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Queijo com bolor: Deitar fora ou descartar apenas a parte contaminada?

17 Nov 2024 - 08:00

Queijo com bolor: Deitar fora ou descartar apenas a parte contaminada?

As questões sobre segurança alimentar são um tema muito discutido nas redes sociais. Num vídeo partilhado no TikTok, mostra-se um queijo duro que foi “esquecido” e ficou com bolor. No entanto, a autora do post não pondera deitá-lo fora. Com uma faca, retira apenas o bolor visível.

Outra utilizadora do TikTok “responde” a este vídeo e alerta para os supostos perigos da prática demonstrada. Alega que, para ser seguro comer o queijo, é necessário cortar entre 2 a 3 centímetros além do bolor visível. Caso não seja possível, é melhor descartar o alimento. Afinal, o que fazer nesta situação: cortar o bolor do queijo e só depois comer ou deitá-lo fora?

É seguro comer um queijo duro depois de se cortar um pedaço com bolor?

Em primeiro lugar, é importante fazer a distinção entre dois tipos de queijo. Em esclarecimentos ao Viral, Paula Teixeira, professora e investigadora na área de segurança alimentar na Escola Superior de Biotecnologia da Universidade Católica no Porto (UCP), explica que existem queijos que “são feitos com bolores selecionados e em condições de produção controladas” que, “se forem cumpridas todas as boas práticas”, são seguros para consumo.

Por outro lado, no caso dos queijos em que não é suposto haver bolor, a presença do mesmo significa que “existiu uma contaminação não controlada”, salienta.

Segundo um texto informativo do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, é recomendado que se “deite fora qualquer queijo macio com bolor”. Isto porque, nestes casos, não é possível comê-lo de forma segura, pois não se consegue descartar a parte com bolor de forma eficaz.

Se estiver em causa um queijo duro, como o do vídeo em análise, cada um deve ponderar sobre se o deita fora ou se corta a parte contaminada e consome o resto.A preocupação aqui prende-se com a “produção de micotoxinas”, ou seja, de substâncias químicas tóxicas produzidas por fungos (ver aqui, aqui e aqui).

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Tal como se explica num texto publicado no site da Organização Mundial da Saúde (OMS), “os bolores que produzem micotoxinas podem crescer numa variedade de culturas e géneros alimentícios diferentes e podem penetrar profundamente nos alimentos, não se limitando a crescer à superfície”. 

Em termos de saúde, quando ingeridas, estas micotoxinas não provocam “efeitos agudos”, mas sim “efeitos a longo prazo” com a sua “acumulação” (quando ingeridas várias vezes ao longo da vida), esclarece Paula Teixeira.

Na perspetiva da especialista, “é difícil estabelecer uma relação de causa e efeito, mas sabemos que muitas destas micotoxinas” têm um potencial “carcinogénico e podem “causar problemas renais, por exemplo”.

Além disso, também podem ter consequências tóxicas para o sistema imunitário, efeitos estrogénicos e teratogénicos – provocar malformações no feto ou embrião (ver aqui).

A recomendação do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, quando se trata de queijos duros, é cortar cerca de dois centímetros “ao redor e abaixo do local do bolor”. 

Depois de o fazer, “o queijo restante deve ser seguro para comer”, acrescenta-se. 

Paula Teixeira partilha o mesmo ponto de vista, mas deixa uma ressalva: “existe sempre risco”.

Isto porque, a olho nu, não se consegue perceber se o bolor tem micotoxinas. Isso vai depender de vários fatores, como “o tipo de queijo”, “a temperatura” a que esteve sujeito e há quanto tempo foi comprado

Mesmo descartando a parte com bolor, “a micotoxina pode não ter ficado apenas à superfície e ter migrado para o interior do queijo”. 

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Neste caso, é ainda importante perceber se o queijo tem apenas “uma pintinha de bolor ou um tufo”, destaca Paula Teixeira. Quanto maior a quantidade de bolor, maior o risco.

Noutro plano, acrescenta, “pode não ser possível garantir de onde vem a micotoxina”. Se a micotoxina foi produzida no queijo, é mais seguro comer após o descarte da parte com bolor do que nos casos em que a micotoxina já “estava no leite e não foi destruída durante o processo do fabrico do queijo”.

Posto isto, não há uma recomendação clara e 100% segura. Paula Teixeira aconselha que se ponderem estes fatores e que se tome uma decisão individual e consciente. Por um lado, preservando a saúde, mas também evitando o desperdício alimentar.

“A prevenção é sempre a nossa melhor arma”

Prevenir que o bolor se desenvolva nos alimentos, nomeadamente no queijo, evita o dilema à volta desta questão. 

Segundo o texto da OMS, “por norma, os bolores não se desenvolvem em alimentos corretamente secos e armazenados, pelo que uma secagem eficiente dos produtos e a manutenção do estado seco, ou um armazenamento adequado, é uma medida eficaz contra o crescimento de bolores e a produção de micotoxinas” (ver também aqui).

Para mais, aponta-se, “não conservar os alimentos durante longos períodos antes de serem utilizados” também é uma medida eficaz na prevenção da formação de bolor nos alimentos.

Paula Teixeira também reforça esta ideia: “A prevenção é sempre a nossa melhor arma”. 

Por isso, é importante conservar os alimentos da forma correta, “em baixas temperaturas” e “protegidos do oxigénio”, porque, “normalmente, os bolores que produzem micotoxinas precisam de oxigénio”, explica.

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Este artigo foi desenvolvido no âmbito do European Media and Information Fund, uma iniciativa da Fundação Calouste Gulbenkian e do European University Institute.

The sole responsibility for any content supported by the European Media and Information Fund lies with the author(s) and it may not necessarily reflect the positions of the EMIF and the Fund Partners, the Calouste Gulbenkian Foundation and the European University Institute.

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Alimentação

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