

Exposição ao ar condicionado pode causar meningite?
No TikTok, alega-se que a exposição ao ar condicionado pode causar meningite. Segundo um dos vídeos partilhados, “o ar condicionado retira a humidade do ar, o que pode ressecar as mucosas nasais e orais”. Supostamente, “esse ressecamento faz com que o corpo produza mais muco como mecanismo de defesa, o que pode levar ao acúmulo deste nos tímpanos, resultando em otite secretora”. Se esta condição não for tratada, “pode evoluir para complicações mais graves, como meningite”, acrescenta-se. Mas será mesmo assim?
É verdade que a exposição ao ar condicionado pode causar meningite?
Em declarações ao Viral, Socorro Piñeiro, coordenadora de Neurologia do Hospital Lusíadas Amadora, começa por esclarecer que a meningite não é causada pelo ar condicionado, por si só.
A médica explica que “as meningites são doenças causadas pela inflamação das meninges, as camadas que recobrem o cérebro e a medula espinhal”.
Uma meningite pode ser “não infecciosa” (quando surge em contexto de “doenças autoimunes ou linfomas”, por exemplo) ou “infecciosa” (causada por microorganismos).
Segundo um texto informativo publicado no site do balcão digital do Serviço Nacional de Saúde (SNS 24), as “meningites virais” (causadas por “vírus como os enterovírus”) são “as mais comuns” e “tendem a ser menos graves”.
Por outro lado, as meningites causadas por bactérias “são infeções graves que podem ser fatais”, lê-se no mesmo texto.
Apesar de ser muito mais raro, as meningites também podem ser causadas por “fungos” e “parasitas”, acrescenta-se.
Se a meningite não for infecciosa não há possibilidade de ser causada ou potenciada pela exposição a ar condicionado, porque não há a transmissão de um agente infeccioso, como uma bactéria ou um vírus.
Além disso, tal como refere Socorro Piñeiro, se a doença for infecciosa, o ar condicionado, por si só, não causa uma doença inflamatória das meninges. “Quando muito pode ajudar um pouco o microorganismo a movimentar-se, mas tem de estar alguma bactéria ou vírus em circulação”, explica.
Por outras palavras, o máximo que o ar condicionado pode fazer é potenciar a transmissão de um agente infeccioso que está presente num determinado ambiente. Se não houver nenhum vírus ou bactéria em circulação, não há qualquer possibilidade de uma pessoa contrair uma meningite infecciosa.
Além disso, uma pessoa pode transportar vírus ou bactérias que têm o potencial de causar uma meningite, mas não contrair a doença (ver também aqui).
“O agente infeccioso precisa de se alocar nas vias respiratórias ou nos ouvidos e ser potente o suficiente para se estender para as meninges e aí causar uma infeção”, esclarece Socorro Piñeiro.
A meningite infecciosa “é cada vez menos frequente, porque existem vacinas para os agentes mais agressivos, o que permite evitar estas situações”, sublinha a neurologista.
Aliás, as várias vacinas disponíveis contra os agentes infecciosos que causam meningite fazem parte do Programa Nacional de Vacinação (ver aqui).
Quais as possíveis complicações de uma meningite?
Prevenir e tratar adequadamente uma meningite é essencial, uma vez que uma inflamação das meninges pode causar: “lesões cerebrais ou neurológicas”; “acumulação de líquido entre o crânio e o cérebro (derrame subdural)”; “perda de audição”; “acumulação de líquido no interior do crânio que leva ao inchaço do cérebro (hidrocefalia)”; “convulsões”; e “morte”, refere-se num texto do MedlinePlus (um site de informação sobre saúde que pertence aos Institutos Nacionais da Saúde dos Estados Unidos).
A prevenção passa, sobretudo, pela vacinação e pela adoção de uma etiqueta respiratória, ou seja, “cobrir boca e o nariz com um lenço ou braço quando se espirra ou tosse” e fazer uma “lavagem regular e cuidada das mãos com água e sabão”, assinala-se no texto do SNS 24.
O tratamento vai depender da causa da meningite. Caso seja uma meningite bacteriana, por exemplo, recorre-se a antibióticos (ver aqui e aqui).
Em contexto de meningites virais, “não existe um tratamento específico”, salienta-se noutro texto do SNS 24. Neste contexto, o tratamento é “dirigido aos sintomas causados pela doença com a toma de medicamentos para alívio dos sintomas”, acrescenta-se.
