuros ou baixo peso ao nascer”.
Fernando Cirurgião acrescenta que a cafeína não é incompatível com a gravidez, mas o seu consumo deve ser muito bem controlado.
Por outro lado, há infusões seguras e permitidas para grávidas, quando consumidas de forma moderada. São elas: “as de frutas (como ananás, laranja, limão) e de gengibre”, informa Catarina Paixão.
Tal como esclarece Fernando Cirurgião, o chá de gengibre pode, inclusive, “ter efeitos benéficos nas náuseas e vómitos associados à gravidez nas primeiras semanas” (saiba mais sobre o efeito desta bebida na gravidez neste artigo do Viral).
Além dos cuidados a ter na escolha do tipo de chá, é essencial ter atenção no momento da compra do produto.
Do ponto de vista de Fernando Cirurgião, é preferível adquirir “produtos com alguma qualidade, em pacotes fechados, sem aromatizantes ou outro tipo de aditivos”, em vez de comprar a granel, pois a planta “pode estar contaminada por outras ervas”.
Também é importante “ler sempre o rótulo para saber se não se tratam de misturas de vários chás, que podem não ser seguros”, conclui Catarina Paixão.

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