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Vinagre de maçã reduz o apetite? Quais os riscos do seu consumo excessivo?

22 Fev 2023 - 01:14

Vinagre de maçã reduz o apetite? Quais os riscos do seu consumo excessivo?

O vinagre de maçã, também conhecido como vinagre de sidra, é usado, sobretudo, para temperar alimentos. Mas há também quem o use para  limpar superfícies, neutralizar odores e matar bactérias. Além disso, há quem defenda nas redes sociais que o vinagre de maçã reduz o apetite.

Em várias publicações partilhadas no Facebook, alega-se que o vinagre de maçã é “milagroso” na perda de peso, porque tem um grande poder na redução do apetite. Segundo um post, este produto “atrasa a digestão dos alimentos e, por isso, faz com que nos sintamos saciados por mais tempo”.

Noutra partilha, o autor da publicação defende que “o vinagre de maçã ajuda a reduzir o apetite e a dissolver as gorduras, por isso, o seu uso é recomendado para emagrecer de modo saudável”.

O que diz a ciência sobre isto? É verdade que o vinagre de maçã reduz o apetite? E quais os riscos da sua ingestão?

É verdade que o vinagre de maçã diminui o apetite?

vinagre de maçã

Não se pode afirmar que o vinagre de maçã tenha a capacidade de reduzir o apetite. Quem o adianta, em declarações ao Viral, é a nutricionista Inês Barreiros Mota, docente e investigadora na NOVA Medical School (NMS).

Existem, de facto, estudos “em ratos e ratos obesos” onde se sugere “que o ácido acético (vinagre) pode prevenir a deposição de gordura e melhorar o seu metabolismo”, acrescenta Inês Mota.

No entanto, a evidência em humanos é controversa. A especialista refere um estudo em que “175 indivíduos consumiram uma bebida com 1 (15 ml) ou 2 colheres (30 ml) de sopa de vinagre por dia durante 3 meses”. Neste trabalho verificou-se que “os indivíduos que consumiram vinagre tiveram uma perda de peso modesta e níveis de triglicerídeos mais baixos do que os que não beberam vinagre”.

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Por outro lado, em 2018, “um estudo clínico alocou 39 indivíduos com excesso de peso ou obesidade em 2 grupos diferentes, durante 12 semanas”. Verificou-se que o grupo que consumiu vinagre de maçã num regime com restrição energética – comparativamente ao grupo que fez apenas restrição energética – teve maior redução de peso, de triacilglicerídeos, de colesterol total, de apetite e um maior aumento da concentração do colesterol HDL”, realça.

Importa sublinhar que a evidência disponível sobre os supostos benefícios do vinagre na redução do apetite e na perda de peso “não é robusta”, sendo “necessários mais estudos, com maiores populações e que avaliem os efeitos a longo prazo” para perceber se o papel do vinagre de maçã é “relevante na supressão do apetite, bem como a dose diária a consumir para tal”, defende a nutricionista.

Quais os riscos associados ao consumo excessivo de vinagre de sidra?

vinagre de maçã

Além de não existir evidência suficiente para garantir a eficácia do vinagre de maçã na redução do apetite, o seu consumo em excesso pode ter efeitos negativos na saúde. 

Por um lado, o vinagre pode “danificar o esmalte dos dentes dada a sua acidez”. Depois, pode “causar problemas digestivos como indigestão, flatulência e diarreia, interferindo na absorção de potássio”, aponta a investigadora.

“Outro dos efeitos pode ser a hipocalemia (diminuição dos níveis de potássio) que tem como sintomas fraqueza, fadiga, e cãibras musculares e é relevante aquando da toma de diuréticos”, alerta. Por fim, também há a possibilidade de “interferir com os valores de insulina”.

Existe alguma forma de reduzir o apetite?

vinagre de maçã

Como explica Inês Barreiros Mota, “no ser humano, a regulação da ingestão alimentar é um processo complexo que envolve a interação entre o sistema homeostático e o sistema hedónico”. 

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Tal como se explica neste artigo, “a regulação homeostática controla o equilíbrio energético, aumentando a motivação para comer após o esgotamento das reservas de energia”.

Em contraste, a regulação hedónica está ligada ao prazer e “pode sobrepor-se à homeostática durante períodos de relativa abundância energética, aumentando o desejo de consumir alimentos que são altamente palatáveis”, aponta-se no mesmo documento.

A nutricionista da NMS, salienta que “a regulação homeostática depende da libertação de péptidos (proteínas) e hormonas por diferentes órgãos como o intestino ou tecido adiposo, e também pelo nervo vago”. 

“Por sua vez”, continua, “a regulação hedónica depende de mecanismos de recompensa conscientes e inconscientes”. Os mecanismos conscientes surgem quando “a visão, o olfato, o paladar e a perceção da textura dão feedback ao sistema nervoso central (SNC) e influenciam as áreas cerebrais relacionadas com a recompensa alimentar”. 

Por outro lado, “a própria composição em diferentes macronutrientes dos alimentos estimula a liberação de sinais inibitórios do apetite, traduzidos no SNC em processos inconscientes de recompensa”. 

Existe algum alimento com o poder de inibir o apetite? A resposta é sim e não. Qualquer alimento pode suprimir o apetite, porque “o apetite está associado ao prazer de comer (ao sistema hedónico)”. Logo, se a pessoa tem vontade de comer algum alimento em específico – mesmo que não tenha fome – e o ingerir vai, à partida, suprimir o apetite.

No entanto, isto não acontece com todas as pessoas. Há quem tenha “as vias de controlo do apetite desreguladas”, esclarece a nutricionista da NMS. Nestes casos, “pode não existir um limiar de perceção de que o corpo já está saciado”.

Pelo facto de o apetite estar associado ao prazer de comer, não se pode categorizar um alimento como “inibidor de apetite” geral. 

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Alimentação

22 Fev 2023 - 01:14

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