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Resoluções de Ano Novo: fonte de motivação ou de frustração? E como cumpri-las?

Com o fim de um ano e o início de outro surgem as tradicionais resoluções de ano novo. A ideia de mudar de vida e alterar alguns hábitos está enraizada na cultura ocidental. No entanto, as taxas de sucesso destes objetivos de Ano Novo são relativamente baixas. Serão estas resoluções uma forma de aumentar a motivação e alcançar os objetivos propostos ou, por outro lado, uma fonte de frustração que marca o ano seguinte? Especialistas explicam ao Viral o que fazer para ultrapassar as dificuldades associadas à mudança de hábitos.

28 Dez 2022 - 08:00

Resoluções de Ano Novo: fonte de motivação ou de frustração? E como cumpri-las?

Com o fim de um ano e o início de outro surgem as tradicionais resoluções de ano novo. A ideia de mudar de vida e alterar alguns hábitos está enraizada na cultura ocidental. No entanto, as taxas de sucesso destes objetivos de Ano Novo são relativamente baixas. Serão estas resoluções uma forma de aumentar a motivação e alcançar os objetivos propostos ou, por outro lado, uma fonte de frustração que marca o ano seguinte? Especialistas explicam ao Viral o que fazer para ultrapassar as dificuldades associadas à mudança de hábitos.

A noite de passagem do ano está cheia de tradições: os brindes, o fogo de artifício, os 12 desejos e as resoluções de Ano Novo são algumas das mais comuns. Mas, mesmo antes de tocarem as doze badaladas, muitas pessoas já pensam nos objetivos que querem concretizar no ano seguinte. Alguns estudos indicam que a maior parte das pessoas acaba por desistir das metas a que se propôs logo nos primeiros meses do ano. Serão as resoluções uma forma de motivação para alcançar o objetivo ou uma fonte de frustração?

As resoluções de Ano Novo resultam, muitas vezes, de um balanço pessoal. “É natural que as pessoas façam um balanço do ano que passou e que possam criar expectativas, objetivos e estratégias para o ano seguinte”, afirma Miguel Ricou, psicólogo e presidente do Conselho de Especialidade de Psicologia Clínica e da Saúde da Ordem dos Psicólogos Portugueses. 

“Criar expectativas é positivo, por princípio. É sempre melhor criar expectativas e estratégias para o futuro do que fazer balanços sobre o passado. O passado não se pode mudar, só se pode mudar o futuro”, acrescenta.

O especialista lembra que “quando se olha para trás, normalmente, não é por bons motivos” e que esse processo de retrospeção pode também acontecer noutras alturas do ano, “quando as pessoas não se estão a sentir bem”.

Também Ana Félix, psicóloga na clínica Saúde Positiva, destaca que, no início de um novo ano, existe “motivação e crença de que as coisas vão mudar”, mas alerta que a concretização dessa mudança “vai depender do compromisso pessoal que é assumido”. Isto é, as resoluções “podem ser positivas quando se faz um compromisso que estimula a mudança e a crença interna”, explica ao Viral.

Começar a ir ao ginásio, perder peso, iniciar uma dieta, passar a fazer refeições mais saudáveis, deixar de fumar, são algumas das resoluções mais repetidas durante a passagem de ano. De acordo com uma experiência científica, com 1066 participantes, “as resoluções mais populares entre os participantes eram sobre saúde física”, seguindo-se “perda de peso” e o “desejo de mudar os hábitos alimentares”. Num outro estudo, com 182 participantes, “mais de metade da amostra listou entre as resoluções de Ano Novo ‘dieta’ ou ‘exercício’”. Alguns desses participantes disseram “ter tido a mesma resolução ou uma resolução semelhante no ano anterior”. 

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Quando as resoluções falham, pode surgir a frustração

As estatísticas mostram que escolher as resoluções para o ano seguinte é mais fácil do que manter o compromisso com essas mesmas resoluções. Um estudo longitudinal que acompanhou 200 pessoas durante dois anos para perceber quantas conseguiam manter as suas resoluções de Ano Novo, publicado em 1988, concluiu que, na primeira semana do novo ano, 77% dos participantes ainda cumpria as suas resoluções. A percentagem descia para os 55% ao fim de um mês, 43% após três meses, 40% após seis meses e 19% dois anos depois.

Outro estudo mais recente, publicado no International Journal of Environmental Research and Public Health em 2021, avança que 64% dos participantes desistia das resoluções de Ano Novo no primeiro mês. Os investigadores identificaram uma taxa de atrito “considerável desde a linha de base até à pesquisa final” que indica “que as pessoas normalmente ‘desistem’ de perseguir as suas resoluções de Ano Novo no primeiro mês”. Dos 182 participantes, oriundos da Austrália e do Reino Unido, 116 não completaram a totalidade das fases do estudo – que tinha uma duração total de dois meses.

O peso das resoluções no bem-estar psicológico pode chegar mais tarde, quando os planos traçados começam a deixar de ser cumpridos. “Podemos estar cheios de energia no final do ano, quando tomamos as decisões, mas o que custa é mantê-las no dia-a-dia”, lembra Miguel Ricou. 

Além disso, o médico lembra que, se a resolução está a ser adiada até ao início do novo ano, “significa que a convicção não é assim tão vincada”. O especialista frisa ainda que é preciso “evitar que as decisões tomadas no Ano Novo tenham um impacto negativo e aumentem a frustração”. 

“É importante estar preparado para que seja difícil mudar, para as dificuldades que surjam ao longo do tempo”, aconselha o psicólogo. “Todos nós podemos falhar. Podemos não conseguir hoje, mas conseguir amanhã. Sentir que se falhou tem um impacto negativo, retira energia. É importante sermos tolerante connosco próprios.”

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Ana Félix acrescenta que a reação perante uma falha depende de pessoa para pessoa, podendo, em alguns casos, “causar frustração por não se ter conseguido cumprir a resolução” a que se tinha proposto. A psicóloga sublinha ainda que o entendimento de cada pessoa é diferente e os acontecimentos que geram sofrimento para uns podem não constituir um problema para outros. 

A magnitude da resolução assumida para o Ano Novo é outra questão que pode aumentar o nível de sofrimento. Quanto maior e mais marcante for, maior será também o impacto da falha na saúde mental da pessoa. Por essa razão, Ana Félix recomenda que se opte por mudanças mais pequenas: “Uma mudança pequena todos os dias leva a uma mudança grande. É sempre preferível uma mudança pequena consistente a uma mudança grande em que a probabilidade do erro aumenta.”

Miguel Ricou reforça que “é importante perceber que a mudança é um processo que se vai fazendo”, que “não se faz num momento ou num dia”. 

De acordo com o psicólogo, “a mudança só se sedimenta quando passa a ser algo habitual, que se faz sem esforço ou com um esforço limitado”. Ao atingir este patamar, a pessoa irá passar a ter “maior garantia de que vai continuar”. 

O psicólogo incentiva as pessoas a “não desistirem por falhar uma, duas ou três vezes”. “Devemos continuar, devemos pensar como fazer de forma diferente, pedir ajuda, criar estratégias que podem ajudar a não desistir. Desistir tem mais custo, pode tornar as coisas mais difíceis.” 

Se as frustrações começarem a causar sofrimento, infelicidade, frustração ou outro sentimento negativo de forma persistente, deverá procurar-se ajuda de um médico ou psicólogo.

Como planear as resoluções para garantir um maior sucesso

O sucesso das resoluções pode estar dependente da própria resolução e da forma como esta é planeada. Para lidar melhor com as falhas e evitar sentimentos de frustração, a psicóloga Ana Félix deixa alguns conselhos:

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  • Fazer uma lista de resoluções coerente com a realidade;
  • Criar objetivos pequenos e realistas para diminuir a possibilidade de erro e frustração;
  • Fazer uma boa planificação e um compromisso consigo mesmo;
  • Pensar em possíveis obstáculos e qual a melhor forma de os ultrapassar;
  • Criar um plano que seja flexível.

A flexibilidade nas metas é um dos pontos também abordados no estudo publicado no International Journal of Environmental Research and Public Health: “Os resultados apoiam a visão de que o ajuste de metas flexíveis e a capacidade de ver as dificuldades com compostura e um certo grau de distanciamento aumentam a capacidade de adaptar a abordagem às situações da vida quando necessário, o que, por sua vez, promove o bem-estar”. 

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Por outro lado, a tenacidade do objetivo – outra questão analisada durante o estudo – “não previu de forma independente um maior bem-estar”.

A esta lista Miguel Ricou acrescenta outro fator que pode ajudar a obter sucesso: a partilha. Haver uma motivação externa positiva poderá também ser “uma boa estratégia” para conseguir manter-se fiel às resoluções. 

“Quando se partilham os objetivos com amigos e familiares, está-se a criar condições para ter uma motivação externa. Porque as pessoas não querem falhar perante os outros”, esclarece o especialista. 

No entanto, o psicólogo aconselha evitar fazer esta partilha com pessoas que tenham uma “influência negativa”. Receber comentários como “isso não custa nada” ou “não vais conseguir” pode levar a pessoa a sentir-se “mais pequena e incapaz, o que não ajuda” a cumprir as resoluções.

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Bem-estar

28 Dez 2022 - 08:00

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