O consumo de água alcalina é apresentado, nas redes sociais, como uma prática supostamente eficaz na prevenção do cancro. Em várias publicações partilhadas no Facebook, alega-se que a água alcalina (ou seja, com um pH superior a 7) “pode ajudar a equilibrar o pH do corpo”.

Num desses posts defende-se que “alcalinizando o pH do organismo de ácido para alcalino, estamos a prevenir o aparecimento de diversas patologias, tais como cancro”. Em artigos de vários blogues, chega-se mesmo a alegar que beber água alcalina pode curar o cancro. No entanto, estas ideias não têm fundamento científico e a sua disseminação pode pôr em risco a vida das pessoas.

Porque é que beber água alcalina não previne nem cura o cancro?

Não há evidências científicas sólidas que sustentem a ideia de que beber água alcalina previne ou cura o cancro. Esta tese foi, aliás, desmontada por várias organizações ligadas à saúde e à investigação do cancro.

A título de exemplo, num texto publicado no site do Cancer Research UK, escreve-se que, numa revisão sistemática publicada em 2016, “os investigadores descobriram que não existem provas de que uma dieta alcalina possa prevenir ou curar o cancro”.

“Os investigadores afirmaram também que uma dieta alcalina pode alterar o pH da urina para um valor mais alcalino, mas não o do corpo inteiro. O organismo regula o pH do sangue através de vários processos internos. A alimentação não o afeta”, lê-se no mesmo texto informativo.

No mesmo sentido, num ebook do Laboratório de Nutrição Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa (FMUL), esclarece-se que, “apesar do marketing que tem sido feito a esta dieta pressupor uma subida no pH do sangue, aquilo que se sabe hoje é que a adoção de uma dieta alcalina apenas provocará um acréscimo ligeiro no valor de pH (0,014 unidades)”.

Segundo a informação divulgada nesse manual, “onde o aumento de pH parece ser maior em resposta a uma dieta alcalina é na urina (1,02 unidades)”.

O investigador João Vasques refere no ebook da FMUL que “os efeitos da água e dieta alcalina nesta doença são uma incógnita dada a escassez de estudos existentes na temática, parecendo mesmo que a comunidade científica não tem acompanhado o interesse que tem sido demonstrado por parte do público em geral”.

Assim, acrescenta, “é neste momento impossível fazer qualquer recomendação a favor ou contra esta dieta no que concerne à prevenção ou tratamento da doença oncológica”.

Importa sublinhar que, tal como o oncologista Diogo Alpuim Costa referiu anteriormente em declarações ao Viral, um dos perigos da promoção deste tipo de tratamentos alternativos é o doente deixar “de cumprir com o tratamento convencional proposto, aderindo exclusivamente às terapêuticas alternativas”, o que “poderá levar a consequências graves e potencialmente irreparáveis do contexto oncológico”.