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“Standing desks”: Trabalhar de pé numa secretária é melhor para a saúde?

8 Dez 2024 - 08:30

“Standing desks”: Trabalhar de pé numa secretária é melhor para a saúde?

As standing desks (secretárias de altura ajustável, que permitem trabalhar de pé) têm-se tornado populares nos últimos anos. Surgiram como uma alternativa às secretárias convencionais, com o objetivo de combater o sedentarismo – uma das principais causas da doença cardiovascular – e os problemas de saúde provocados pela má postura. 

No entanto, um estudo recente, publicado no International Journal of Epidemiology, que avaliou dados de 83 mil e 13 pessoas, concluiu que “o aumento do tempo de permanência em pé como prescrição pode não diminuir o risco de DCV [doença cardiovascular] grave” e pode levar a um maior risco de desenvolver varizes. Afinal, o que é melhor para a saúde: trabalhar de pé ou sentado?

Trabalhar de pé ou sentado: Qual a melhor alternativa?

Na perspetiva de Paulo Santos, não existe uma resposta certa. Em declarações ao Viral, o especialista em Medicina Geral e Familiar e professor na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) defende que trabalhar de pé ou sentado não tem propriamente um impacto positivo significativo na saúde, porque o benefício concreto vem da prática de exercício físico.

Contudo, está mais do que demonstrado que o sedentarismo tem consequências negativas para a saúde. 

Segundo um texto informativo da Organização Mundial da Saúde (OMS), o comportamento sedentário está associado a um “aumento da mortalidade por todas as causas, por doenças cardiovasculares e por cancro” e à “incidência de doenças cardiovasculares, cancro e diabetes tipo 2”.

O sedentarismo pode ainda levar a “dificuldade de movimento” e, em específico, a “problemas ao nível das articulações dos joelhos, da coluna e da anca”, salienta Paulo Santos.

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Tal como esclarece a OMS, “o comportamento sedentário é qualquer período de baixo gasto energético enquanto se está acordado, como estar sentado, reclinado ou deitado”. 

Por isso, trabalhar sentado, numa secretária, é considerado um comportamento sedentário que traz consigo todos os riscos associados referidos.

Com o objetivo de combater este problema, surgiram as standing desks, que permitem que as pessoas façam o mesmo tipo de trabalho, mas de pé.

Existe, de facto, evidência que sugere que trabalhar de pé, à secretária, pode ter benefícios para a saúde, nomeadamente em termos cardiovasculares (ver aqui).

Há, inclusive, estudos a referirem que trabalhar de pé permite gastar mais calorias do que trabalhar sentado. Ainda assim, um trabalho mais recente veio demonstrar que de pé o número de calorias gastas é apenas ligeiramente superior ao de sentado (ver também aqui).

Apesar de tudo, não parece haver um benefício significativo para a saúde em trocar a secretária convencional pela standing desk. 

Um estudo de outubro deste ano, publicado no International Journal of Epidemiology, que avaliou dados de pouco mais de 83 mil pessoas, confirma que passar cerca de dez horas por dia sentado está associado a um maior risco de doença cardiovascular e de desenvolver varizes.

Contudo, o mesmo estudo reporta ainda “uma associação linear para um maior risco de doença circulatória ortostática [varizes] devido ao aumento do tempo de pé, sem associação protetora para o risco de DCV”. 

Aliás, já está bastante estudado que passar demasiado tempo de pé ou sentado contribui para o aumento de risco de desenvolvimento de problemas circulatórios, nomeadamente varizes (ver aqui, aqui e aqui).

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Por isso, concluem os investigadores, substituir o trabalho sentado pelo trabalho de pé não resolve os problemas, se não forem implementadas estratégias que promovam o aumento da atividade física.

Tal como explica Paulo Santos, “uma coisa é ser fisicamente ativo, outra é estar de pé o dia todo, são coisas muito diferentes”. 

Uma pessoa, ao trabalhar de pé, “só está a contrariar o sedentarismo – que também é importante -, mas isso não é suficiente para ter um benefício a nível cardiovascular” nem no que diz respeito à saúde de uma forma geral.

O benefício vem com a prática de exercício físico”, salienta o especialista. “Qualquer atividade física é sempre melhor do que não fazer nada, mas o benefício concreto (a nível cardiovascular e não só) vai aparecer com o exercício físico estruturado”, clarifica.

Segundo Paulo Santos, as recomendações atuais para a prática de exercício são de “150 minutos por semana divididos entre 3 a 5 dias numa intensidade moderada”.

Quais os cuidados a ter quando se trabalha de pé ou sentado?

Passar muito tempo de pé ou sentado pode ter impactos negativos na saúde. Para minimizar ao máximo esses efeitos, deve-se ter alguns cuidados.

Caso passe muitas horas a trabalhar sentado, é importante que “de tempos a tempos, no máximo de duas a duas horas, se levante e vá dar uma volta, beber um copo de água ou conversar com os colegas”, aconselha Paulo Santos.

Fazer isto é fundamental para “interromper o comportamento sedentário e mexer as articulações”, acrescenta.

Em trabalhos que obrigam a pessoa ficar muito tempo de pé, mas sem fazer grandes deslocações, também é importante tomar medidas preventivas.

Paulo Santos dá o exemplo dos profissionais de enfermagem e das pessoas que trabalham em cabeleireiros. São profissões em que “o movimento se faz em pequenos passos de um lado para o outro”, explica.

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No final do dia, “o conta passos do smartwatch até pode mostrar que fez muitos passos”, mas esses passos “tiveram um impacto pouco significativo na saúde”, refere. 

Isto porque, na realidade, “fez três passos para um lado, parou, depois fez mais dois passos para o outro e parou” e assim sucessivamente.

Para evitar os problemas circulatórios, como as varizes, Paulo Santos recomenda a utilização de “meias de descanso”. 

Dependendo “da genética, do tipo de exposição e do número de horas em que se está de pé”, pode ser necessária até “uma contenção externa maior”, mas “as meias de descanso são essenciais” nestes contextos.

8 Dez 2024 - 08:30

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