Zumbido no ouvido? Conheça 5 causas comuns e como tratar o problema
Já saiu de um concerto a “ouvir” um zumbido que só desaparece no dia seguinte? Ou teve uma otite e, até a infeção estar curada, sentiu um ruído persistente no ouvido? Os zumbidos auditivos têm diversas causas, podem ser temporários ou permanentes e, em alguns casos, conseguem ser prevenidos.
Em declarações ao Viral, João Pedro Araújo, especialista em otorrinolaringologia no Hospital CUF Descobertas, esclarece o que são os zumbidos auditivos, porque surgem e como tratá-los.
Quais as possíveis causas do zumbido no ouvido?
João Pedro Araújo começa por explicar que um zumbido (conhecido como acufeno, na prática clínica) “é, por definição, um som que não tem uma origem externa”, ou seja, só a própria pessoa é que o “ouve”.
Existem dois tipos de zumbidos: os primários e os secundários. O zumbido primário, que “corresponde à grande maioria dos casos, é um ruído produzido pelo cérebro em resposta à perda de audição”, explica o otorrinolaringologista.
Já o zumbido secundário deriva de outra condição. Existem cinco possíveis causas para o surgimento deste sintoma:
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Exposição a sons muito altos
Segundo João Pedro Araújo, a exposição a ruído muito alto e de forma prolongada pode levar à perda de audição e ao consequente surgimento de um zumbido.
Por exemplo, quando uma pessoa vai a um concerto, “como as células do seu ouvido interno foram expostas a um ruído excessivamente alto, pode surgir uma lesão temporária”. Nesse período, “a pessoa sente o tal zumbido que depois, à partida, passa”, acrescenta.
O mesmo acontece com “pessoas que trabalham em ambientes ruidosos, como fábricas”, aponta.
Quanto mais vezes for repetido o dano e quanto maior for a intensidade da exposição ao ruído (sem proteção), maior a probabilidade de surgir um zumbido permanente acompanhado de uma perda de audição.
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Envelhecimento
João Pedro Araújo avança que “a maior parte dos casos de zumbido e perda auditiva é associada ao envelhecimento”.
Tal como acontece com a visão, todas as pessoas, “com a idade, vão perder um pouco da audição, umas mais do que outras consoante a genética”, esclarece.
Numa fase inicial, “a perda de audição é muito ligeira, não sendo suficientemente evidente para a pessoa sentir que está a ouvir mal, mas o suficiente para já existir um zumbido”.
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Infeções nos ouvidos
Qualquer doença “que tape o ouvido ou prejudique a audição pode provocar um zumbido temporário”, destaca o especialista.
Por isso, “se a pessoa estiver com uma otite”, por exemplo, “vai sentir o ouvido tapado e é provável que ouça um zumbido”.
Isto também pode acontecer quando o doente tem muita cera, ao ponto de “sentir o ouvido tapado”, acrescenta.
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Alguns medicamentos
Embora seja raro, “há certos medicamentos com o potencial de provocar ou agravar” este sintoma, refere João Pedro Araújo (ver também aqui e aqui).
O médico dá o exemplo da aspirina e dos “antimaláricos”. No caso dos últimos, “há um efeito transitório, ou seja, parando de tomar os antimaláricos, o ouvido da pessoa volta a funcionar normalmente”
Existem ainda outros medicamentos potencialmente tóxicos para o ouvido, como certos “antibióticos ou de quimioterapia”, mas que, por norma, não devem deixar de ser tomados, porque são necessários.
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Outras doenças
Num texto informativo, o Instituto Nacional de Surdez e outras Desordens de Comunicação dos Estados Unidos (NIDCD, na sigla inglesa) faz referência a algumas causas menos comuns dos zumbidos.
Este “pode ser um sintoma da doença de Ménière, uma patologia do ouvido interno que também pode causar problemas de equilíbrio e perda de audição”, escreve-se.
Além disso, o zumbido pode surgir no contexto de “problemas na articulação do maxilar” e de “alguns tumores da cabeça, pescoço e cérebro”.
A tensão arterial elevada, a aterosclerose ou as malformações nos vasos sanguíneos (sobretudo se estiverem no ouvido ou perto dele) “podem alterar o fluxo sanguíneo e causar zumbido”, refere-se.
Por fim, algumas doenças crónicas, como “diabetes, enxaquecas, distúrbios da tiroide, anemia, lúpus e esclerose múltipla”, também têm sido associadas ao surgimento de um zumbido.
Quando é necessário ir ao médico?
Do ponto de vista de João Pedro Araújo, apesar de na maioria dos casos não haver nenhuma doença grave associada a um zumbido, é importante ter atenção a alguns sinais de alerta.
Por um lado, “se um zumbido for unilateral [verifica-se apenas num ouvido] e, sobretudo, persistente, deve ser motivo de preocupação”.
Isto porque “normalmente as causas degenerativas, devido à exposição ao ruído ou à idade, são bilaterais”, sustenta.
Da mesma forma, se for “unilateral e pulsátil”, ou seja, se a pessoa ouvir um ruído semelhante a “um coração a bater”, pode indicar, por exemplo, “uma malformação vascular”.
Além disso, é preciso especial atenção quando se sente “um zumbido súbito associado a uma perda de audição súbita”, frisa o especialista.
Segundo o médico, “existe uma doença chamada surdez súbita, que, no fundo, é uma inflamação aguda do ouvido interno, que precisa de ser vista com alguma urgência para se conseguir tratar”.
Por outro lado, “se o zumbido estiver associado a outros sintomas como a vertigem” (sensação ilusória de instabilidade e desequilíbrio), também se recomenda uma ida ao médico.
É ainda importante recorrer a um profissional de saúde no caso de o zumbido ser “um incómodo no dia a dia da pessoa, ou seja, se estiver a perturbá-la, a deixá-la mais ansiosa, com dificuldade de concentração e com problemas a dormir”, defende João Pedro Araújo.
É possível tratar os zumbidos persistentes?
“Do ponto de vista farmacológico, não há, até hoje, nenhum medicamento que faça desaparecer um zumbido”, adianta o otorrinolaringologista.
Apesar de não se poder “garantir que o zumbido desaparece”, há medidas que podem ajudar a atenuar este sintoma.
Por norma, os doentes “acabam por se habituar ao ruído”. O zumbido não desaparece, mas acaba por ser apenas evidente “em situações de silêncio e de maior cansaço e ansiedade”, explica João Pedro Araújo.
Ainda assim, “numa pequena percentagem de pessoas, o zumbido tem impacto na qualidade de vida”.
Num tratamento de primeira linha, recomenda-se fazer o “mascaramento” do zumbido. Isto é, em situações mais críticas, aconselha-se o doente a “pôr algum som de fundo que abafe o zumbido”.
Segundo o médico, isto pode ser feito “ao ligar o rádio”, “ouvir um podcast” ou “uma música relaxante” e até através de “aplicações de telemóvel com vários tipos de sons para esse propósito”.
Em certos casos, pode ser necessário recorrer à psicoterapia cognitivo-comportamental. Segundo o especialista, o apoio de um psicólogo ou de um psiquiatra pode ajudar a pessoa “a treinar o pensamento em relação ao zumbido e a viver melhor com ele”.
Quando há uma perda de audição associada (o que é muito frequente), a utilização dos aparelhos auditivos permite “ouvir melhor todos os sons” e isso também vai fazer com que “o zumbido fique um pouco abafado”, refere.
Mesmo que o surgimento de um zumbido possa, muitas vezes, ser inevitável, é possível prevenir este sintoma e a perda de audição associada à exposição de ruído.
Caso a pessoa tenha “hábitos de exposição a ruídos”, é importante utilizar protetores de ouvido. João Pedro Araújo dá o exemplo de “um músico profissional”, “um trabalhador de uma fábrica ou uma pessoa ligada à área militar”.
Quem tem “ouvidos mais sensíveis, ou que já tem uma perda de audição ligeira”, em ambientes ruidosos, como concertos ou discotecas, deve “levar tampões e não ficar ao lado das colunas”, recomenda.