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Tabaco aquecido não vicia? 5 mitos sobre a alternativa ao cigarro convencional

8 Jan 2023 - 11:06

Tabaco aquecido não vicia? 5 mitos sobre a alternativa ao cigarro convencional

Não deita fumo, nem cinza. As mãos e a roupa também não ficam com o cheiro a tabaco. Mas é verdade que o tabaco aquecido liberta menos substâncias do que os cigarros convencionais? E esta é uma boa alternativa para quem quer deixar de fumar?

Segundo um comunicado da Sociedade Portuguesa de Pneumologia (SPP) enviado ao Viral sobre o último relatório da Escala de Controlo de Tabaco (TCS), Portugal está em 30.º lugar no que diz respeito a “políticas públicas de controlo de tabagismo implementadas em 37 países no ano de 2021”, tendo descido “10 posições comparativamente ao relatório anterior publicado em 2019”.

Além disso, Portugal é “destacado como um dos países que necessita de implementar urgentemente políticas públicas de controlo de tabaco, a começar por espaços públicos livres de tabaco sem exceções”. 

Seja aquecido ou convencional, na perspetiva dos especialistas, o tabaco continua a causar muitos danos evitáveis à saúde. Em declarações ao Viral, a pneumologista e coordenadora da Comissão de Trabalho de Tabagismo da SPP, Sofia Ravara, desconstrói cinco mitos sobre o tabaco aquecido.

O tabaco aquecido não tem nicotina? 

tabaco aquecido
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Questionada sobre se esta alternativa ao cigarro convencional contém nicotina, Sofia Ravara adianta que “o tabaco aquecido (TA) é um dispositivo de nicotina inalada”, libertando “concentrações similares de nicotina tão, ou mais, rapidamente do que os cigarros normais”. Como tal, sustenta, “é altamente viciante”.

A especialista alerta ainda que, em consulta, “muitos utilizadores de tabaco aquecido” relatam sentir que o tabaco aquecido é ainda mais viciante.

Para provar os malefícios provocados por esta alternativa, “existem estudos que mostram que o tabaco aquecido reproduz mecanismos de doença similares à doença respiratória crónica, cardiovascular e cancro causado pelo cigarro comum”.  

O tabaco aquecido não liberta tantas substâncias nocivas quanto o tabaco normal?

tabaco aquecido

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De facto, este tipo de tabaco “é aquecido a temperaturas menores do que os cigarros convencionais, não libertando fumo visível ou chama de combustão”, esclarece a pneumologista.

Ainda assim, “através do processo de aquecimento”, o tabaco aquecido “sofre degradação térmica e/ou combustão incompleta, ou pirólise”, emitindo uma imensidão das tais partículas tóxicas e contraproducentes.

Estas partículas depositam-se no pulmão, “causando stress oxidativo, inflamação, morte ou lesão celular e lesão genética”. Além disso, quando entram na circulação sanguínea disseminam-se “por todo o organismo, podendo causar dano em qualquer parte do nosso corpo”, salienta.

Portanto, na visão da especialista da SPP, “a questão que devemos discutir e saber transmitir não é a comparação entre os diversos dispositivos (tabaco aquecido e cigarro convencional)”, mas a evidência crescente e consistente de que o tabaco aquecido é prejudicial para a saúde.

“Como tal”, finaliza, “devemos desaconselhar o seu uso, recomendar o tratamento médico de cessação tabágica e pugnar pela forte regulação destes produtos, incluindo a proibição de comercialização”.

O facto de o tabaco ser aquecido, e não queimado, é vantajoso para a saúde do fumador?

tabaco aquecido

A pneumologista considera que esta é uma “discussão fútil” e “uma distração propositada criada pela indústria do tabaco que nos desvia” do facto de o tabaco aquecido ser prejudicial à saúde.

Como explica a médica, “o tabaco aquecido sofre uma combustão incompleta e aquecimento, emitindo muitas partículas respiráveis e substâncias tóxicas, irritantes e potencialmente cancerinogénicas”.

Estes elementos, “ao serem inalados muitas vezes ao dia durante muitos anos”, têm o potencial de causar, por exemplo, “doença pulmonar, cardiovascular, cancro e infeções”.   

O tabaco aquecido ajuda a deixar de fumar?

tabaco aquecido

“Não, não existe nenhum estudo que prove que o tabaco aquecido ajude a deixar de fumar”, responde a coordenadora da Comissão de Trabalho de Tabagismo da SPP.

Também de acordo com documentos oficiais das autoridades de saúde mundiais, o tabaco  aquecido não ajuda o fumador a reduzir o consumo de tabaco nem a deixar o vício. 

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Aliás, alguns estudos sugerem que muitos utilizadores de tabaco aquecido não deixam de usar os cigarros convencionais.  E, realmente, “o uso de múltiplos produtos do tabaco está associado a um risco acrescido de dependência da nicotina e a efeitos adversos para a saúde”, informa-se no site do Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos. 

Assim, a especialista sustenta que a forma mais eficaz e segura de deixar de fumar é através de tratamento médico. 

É mais seguro fumar tabaco aquecido do que cigarros convencionais? 

tabaco aquecido

Não existe evidência científica de que seja mais seguro fumar tabaco aquecido do que cigarros convencionais, garante Sofia Ravara.

No mesmo sentido, a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que os países apliquem a estes produtos de tabaco as mesmas regulamentações e políticas públicas de controlo do tabaco, porque “todas as formas de consumo de tabaco são prejudiciais”.

Segundo a especialista, no caso dos aparelhos semelhantes ao IQOS (uma das marcas mais conhecidas),“o tabaco aquecido é tabaco inalado resultante do aerossol libertado pelo aquecimento das folhas de tabaco e contém as mesmas substâncias que o tabaco convencional e ainda outros compostos muito tóxicos que não existem nos cigarros convencionais”.

Sofia Ravara sublinha ainda que “a análise toxicológica do aerossol emitido pelo tabaco aquecido identificou substâncias altamente tóxicas, irritantes ou potencialmente carcinogénicas, das quais não existe consumo seguro, sobretudo usando a via inalatória de administração, como é o caso do tabaco aquecido”.

“Os estudos sobre as emissões de tabaco aquecido encontraram elevadas concentrações de partículas finas respiráveis, e ainda alcatrão, acetaldeído (um cancerígeno), acrilamida (um potencial cancerígeno), um metabolito de acroleína (substância muito tóxica e irritante) e formaldeído (um potencial cancerígeno)”, sustenta.

De facto, segundo alguns estudos científicos independentes da indústria do tabaco,  algumas substâncias estão em menor concentração no aerossol do tabaco aquecido do que nos cigarros convencionais.

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Contudo, esses mesmos trabalhos também concluem que a concentração de vinte e duas substâncias nocivas (ou potencialmente nocivas) no aerossol do tabaco aquecido eram 200% mais elevadas – e sete eram 1000% mais elevadas – do que no fumo dos cigarros convencionais.

Por fim, segundo Sofia Ravara, “estudos em humanos mostram que não existe uma diferença estatisticamente detetável entre os utilizadores de tabaco aquecido e do cigarro convencional para 23 dos 24 biomarcadores de potenciais danos para a saúde”.

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Pneumologia

8 Jan 2023 - 11:06

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