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Vinagre funciona? Como eliminar piolhos de forma eficaz e segura

10 Jun 2023 - 08:30

Vinagre funciona? Como eliminar piolhos de forma eficaz e segura

Há um recado que nenhum pai ou cuidador quer receber da creche ou da escola do filho: o papelinho a anunciar que há piolhos na turma e a alertar para a necessidade de vigiar o cabelo das crianças. Mas o mais provável é que, pelo menos uma vez na vida (na melhor das hipóteses), esse aviso lhe venha parar às mãos.

Perante este cenário, há quem corra à farmácia, disposto a comprar champôs, loções e pentes para exterminar os parasitas em três tempos. Outros preferem tratar do assunto com mezinhas caseiras, recorrendo a produtos como óleos essenciais, vinagre e sprays inseticidas. Mas quais são os métodos mais eficazes e seguros? E quais os que devem ser evitados?

Em declarações ao Viral, Alia Ramazanova, médica de clínica geral e especialista em tricologia, analisa os vários métodos um a um e aponta quais os melhores e os piores.

Champôs, géis e loções vendidos em farmácias

Os champôs, loções, géis, vendidos em farmácias com o objetivo de eliminar piolhos e lêndeas estão testados e são eficazes

Segundo Alia Ramazona, estes são “produtos neurotóxicos para os piolhos e para as lêndeas (ovos)”. 

Isto é, as substâncias neles presentes estas substâncias envolvem “esse piolho ou essa lêndea e acabam por penetrá-los”, intoxicando-os. Nesse sentido, existem também outros produtos que não deixam os piolhos e as lêndeas “respirar”, matando-os por asfixia. 

Apesar de serem tóxicos para estes insetos, “são produtos não tão tóxicos para o ser humano”, embora possam ser “irritantes para o couro cabeludo”. Daí ser frequente “ haver reações cutâneas, além da comichão”, aquando do seu uso.

Em termos de eficácia, recomenda-se primeiro a “utilização de loções e géis (em vez de champôs), que são aplicados diretamente sobre o couro cabeludo seco”. 

Isto porque o champô implica humedecer o couro cabeludo e, segundo a médica, “o facto de o piolho ou a lêndea ficarem humedecidos acaba por lhes dar alguma proteção contra os produtos tóxicos que vamos aplicar”.

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Por isso, é aconselhado que os champôs sejam utilizados depois da aplicação das loções, “para a eliminação, limpeza, e de certa forma, prevenção de uma nova infestação”. 

Além disso, é imprescindível não saltar o passo final: a remoção mecânica dos piolhos e das lêndeas, utilizando os pequenos pentes que vêm nas embalagens destas loções.

O tratamento para combater estes insetos deve ser feito, pelo menos, duas vezes, “num período de mais ou menos uma semana ou 10 dias”. Isto serve para “eliminar os ovos que possam não terem sido eliminados pelo tratamento inicial e terem eclodido” e impedir “uma reinfestação”.

Vinagre

A aplicação de vinagre em caso de pediculose é uma tática bastante utilizada para ajudar a desprender os piolhos do cabelo e a facilitar a sua remoção.

Em geral, “o que se recomenda é utilizar o vinagre diluído em água, numa percentagem de 50%”, aponta a especialista em tricologia. 

Este produto é utilizado porque “a acidez do vinagre ajuda a eliminar a substância equivalente a cola que faz com que os ovos (lêndeas) fiquem agarrados ao couro cabeludo”, justifica.

“Recomenda-se utilizar primeiro os produtos comerciais de farmácia para eliminar os piolhos”, defende. O vinagre poderá ser útil apenas para, a posteriori, “remover a tal cola que prende os ovos ao cabelo”.

Contudo, a utilização de vinagre tem riscos associados, pois, aplicá-lo “pode ser extremamente agressivo”. Como esclarece a médica, “os produtos que são vendidos nas farmácias já são estudados e, muitas vezes, contêm algumas substâncias calmantes para não haver uma irritação muito grande”. O mesmo não se pode dizer do vinagre.

Além disso, às vezes, aplica-se o vinagre diretamente no couro cabeludo, sem o dissolver em água e isso, segundo a médica, não é de todo aconselhado.

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Sprays e pós inseticidas

Para Alia Ramazanova, utilizar pós, sprays ou produtos inseticidas não específicos para piolhos e para o uso no cabelo humano “está fora de questão”. Este método “até pode matar os piolhos”, mas é muito perigoso.

“São substâncias extremamente agressivas, portanto, não são de todo recomendadas no couro cabeludo”, pois podem provocar queimaduras, avisa.

Álcool canforado

Segundo a médica de clínica geral, “o álcool canforado tem um efeito semelhante ao vinagre”, pois permite descolar os piolhos e as lêndeas do couro cabeludo, mas não tem um efeito tóxico nos insetos.

“A cânfora tem propriedades calmantes, por isso é que é muito utilizada nos produtos para tratar infestações por piolhos”, clarifica Alia Ramazanova. 

Além disso, “também tem propriedades anti-inflamatórias”. Contudo, mais uma vez, aplicar este produto no cabelo poderá acarretar os mesmos riscos que o vinagre, se não forem tidos os cuidados necessários. 

Chá de arruda

O uso de chá, nomeadamente o chá de arruda, é uma técnica recorrente na tentativa de controlar infestações de piolhos. Ainda assim, a evidência sobre a eficácia deste método não é robusta.

Alia Ramazanova refere um estudo feito no Brasil, em 1999, em que se investigou a potencialidade do chá de arruda “no tratamento das pediculoses”. Chegou-se à conclusão que, “em comparação com tratamentos mais clássicos, o chá com extrato de arruda tem apenas 11% de eficácia”.

Este tipo de tratamento, salienta a especialista em tricologia, recai sobre a aplicação do chá no cabelo e a consequente “eliminação mecânica da infestação”. O chá não tem “um efeito tóxico nos piolhos”, reforça.

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Óleos essenciais

A utilização de óleos (como lavanda, coco, citronela) para o combate a uma infestação de piolhos é muito comum. Na visão de Alia Ramazanova, os óleos essenciais não são agressivos para o couro cabeludo, “nem têm um efeito irritante”.

Agora, “se estivermos a falar de um extrato de óleo de coco”, por exemplo, “onde, de facto, há uma concentração muito maior do princípio ativo numa quantidade pequena do produto, pode haver irritação”.

Para mais, tal como vinagre, o álcool canforado e o chá de arruda, também os óleos essenciais funcionam como forma de libertar os piolhos e as lêndeas do couro cabeludo. Os insetos terão sempre de ser removidos com um pente e mortos de seguida.

Tratamentos inovadores: pente elétrico e pente aspirador

Em relação aos pentes elétricos, “ainda não existem grandes estudos” sobre a sua eficácia. De modo geral, estes aparelhos, “pela baixa corrente que emitem”, matam os piolhos por eletrocussão. Isto é, o pente dá um choque e depois removem-se os insetos de forma mecânica.

Alia Ramazanova considera importante realçar, contudo, que “a intensidade não é suficiente para causar qualquer tipo de ação sobre o corpo humano”, apenas sobre os piolhos. 

Ainda assim, estes pentes elétricos “não são recomendados em crianças muito pequenas” e só devem ser utilizados “a partir de 3/5 anos”. 

Por outro lado, surgiram também, entretanto, pentes que funcionam “como secadores e aspiradores ao mesmo tempo”, aponta a médica. 

Para utilizar este método é necessário um cuidado extra. “Tanto os piolhos como as lêndeas são bastante sensíveis a temperaturas elevadas (mais ou menos 50° C)”, refere. Assim, o calor seco libertado pelo aparelho pode matar os insetos, e a função do pente em si (pentear) ou da parte de aspiração permite removê-los de forma mecânica. 

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No entanto, “para eliminar as lêndeas”, é necessário que o cabelo já tenha crescido um pouco desde que elas já estão, porque este tratamento não pode ser feito “diretamente no couro cabeludo da pessoa, pois há risco de queimadura”, alerta.

Qual o tratamento mais eficaz e seguro?

“Os produtos que são realmente produzidos para este efeito” – como champôs, géis e loções – “são tóxicos, mas não são tão tóxicos para o ser humano, e são bastante eficazes”, frisa Alia Ramazanova. 

A forma de garantir que estes produtos não provocam consequências negativas no couro cabeludo é “cumprindo todas as indicações dos tempos de aplicação”.

Por exemplo, no caso de uma loção que deva ser mantida durante 15 minutos no couro cabeludo, o produto deve ser removido exatamente 15 minutos depois de ser aplicada. Caso contrário, aumenta “o risco de desenvolver uma irritação do couro cabeludo”.

No sentido contrário, “se não mantivermos os 15 minutos, não há tempo suficiente para ter uma ação benéfica, no sentido de eliminarmos os piolhos e os ovos”, aponta. 

Além disso, não cumprir as regras do tratamento “pode criar resistências e complicar ainda mais a eliminação” dos piolhos, acrescenta.

Tal como também se defende num texto informativo do Serviço Nacional de Saúde, “os tratamentos com produtos caseiros, geralmente, não são eficazes”.

Num primeiro plano, todas as soluções caseiras mencionadas não permitem matar os piolhos e as lêndeas, apenas libertá-los do couro cabeludo. Por isso, implica sempre uma ação mecânica.

Por outro prisma, existem maiores riscos associados, porque, com os tratamentos caseiros, “nem sempre conseguimos manter as concentrações certas, ou não sabemos a origem do produto que comprámos” e isso pode “desencadear reações alérgicas muito grandes”, destaca Alia Ramazanova.

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Considerando que os tratamentos são feitos, com frequência, em crianças, é necessário ter mais cautela, pois “os seus couros cabeludos são muito mais sensíveis”, conclui.

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Este artigo foi desenvolvido no âmbito do European Media and Information Fund, uma iniciativa da Fundação Calouste Gulbenkian e do European University Institute.

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Categorias:

Cabelo

Etiquetas:

Produtos naturais

10 Jun 2023 - 08:30

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