Sexo durante a gravidez prejudica o bebé? Quais os cuidados a ter?
Estou grávida, e agora? É seguro ter relações sexuais? O orgasmo pode provocar um parto antes do tempo previsto? Estas são dúvidas de algumas mulheres quando engravidam, mas que nem sempre são esclarecidas junto dos médicos.
Num estudo publicado em 2010, 23,4% das mulheres inquiridas revelou “medo de ter relações sexuais” durante a gravidez, a maioria por “receio de prejudicar o bebé”.
Mas será verdade que fazer sexo durante a gravidez pode prejudicar o bebé? E o casal deve ter cuidados redobrados durante esta fase?
É verdade que o sexo durante a gravidez prejudica o bebé?
Em declarações ao Viral, Diogo Bruno, ginecologista e obstetra no Hospital de São Francisco Xavier, adianta que “não existem estudos científicos” que comprovem que fazer sexo durante a gravidez prejudica o bebé.
“Se forem mulheres saudáveis, com companheiros saudáveis e com uma gravidez saudável, como a maior parte dos casais, o sexo não vai prejudicar”, sustenta, acrescentando que o sexo durante a gravidez “é seguro” e tem “benefícios psicológicos óbvios”.
Uma revisão sistemática do “Journal of Psychosomatic Research” a 59 estudos sobre sexualidade durante e após a gravidez, entre 1950 e 1996, sustenta que o sexo não prejudica o feto, “se não houver fatores de risco”.
Alguns estudos apontam para “efeitos negativos para o feto”. No entanto, têm “amostras pequenas e incompletas”, revela a mesma revisão.
Por outro lado, as investigações “maiores” e com uma “amostra representativa” não associam a atividade sexual a complicações com o bebé.
Num editorial publicado no “The Journal of Sexual Medicine”, no ano de 2013, os investigadores Lior Lowenstein, Susana Mustafa e Yechiel Burke referem que a atividade sexual na gravidez “não causa danos” e salientam que é “benéfica” para o casal.
Questionado sobre se o pénis pode tocar no bebé durante o sexo – um dos receios apontados por casais na internet – o obstetra Diogo Bruno diz que tal “não é possível”.
“Em termos anatómicos, há a vagina e acima há o colo do útero, que faz a ligação entre a vagina e o útero. A gravidez acontece dentro do útero. O bebé tem a placenta e a bolsa amniótica à volta. Ou seja, entre a vagina e o bebé temos não só o colo do útero como a bolsa”, explica.
O obstetra do Hospital de São Francisco Xavier esclarece que alguns medos são “infundados”, como o de um parto precoce devido a “contrações uterinas no orgasmo feminino” ou o receio de “estimular a parte inferior do útero”.
Na mesma linha, um estudo do “Archives of Gynecology and Obstetrics”, publicado em 2014, conclui que “não foi encontrada evidência científica” de que as relações sexuais acelerem o início do trabalho de parto.
Pelo contrário, em mulheres “sexualmente ativas”, a duração da gestação “tende a ser superior”, um facto também apontado pelo obstetra consultado pelo Viral.
Estou grávida, devo ter cuidados especiais nas relações sexuais?
Diogo Bruno refere também que “não existem estudos” que apontem para períodos de maior risco nas relações sexuais durante a gravidez. E, nesse sentido, não aponta para grandes “cuidados adicionais”.
No entanto, há mulheres que têm “menos libido” devido aos sintomas – como náuseas e sonolência – que surgem no primeiro trimestre da gravidez e que, nas palavras do médico, “não são simpáticos”.
Esta ideia é abordada na revisão sistemática apresentada no “Journal of Psychosomatic Research”. As grávidas com “poucos ou nenhuns” sintomas e “menos ganho de peso” fazem sexo com mais frequência durante e após a gravidez, em comparação com as que têm sintomas mais ativos.
O médico salienta, por isso, que a mulher deve “sobretudo, sentir-se confortável” e “não fazer sexo contra a sua vontade”.
Apesar de o desejo e de a atividade sexual “variarem consoante as pessoas”, em média, “diminuem ligeiramente” no primeiro trimestre da gravidez, variam no segundo trimestre e “diminuem acentuadamente” no terceiro, refere a revisão.
A diminuição de relações sexuais no terceiro trimestre da gravidez é também apontada num estudo do “The Journal of Sexual Medicine” em que 55% das grávidas reconhece ter feito menos sexo nesse período.
No terceiro trimestre, há, por norma, “outros desconfortos e uma mudança na sensação da mulher” durante o sexo. Por exemplo, a posição “missionário” pode ser “desconfortável”. Porquê? “De barriga para cima, o útero comprime a veia principal da metade inferior do corpo, que reduz o aporte de sangue que vai para o coração. E, por isso, poderá ter falta de ar”.
Além disso, a grávida deve fazer “adaptações pessoais”. Isto é, escolher posições sexuais “em que se sinta mais confortável”, exemplifica o obstetra do Hospital de São Francisco Xavier.
Se a penetração com pénis for desconfortável, é seguro ter “outros tipos de sexo” e usar, por exemplo, “brinquedos sexuais ou dedos na vagina”, acrescenta.
Noutro plano, Diogo Bruno reconhece que sexo na gravidez é uma “área difícil de estudar”, com poucas investigações, até porque as “relações sexuais são muito variáveis de casal para casal”.
No editorial publicado no “The Journal of Sexual Medicine”, já referido anteriormente, os investigadores consideram que há ainda pouco diálogo sobre relações sexuais na gravidez entre o casal e o médico, uma ação que consideram importante.
Nesse sentido, destacam que tanto os médicos como as grávidas “devem estar cientes” das “condições médicas e obstétricas” em que o sexo na gestação deve ser evitado.
Já o obstetra do São Francisco Xavier esclarece que é desaconselhado fazer sexo se tiver “infeções vaginais”, um “sangramento vaginal ativo”, uma “rutura da bolsa de águas” ou o “colo dilatado”.
“A tricomoníase, uma doença sexualmente transmissível, aumenta o risco de parto prematuro”, acrescenta.
Em suma, o sexo durante a gravidez não prejudica o bebé, desde que o casal seja saudável e não haja contraindicações médicas. Receios de ter relações sexuais neste período são comuns. No entanto, o sexo é seguro e até saudável, se for adaptado às condições de cada pessoa. É um assunto que deve ser falado com o obstetra.
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