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Antidepressivos viciam e têm de ser tomados para o resto da vida?

Ficar viciado ou ter de tomar medicamentos durante toda a vida são algumas das razões para a recusa em tomar antidepressivos. É verdade que os antidepressivos viciam e têm de ser tomados para o resto da vida?

7 Out 2022 - 03:56

Antidepressivos viciam e têm de ser tomados para o resto da vida?

Ficar viciado ou ter de tomar medicamentos durante toda a vida são algumas das razões para a recusa em tomar antidepressivos. É verdade que os antidepressivos viciam e têm de ser tomados para o resto da vida?

A ideia de que os antidepressivos viciam é um dos motivos que leva muitas pessoas com depressão a recusarem o tratamento. Além disso, a má fama destes medicamentos nasce também da teoria de que os antidepressivos têm de ser tomados durante toda a vida.  Estas alegações têm fundamento?

Os antidepressivos viciam?

Os antidepressivos não causam dependência. Quem o garante ao Viral é o psiquiatra Gustavo Jesus, diretor clínico da PIN (Partners in Neuroscience) e docente na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa (FMUL).

O especialista começa por explicar que um vício (ou dependência) implica síndrome de abstinência, ou seja, há efeitos negativos quando se retira a substância e há a “vontade de se consumir outra vez, numa dose cada vez maior, o que resulta numa tolerância fisiológica”.

Ora, a administração de antidepressivos não provoca essas sequelas, embora possam surgir  “alguns efeitos transitórios”, por exemplo, nos “primeiros 15 dias após a privação do medicamento”. No entanto, assegura, esses sintomas acabam por desaparecer.

Segundo o diretor clínico da PIN, “os únicos medicamentos na psiquiatria em uso corrente atual que podem causar dependência – e verifica-se apenas numa minoria de casos e, sobretudo, se forem mal utilizados – são as benzodiazepinas que são ansiolíticos”.     

Estes medicamentos têm de ser tomados para o resto da vida?

Tudo depende do diagnóstico”, sublinha Jesus. “Se estivermos a falar da perturbação obsessivo-compulsiva, esta é uma doença que pode tornar-se crónica. Portanto, os antidepressivos podem ter que ser utilizados recorrentemente ao longo da vida, em períodos de agravamento”.

Em contrapartida, na depressão não é bem assim. Uma pequena percentagem das depressões (20 a 30%) “é resistente ao tratamento farmacológico com antidepressivos”.  Por isso, “pode tornar-se numa doença que é recorrente ou persistente no tempo”, aponta. No entanto, os outros “70% ou 80% dos doentes vai fazer o seu tratamento naquele período, vai terminá-lo e depois vai fazer a descontinuação e não vai voltar a necessitar”. 

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Ainda assim, o doente não está livre de ter “uma nova recaída”. Contudo, na visão do médico, deixar de tomar um antidepressivo com medo de ter de se tomar outra vez, é o mesmo que ter uma pneumonia hoje e também não aceitar ser medicado. “Não vou deixar de tomar um antibiótico agora porque tenho medo de tomar o antibiótico daqui a 10 anos”, exemplifica.        

Os antidepressivos só curam depressões?

Apesar de se chamarem antidepressivos, Gustavo Jesus esclarece que estes medicamentos não servem só para tratar depressões. “São usados também, por exemplo, no tratamento da depressão, das perturbações de ansiedade, da perturbação obsessivo-compulsiva e de algumas perturbações do comportamento alimentar”, conclui.

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Categorias:

Saúde mental

7 Out 2022 - 03:56

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