Água filtrada previne doenças e potencia a absorção de nutrientes?
Um filtro doméstico pode melhorar o “sabor” da água da torneira. Mas é verdade que a água filtrada previne doenças e potencia a absorção de nutrientes? Verdadeiro ou falso?
Consumir água filtrada tornou-se um hábito para muitas pessoas que não gostam do “sabor” da água da torneira. Além disso, a venda massificada de apliques para as torneiras ou de jarros com filtros permitiu que várias famílias deixassem de gastar dinheiro em água engarrafada.
Por outro lado, algumas das marcas que comercializam estes filtros alegam que a água filtrada tem outros benefícios, nomeadamente ajudar a “prevenir doenças”, aumentar “a capacidade de absorção de nutrientes” e regular “o intestino”. Mas estas alegações serão verdadeiras? O que diz a ciência sobre estes alegados benefícios?
É verdade que a água filtrada previne doenças e potencia a absorção de nutrientes?
Em declarações ao Viral, a nutricionista e investigadora da Universidade de Ulster Helena Trigueiro e a nutricionista e doutoranda na Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto (FCNAUP), Marlene Morgado garantem não haver evidência científica que comprove que a água filtrada potencie a absorção de nutrientes.
Marlene Morgado explica que “a água filtrada pode diminuir a probabilidade de doença, no que diz respeito à diminuição da contaminação por coliformes fecais ou po outros microorganismos, se a água não for adequadamente tratada”. No entanto, esclarece a nutricionista, “isso vai depender do tipo de filtro utilizado e da boa prática de utilização do mesmo”.
Já a ideia de que a água filtrada pode aumentar a capacidade de absorção de nutrientes é considerada “irreal” pela nutricionista, dado que esta capacidade “depende particularmente do indivíduo e do padrão alimentar do mesmo, e não da água que é consumida”.
Para que servem os filtros de água?
O objetivo dos filtros utilizados para este fim é “minimizar o risco de contaminação bacteriana, que provenha de fontes de água não tratadas adequadamente”, clarifica Morgado.
Esta função é sempre dependente “do tipo de filtro utilizado e da sua adequada manutenção, ou seja, da mudança de filtro”, aponta a mesma fonte.
Além disso, acrescenta Trigueiro, estes filtros são muitas vezes utilizados para melhorar ‘o sabor da água’”. Ainda assim, “se a água for segura (como é geralmente em Portugal), a filtração em casa não é algo necessário”, garante a investigadora da Universidade de Ulster.
Por outro lado, “a água filtrada poderá assim ser benéfica em Portugal, nas zonas mais rurais com menor controlo das análises de qualidade da água ou da população que utiliza essencialmente fontes de água não tratadas em ETARS”, defende Marlene Morgado.
Há riscos em consumir água filtrada?
Segundo Helena Trigueiro, à partida, a água filtrada não será um perigo. “O risco para a saúde na utilização destes filtros”, salienta Marlene Morgado, “poderá apenas estar relacionado com a utilização indevida do mesmo”.
Isto é, o filtro “pode deixar de filtrar adequadamente, tornando-se um foco até de contaminação por acumulação de microrganismos como bactérias”.
Noutro plano, é relevante lembrar que este equipamento não consegue “normalmente filtrar vírus e alguns colifagos que possam eventualmente contaminar a água não tratada”, alerta a nutricionista.
Água da torneira, filtrada ou engarrafada. Qual a melhor opção?
A investigadora da Universidade de Ulster explica que “a transição da diretiva de água potável da UE [União Europeia] para a lei nacional é executada de forma diferente em cada estado-membro, mas com requisitos semelhantes para as autoridades reguladoras nacionais responsáveis”.
Em Portugal, segundo os dados de 2021 da Pordata, 98.99% da água canalizada disponível à população é segura para consumo. Aliás, destaca Morgado, “na maior parte das habitações [portuguesas] com saneamento adequado, é segura a ingestão de água da torneira, uma vez que esta é normalmente tratada”.
Na visão de Helena Trigueiro, o “essencial é mesmo beber água, que é algo que a maioria das pessoas não faz em quantidade suficiente”.
“A água segura quando filtrada não traz benefícios adicionais de saúde como a absorção de nutrientes”, refere. Já “a água engarrafada acarreta custos económicos e ambientais muito superiores à água pública”.
Portanto, sustenta, “beber água pública é seguro, mais barato e ambientalmente mais sustentável”.
De qualquer modo, pode-se “sempre recorrer à informação disponibilizada pelos serviços municipais das análises de água, que são realizadas com alguma frequência”, aconselha Marlene Morgado.
“Em casos de utilização de fontes de água não tratada”, contrapõe, “o conselho primordial é fazer uma análise particular da água que está a ser consumida de forma regular”.
Caso a água seja identificada como não segura, deve-se “tentar utilizar alternativas, como a rede pública ou colocar filtros de água adequados ao problema identificado”, conclui.
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