Quando chega o inverno, começa também a época com maior incidência de gripe. Entre dezembro a fevereiro, a curva epidemiológica costuma registar um pico. E chegam também os conselhos para não apanhar esta doença, sendo um deles o evitar andar descalço. Existirá uma relação?

Andar descalço não causa gripe. “A gripe é uma doença aguda viral que afeta principalmente as vias respiratórias. Os vírus da gripe estão em constante alteração e a imunidade provocada pela vacina não é duradoura. Por este motivo, as pessoas devem vacinar-se todos os anos”, explica a Direção Geral da Saúde (DGS). Também as constipações comuns são causadas por vírus que circulam na sociedade, havendo mais de 200 tipos de vírus que provocam esta doença.

“A gripe é uma doença aguda viral que afeta principalmente as vias respiratórias. Os vírus da gripe estão em constante alteração e a imunidade provocada pela vacina não é duradoura”.

Afirmar que andar descalço provoca gripe é um mito, mas tem na sua base uma experiência científica. Em 1878, o químico Louis Pasteur pegou em dois grupos de galinhas que expôs ao vírus do antraz. Num dos grupos colocou as patas dos animais em água gelada, no outro grupo secou as patas das galinhas com um cobertor quente depois de as molhar. Em ambos os casos, os animais desenvolveram a doença, mas as galinhas do primeiro grupo morreram, enquanto as do segundo sobreviveram. O investigador passou a acreditar que o frio era responsável pelo desenvolvimento da doença.

Com base nesta experiência, os investigadores colocaram a hipótese de existir uma relação entre o frio e a eficácia do sistema imunitário. Um estudo publicado em 2005 analisou essa hipótese: num grupo escolhido ao acaso, os participantes estiveram vários minutos com os pés dentro de um recipiente com água gelada, enquanto o grupo de controlo esteve o mesmo tempo com meias calçadas e com os pés num recipiente vazio. Neste estudo não foi analisada a componente viral dos participantes que adoeceram.

Os autores do estudo afirmam que não foram identificadas evidências que comprovam que o frio leva ao desenvolvimento de sintomas de constipações comuns – uma vez que “os sintomas reportados foram perto de zero tanto no grupo de controlo como no do frio”. No entanto, os investigadores encontraram uma possível relação entre o frio e o desenvolvimento de constipações, que atribuem à possibilidade de haver “alguma alteração nas defesas respiratórias causadas por reflexos de vasoconstrição nos vasos sanguíneos nas vias aéreas superiores”.

É também importante dizer que, de facto, a época de maior incidência da gripe coincide com o período de maior frio, mas nesse período as pessoas permanecem no interior de espaços fechados por maiores períodos de tempo, o que pode ser um fator que contribui para a propagação da doença.

A gripe é uma doença viral que pode provocar febre, dores no corpo, sensação de cansaço, tosse seca, dor de garganta, dores de cabeça, perda de apetite, diarreias e mal-estar gástrico. As principais medidas de prevenção contra a gripe são a lavagem regular das mãos com sabonete e uma boa higiene respiratória.