A informação de que algumas saquetas de chá contêm microplásticos já não é nova. No entanto, num vídeo partilhado no TikTok, garante-se que beber chá em saquetas é tóxico para a saúde. Confirma-se?

Num vídeo com dezenas de milhares de gostos e centenas de comentários alega-se que as saquetas de chá são tóxicos. “A maioria dos sacos de chá são feitos de materiais sintéticos, tais como o plástico”, começa por dizer a autora do TikTok.

“E sabias que quando colocas um saco de chá em água a ferver são libertados milhares e milhares de microplásticos para o teu chá?”, alerta. Mas o facto de algumas saquetas conterem microplásticos torna o consumo deste tipo de chá tóxico para a saúde?

É verdade que as saquetas de chá são tóxicas?

Em declarações ao Viral, João Noronha, professor da área de segurança alimentar da Escola Superior Agrária de Coimbra (ESAC), e Paula Sobral, professora da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa e investigadora na área dos microplásticos, garantem que, de facto, os sacos de chá feitos de nylon, ou com outros plásticos na sua composição, libertam microplásticos para a água.

Aliás, existe um estudo muito citado em publicações nas redes sociais em que os investigadores concluíram que “um saco de chá libertou 11,6 mil milhões de microplásticos e 3,1 mil milhões de nanoplásticos numa única chávena da bebida”.

Contudo, Paula Sobral explica que, “ao nível dos sacos de chá, a toxicidade não está comprovada“. 

No mesmo sentido, João Noronha acrescenta: “o risco para o ser humano é algo ainda em estudo, pelo que não há conclusões taxativas”.

Ainda assim, contrapõe Paula Sobral, “existe uma grande preocupação” em relação à presença de microplásticos nos alimentos e na água. “Se disser a uma pessoa que está a beber um chá cheio de micropartículas, a pessoa não vai gostar”. Porquê?

“Todos os plásticos absorvem, à sua superfície, contaminantes que estão já no ambiente”, avisa. Isto é, “mesmo que se pudesse dizer que o plástico em si não é tóxico, o facto de ele ter associado todos esses contaminantes presentes no ambiente torna-o tóxico”, sustenta a professora da Universidade Nova de Lisboa.

O plástico, no fundo, “é um vetor” que “transporta contaminantes para tudo aquilo com que contacta” e até “para o ar que respiramos”. Portanto, teoricamente, “estes microplásticos provavelmente exercerão alguma toxicidade”, completa. 

No entanto, esse estudo ainda não foi feito. Paula Sobral explica que os estudos sobre o tema “estão a iniciar-se” e ainda “são muito recentes”. “Não pegamos em sacos de chá, fomos beber essa água e registar os efeitos”, aponta.

Além disso, fazer este tipo de investigações é difícil. “Essa dificuldade que existe em estabelecer uma relação causa efeito permite, depois, que se perpetuem no tempo estas situações, devido à incerteza”, lamenta a especialista. “Como não se prova, as coisas vão andando”, conclui.

Porque é que o plástico é utilizado nas saquetas de chá?

Na visão de Paula Sobral, existem duas razões principais pelas quais o plástico é utilizado na produção de alguns sacos de chá. Primeiro, “é mais barato“, fazendo “dele um produto descartável, o que é mau”.

Além disso, “é mais duradouro” e “não se rompe”. Se estes sacos fossem “feitos de papel, provavelmente, rompiam-se e a resistência não era a mesma”. 

Mas este é um “problema transversal à sociedade, em vários setores”, salienta. “E é muito difícil apontar um caminho que seja uma solução, tem de haver várias soluções”, acrescenta.

No caso do chá, as opções mais seguras são: comprar saquetas de chá que não sejam compostas por plástico ou, por outro lado, fazer o chá diretamente com as folhas, as flores ou as raízes da planta. “As pessoas optam pela conveniência de ter já a quantidade certa, mas, muitas vezes, o chá até é de uma qualidade muito inferior” quando vem nestas saquetas.

O que são microplásticos? São prejudiciais à saúde humana?

O mais recente relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre a presença de microplásticos na água define-os como “uma vasta gama de materiais compostos de diferentes substâncias, com diferentes densidades, composições químicas, formas e tamanhos”. 

O mesmo documento informa ainda que estas substâncias não têm “uma definição cientificamente acordada”, mas são “frequentemente definidas como partículas plásticas de comprimento até 5 mm”. Já o termo “nanoplásticos” é a denominação dada a um “subconjunto de microplásticos”.

De acordo com a OMS, os microplásticos estão “omnipresentes” no ambiente, tendo sido detetados “em água marinha, águas residuais, água doce, alimentos, ar e água potável”.

No que diz respeito aos potenciais perigos associados, “embora não haja informação suficiente para tirar conclusões firmes sobre a toxicidade relacionada com o perigo das partículas plásticas, nenhuma informação fiável sugere que se trata de uma preocupação”.

Além disso, acrescenta-se no texto, “é necessária uma melhor compreensão sobre a absorção e destino dos microplásticos e nanoplásticos após a sua ingestão”. 

Por último, uma vez que “os seres humanos podem ser expostos a microplásticos” com facilidade, incluindo através de alimentos e ar, “é necessária uma melhor compreensão da exposição global a microplásticos do ambiente em geral”.

Em suma, algumas saquetas de chá contém microplásticos. Contudo, ainda não existe evidência que permita concluir o nível de toxicidade destas substâncias para organismo humano e os seus potenciais efeitos na saúde.

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