PUB

Fact-Checks

Azia na gravidez é sinal de bebé cabeludo?

8 Jun 2023 - 08:00
falso

Azia na gravidez é sinal de bebé cabeludo?

São muitas as opiniões e as experiências partilhadas quando se sabe que uma mulher está grávida e há vários mitos e crenças populares relacionados com a gravidez. Por exemplo, é comum dizer-se que, se uma mulher tem azia durante a gravidez, significa que o bebé vai ser cabeludo. Mas esta ideia tem fundamento?

É verdade que azia na gravidez significa que o bebé vai nascer cabeludo?

Em declarações ao Viral, Marcela Forjaz, ginecologista e obstetra na clínica “M de Mulher” e autora dos livros “O Grande Livro da Grávida”, “Parto Feliz” e “Estas Hormonas Deixam-me Louca!”, adianta ser um mito a ideia de que a azia durante a gravidez é sinal de que o bebé vai nascer cabeludo.

“A azia é um sintoma muito comum na gravidez. Bebés com cabelo, sobretudo nos países latinos, também são comuns. No entanto, não significa que haja relação causa-efeito entre os dois factos”, esclarece Marcela Forjaz.

Cerca de 80% das grávidas têm azia e, segundo a especialista, a maior parte dos “bebés latinos (e de várias outras etnias)” têm cabelo. Por isso, é fácil relacionar as duas coisas e “passar oralmente a ideia”, criando um mito.

No entanto, refere Marcela Forjaz, há muitas ideias “sem qualquer fundamento científico” que “povoam o imaginário da grávida, que, muitas vezes, procura sinais para antecipar como será o seu bebé”.

Uma investigação de novembro de 2006, “Pregnancy folklore revisited: the case of heartburn and hair”, sugere uma possível relação entre a azia e a quantidade de cabelo dos bebés. No entanto, a amostra era de 64 grávidas, um número que a obstetra considera “muito reduzido para uma conclusão estatisticamente significativa”.

No estudo, os autores levantam a hipótese de as hormonas que causam a azia poderem causar também uma maior densidade de cabelo nos bebés. “A ser verdade, não me parece que fosse difícil demonstrar”, sugere Marcela Forjaz.

PUB

Então, por que razão costumam as grávidas ter azia?

Marcela Forjaz explica que existem, pelo menos, dois mecanismos – químicos e mecânicos  – relacionados com esta “incompetência do esfíncter esofágico”. O cabelo do bebé “não entra em nenhuma das explicações”, acrescenta.

Os mecanismos químicos relacionam-se com o efeito de “algumas hormonas causarem relaxamento de estruturas”, como intestino, bexiga, ureteres e esfíncteres.

“A hormona mais preponderante será a progesterona, responsável pela distensão do tubo gastrointestinal, com acumulação de gases, atraso no esvaziamento gástrico e refluxo gastroesofágico”, adianta a ginecologista e obstetra da M de Mulher.

A especialista esclarece que, a nível dos mecanismos mecânicos, “se uma estrutura crescer muito, ocupar cada vez mais espaço e empurrar o que já existia” – como o útero durante a gravidez -, a pressão vai sentir-se em “locais de menor resistência”.

Significa isto que a pressão intra-abdominal provocada pelo crescimento do útero faz com que o esfíncter esofágico relaxe, permitindo “que o conteúdo do estômago transborde o conteúdo através dele”. Isso causa sintomas como refluxo e azia na mulher grávida, “independentemente de haver um bebé careca ou cabeludo dentro do útero”.

A azia é uma sensação de ardor (também descrito como queimação) ou desconforto na região do peito e garganta que, por vezes, pode provocar dor e resulta da “incompetência do esfíncter esofágico inferior”.

Para contextualizar, o esófago, o “tubo” que leva os alimentos ao estômago, tem um esfíncter na parte terminal, que deve ser “capaz de contrair – fechar – para evitar que os alimentos subam”. 

É suposto que os alimentos permaneçam no estômago, onde vão ser digeridos com a ajuda de ácidos. Se “algo interferir com o mecanismo do esfíncter”, os alimentos vão “refluir de novo para o esófago”, causando dor, ardor ou um refluxo “que faz vir até à boca um sabor ácido”, acrescenta a ginecologista da M de Mulher.

PUB

Além disso, aponta, “o que causa a azia causará outros sintomas frequentes no trato gastrointestinal da grávida que se relacionam com a sua capacidade e eficácia em fazer progredir os alimentos e produtos da digestão do início até ao fim do trato digestivo”.

Nesses casos, “os sintomas mais frequentes são a obstipação, flatulência, dor abdominal, atraso nas digestões e no esvaziamento gástrico, azia e “acompanhantes” – pirose e até rouquidão (o refluxo pode atingir a laringe)”.

Como atenuar a azia na gravidez?

A azia, por norma, “piora de trimestre para trimestre”, à medida que a pressão intra-abdominal vai aumentando. Em caso de desconforto, as grávidas devem relatar ao seu médico, aponta Marcela Forjaz.

Quanto às soluções para a azia, a especialista explica que não existe algo que “feche o esfíncter”. Nesse sentido, é apenas possível atenuar o desconforto com algumas mudanças de hábitos e “neutralizar a produção de ácido que chega ao esófago” com fármacos, como antiácidos.

PUB

Em declarações ao Viral, a médica recomenda alterações nos hábitos alimentares, tanto a nível da natureza dos alimentos como dos horários das refeições. Por exemplo, gorduras, fritos, chocolate e café são alguns dos alimentos que agravam a azia. 

Além disso, a grávida “passaria melhor” se não se deitasse nas três horas seguintes a uma refeição e se evitasse atividade física com “exercícios com muito trabalho abdominal ou deitadas”.

A mulher pode ainda elevar a cabeceira da cama em cerca de 10 a 15 centímetros”, e evitar roupas apertadas, aconselha.

falso

Categorias:

Gravidez

Etiquetas:

Azia | gravidez

8 Jun 2023 - 08:00

Partilhar:

PUB