Usar luvas para cozinhar: uma boa prática ou um risco para a segurança alimentar?
No momento de preparar as refeições, seja em casa, seja num restaurante, há quem considere mais seguro utilizar luvas para manipular os alimentos. Por outro lado, há quem defenda que as luvas dão uma falsa sensação de segurança que acarreta alguns riscos. Mas, afinal, usar luvas para manipular alimentos é uma boa prática ou um hábito contraproducente?
Usar luvas para manipular alimentos é uma boa prática?
“É discutível”. Quem o diz, em esclarecimentos ao Viral, é Isabel Ratão, professora na área da segurança alimentar no Instituto Superior de Engenharia da Universidade do Algarve.
Na perspetiva da especialista, usar luvas para manipular alimentos “é uma boa prática para evitar contaminações por má higienização das mãos”, sobretudo “em casos em que os manipuladores de alimentos têm unhas compridas (que é proibido na indústria alimentar e de restauração) ou usam objetos de adorno nas mãos”.
Contudo, salienta, “a utilização de luvas pode insensibilizar o operador quanto à efetiva higienização das luvas”.
Isto porque, como a pessoa “não sente as mãos sujas, pode estar a fazer contaminação cruzada através das luvas”, justifica. Ou seja, pode estar a transferir contaminantes como microrganismos, químicos ou alergénios entre alimentos ou superfícies diferentes sem se aperceber.
Esta ideia é reforçada num guia de boas práticas da Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal (AHRESP).
Segundo o documento, “o uso de luvas, por conferir uma falsa sensação de segurança e inibir o colaborador na lavagem das mãos”, apenas é aconselhável em situações específicas.
A AHRESP recomenda que as luvas só sejam utilizadas “se existir ferimento ou infeções nas mãos” e “no decorrer das operações de limpeza e desinfeção”.
Em caso de pele danificada por qualquer razão, reforça Isabel Ratão, “é sempre importante usar luvas, quer para proteger os alimentos, quer para proteger o próprio operador”.
No entanto, noutros contextos,“em termos de proteção individual, as luvas são fininhas, pelo que não protegem de cortes ou queimaduras, por exemplo”.
Assim sendo, a decisão de usar luvas para manipular alimentos deve ter em conta o contexto dessa utilização e devem ser adotados cuidados específicos para minimizar o risco de contaminação cruzada.
Quais os cuidados a ter quando se utiliza luvas para manipular alimentos?
Em primeiro lugar, tal como as mãos, as luvas devem ser “higienizadas com muita frequência”, explica Isabel Ratão, lembrando que é comum “alguma sujidade” passar despercebida quando utilizamos este item (ver aqui).
Por exemplo, “quando cai algo estranho nas mãos, não percebemos que temos de as higienizar”, porque, como temos luvas, “não sentimos esse desconforto, pelo que podemos contaminar o próximo produto inadvertidamente”, esclarece a professora.
Além disso, é fundamental “trocar de luvas entre tarefas, sobretudo quando se passa da manipulação de alimentos que ainda vão ser tratados termicamente para a manipulação de alimentos que não vão sofrer qualquer tratamento”, explica Isabel Ratão.
Se uma pessoa “usou luvas para temperar carne e a seguir vai preparar a salada, é mesmo importante trocar de luvas, porque a salada pode sofrer contaminação cruzada por microrganismos que não vão ser eliminados antes do consumo”, exemplifica.
Caso se esteja “a executar uma mesma tarefa continuamente, as luvas devem ser substituídas a cada quatro horas ou sempre que necessário”, recomenda a AHRESP.
Na perspetiva de Isabel Ratão, um dos erros mais comuns é “continuar a utilizar as luvas, mesmo depois de danificadas”.
Tal como se lê no documento da AHRESP, o par de luvas “deve ser substituído se danificado ou se o colaborador interromper a tarefa”.
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Este artigo foi desenvolvido no âmbito do European Media and Information Fund, uma iniciativa da Fundação Calouste Gulbenkian e do European University Institute.
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