Há várias publicações nas redes sociais em que se alega que os banhos gelados trazem benefícios ao nível do sistema imunitário e no combate à depressão. Isto corresponde à verdade?

Diversos posts espalhados pela internet enumeram os benefícios dos banhos gelados. O Viral já verificou anteriormente que não existem dados suficientes que comprovem os efeitos desta prática no emagrecimento. Mas será que os banhos de gelo estimulam o sistema imunitário e ajudam a combater a depressão?

O sistema imunitário de pessoas saudáveis precisa de ajudas externas?

O sistema imunitário de pessoas saudáveis não precisa, por norma, de ajudas externas. Existe apenas uma exceção, da qual falamos mais abaixo: a vacinação.

O sistema imunitário evoluiu para ter mecanismos muito robustos e que se mantêm em pessoas saudáveis, ou seja, numa pessoa saudável o sistema imunitário já está a funcionar de uma forma muito vigorosa. Até porque um organismo que não tivesse boas defesas imunitárias rapidamente sucumbiria a infeções e seria eliminado.

Os banhos gelados estimulam o sistema imunológico?

“Não conheço dados que mostrem de uma forma robusta o benefício de pessoas saudáveis com estas intervenções como os banhos gelados”, adianta Luís Graça, imunologista que coordena o laboratório de investigação em imunologia celular no Instituto de Medicina Molecular João Lobo Antunes.

O especialista alerta ainda para o facto de que para mostrar que há uma melhoria do sistema imunitário não basta recorrer a dados baseados no aumento de alguns mediadores do sistema imunitário.

Além disso, “é difícil conseguir aumentar a capacidade do sistema imunitário numa pessoa saudável de maneira a que isso se manifeste de uma forma significativa”, realça o imunologista.

Nos casos de pessoas que têm doenças que afetam o sistema imunitário, é necessário fazer tratamentos de acordo com a doença.

A exceção à regra: a vacinação

Na proteção específica contra algumas doenças a vacinação tem um papel muito importante.

Com as vacinas consegue-se estimular uma resposta imunitária específica para um determinado microrganismo – vírus ou bactéria – de modo a que a pessoa consiga adquirir essa proteção específica contra esse vírus ou bactéria.

Além disso, para evitar que o sistema imunitário, que é muito robusto, deixe de o ser é necessário ter uma alimentação variada e um estilo de vida ativo e saudável.

Dessa forma, mantemos o nosso sistema imunitário também saudável e robusto. Além disso, devemos seguir as recomendações dadas em relação à vacinação. Por exemplo, os idosos no outono devem fazer a vacina da gripe.

Os banhos gelados ajudam no combate à depressão?

“De momento, ainda não existe nenhum estudo robusto que nos permita dizer que os banhos gelados têm eficácia comprovada no combate à depressão”, indica Jorge Loureiro, médico que trabalha no Hospital Magalhães Lemos na área da Psiquiatria.

Então porque é que há pessoas que dizem que se sentem melhor quando o fazem? Pode tratar-se eventualmente do efeito placebo, mas também não há para já estudos robustos nesse campo.

O efeito placebo acontece quando as pessoas relatam supostas melhorias ao fazerem um tratamento que, na verdade, não possui nenhuma ação contra um sintoma ou uma determinada doença. Dois exemplos de placebos são injeções de soro fisiológico e comprimidos de açúcar.

Que tratamentos é que podem ser feitos no combate à depressão?

Os tratamentos usados na Medicina, atualmente, são antidepressivos e psicoterapias. É feito um diagnóstico onde os médicos usam escalas com base em classificações.

Se for um quadro depressivo mais ligeiro, geralmente, até se pode optar por não medicar – caso o doente concorde – e sugerir, por exemplo, uma psicoterapia.

Existem várias psicoterapias que vão desde a cognitivo-comportamental à psicanálise, à psicoterapia fenomenológico-existencial e ao psicodrama.

Caso seja um quadro mais grave, nota-se um impacto maior na vida da pessoa no que diz respeito ao trabalho e às relações. Por exemplo, no humor da pessoa ou na falta de energia e/ou de motivação.

Geralmente, nesses quadros, a terapêutica farmacológica pode ter um benefício maior.

O que fazer quando se suspeita que possa ser uma depressão?

“Se alguém tiver uma suspeita de algum quadro depressivo deve recorrer primeiro ao médico de família, porque o médico de família tem formação para fazer uma triagem”, aconselha Jorge Loureiro.

Em alternativa, é possível recorrer diretamente a um psiquiatra ou a um psicólogo.

Caso seja necessária ajuda imediata pode ligar-se para o serviço telefónico do Serviço Nacional de Saúde, o SNS 24 (808 24 24 24). Depois deve selecionar-se a opção 4, de aconselhamento psicológico. O serviço está disponível todos os dias, 24 horas por dia.