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Dia do Preservativo: Como, quando e porque deve continuar a usar

O Dia Internacional do Preservativo assinala-se a 13 de fevereiro e nasceu pela mão da AIDS Healthcare Foundation, uma associação americana criada no início da epidemia da infeção pelo VIH. Mas, afinal, o preservativo só serve para prevenir a contaminação pelo vírus que provoca a SIDA? 

13 Fev 2023 - 11:14

Dia do Preservativo: Como, quando e porque deve continuar a usar

O Dia Internacional do Preservativo assinala-se a 13 de fevereiro e nasceu pela mão da AIDS Healthcare Foundation, uma associação americana criada no início da epidemia da infeção pelo VIH. Mas, afinal, o preservativo só serve para prevenir a contaminação pelo vírus que provoca a SIDA? 

No ano em que se assinalam os 40 anos do primeiro caso de infeção pelo VIH diagnosticado em Portugal e depois de décadas a lutar contra a epidemia causada pelo vírus que causa a síndrome da imunodeficiência adquirida (SIDA), os estudos demonstram que a utilização do preservativo tem vindo a diminuir na população mais jovem. Essa foi a conclusão do trabalho “Jovens e educação sexual: conhecimentos, fontes, recursos“, apresentado em 2022, no qual 55% dos jovens numa relação admitiram não usar sempre preservativo na relação sexual.

Em declarações ao Viral, Eugénio Teófilo, confrontado com os dados deste estudo e a propósito da data que se assinala esta segunda-feira, admite que “infelizmente, não é só entre os mais jovens que se vem a observar uma diminuição da utilização do preservativo”. 

O internista do Centro Hospitalar e Universitário de Lisboa Central, com vasta experiência em tratamento e investigação da infeção pelo VIH, adianta que a diminuição da utilização do preservativo é transversal a todos os grupos etários da sociedade e é mesmo “uma tendência em todo o mundo”. 

Segundo o especialista, uma das razões que explica esta diminuição do uso do preservativo é o aparecimento da Profilaxia Pré-Exposição ao VIH, mais conhecida como PrEP, que implica a toma de antirretrovirais antes da relação sexual para evitar a infeção pelo VIH. 

Este método de prevenção da infeção começou a ser disponibilizado pelo Serviço Nacional de Saúde em 2018, com normas de acesso definidas pela Direção-Geral da Saúde.

Os avanços terapêuticos que melhoraram a qualidade de vida e aumentaram a esperança média de vida da pessoa infetada também parecem ter mudado a perceção do perigo por parte da sociedade, com consequente recuo na utilização do preservativo. 

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“A infeção por VIH era encarada como uma sentença de morte porque nos anos 80 e 90 [do século passado] não havia terapêutica eficaz”, lembra Eugénio Teófilo, que aponta para a evolução no sentido de “uma certa simplicidade terapêutica” – já que “a maior parte das pessoas infetadas consegue estar controlada apenas com um comprimido por dia, com muita eficácia” – como motivo para as pessoas deixarem de associar “o ser infetado igual a morte”.

No entanto, mesmo com o aparecimento de terapêuticas mais eficazes que impedem a transmissão do vírus e a progressão da infeção por VIH para a doença, a SIDA, o internista explica porque é preciso continuar a usar preservativo e desconstrói alguns mitos sobre o uso do mesmo.

O preservativo protege só contra a infeção por VIH?

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Em primeiro lugar, ao deixarem de usar preservativo, as pessoas hoje “correm maiores riscos de serem infetados”, admite o especialista. E, apesar da evolução terapêutica registada, estar infetado com VIH ainda significa ficar portador de uma infeção crónica, que não tem cura e exige o respeito rígido de um esquema terapêutico que ainda é para toda a vida.

Nesse sentido, a prevenção da infeção continua a ser a melhor arma, afiança o especialista.

Além disso, o preservativo não é útil apenas para evitar o contágio pelo VIH ou uma gravidez indesejada. Segundo acrescentou Eugénio Teófilo, o “preservativo é eficaz na prevenção das infeções de transmissão sexual, seja a sífilis, a gonorreia, a clamídia, o micoplasma genital, a tricomoníase e de uma série de agentes que provocam as infeções de transmissão sexual e que são prevenidas, na grande maioria, pelo uso do preservativo”.

As infeções sexualmente transmissíveis (IST) têm aumentado?

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A resposta de Eugénio Teófilo é imediata: “Sim. A diminuição da utilização do preservativo tem aumentado os casos de sífilis, e têm aumentado também bastante os casos de gonorreia e de clamídia”.

Além do aumento do número de casos, alerta o especialista, tem sido mais difícil tratar algumas IST’s, nomeadamente a gonorreia. 

O especialista explica que “o aumento de casos de gonorreia tem sido acompanhado por uma maior resistência da bactéria da gonorreia, a Neisseria gonorrhoeae, aos antibióticos e cada vez estão a ser usados esquemas mais avançados de antibióticos e com doses mais altas para tratar esta infeção”. 

Na perspetiva do internista “podemos cair no risco, em virtude deste aumento da transmissão das infeções por via sexual, de caminhar para a resistência de alguns desses agentes aos antibióticos que dispomos”.

A Organização Mundial da Saúde já chegou a falar da “super gonorreia”, uma bactéria extensivamente resistente a medicamentos e com alto nível de resistência ao tratamento atualmente recomendado para esta infeção. 

De momento, sublinha o internista, a sífilis não tem apresentado níveis de resistência crescentes e o tratamento continua a ser a já bem antiga penicilina

Existem diferenças na eficácia entre o preservativo feminino e o preservativo masculino?

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“Não, a eficácia é igual” entre os dois, assegura Eugénio Teófilo.

“A questão é que o preservativo feminino é mais complicado de colocar e é mais caro e são, sobretudo, estas as duas principais diferenças entre os dois tipos de preservativo”, acrescenta.

A vertente monetária está, então, a encabeçar os entraves a uma maior utilização do preservativo feminino. Por isso, as mulheres continuam a ter preferência pela utilização do preservativo masculino, mais fáceis de guardar, de colocar e mais baratos.

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É seguro guardar os preservativos na carteira?

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Nem na carteira, nem no porta-luvas do carro, nem nos bolsos, “os preservativos não podem ser guardados em lugares quentes, nem com exposição solar porque existe o risco de degradação do material do qual o preservativo é feito (o latex), o que compromete a sua eficácia”, diz Eugénio Teófilo.

O especialista relembra alguns conselhos que devem ser tidos em conta na altura da utilização do preservativo. Deve olhar-se para a embalagem e ver se esta está íntegra e não tem nenhuma perfuração, porque se a embalagem está aberta, em contacto com o ar, “há um maior risco de degradação do material do preservativo, que pode romper-se com mais facilidade”.

E, claro, não esquecer que os preservativos têm data de validade, por isso é preciso ter em atenção a data de expiração do prazo que está na embalagem.

No momento da utilização, não se deve usar os dentes nem objetos perfurantes para abrir a embalagem, “de forma a não colocar em risco uma rutura do preservativo”, frisa. Afinal, as embalagens têm a chamada abertura fácil.

Utilizar dois preservativos dá mais segurança?

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Segundo o internista, “essa é uma ideia muito antiga, da altura em que apareceu o VIH”. Mas Eugénio Teófilo assegura que este gesto “é contraproducente, porque usar dois preservativos vai criar atrito entre eles e é mais fácil romper o preservativo”, aumentando, assim, o risco de contrair a infeção.

Se a pessoa quer optar por maior segurança deve escolher uma gama de preservativos que sejam mais espessos, aconselha o especialista.

E, afinal, o preservativo diminui ou não a sensibilidade?

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Eugénio Teófilo reconhece ser verdade que os preservativos acabam por diminuir um pouco a sensibilidade e que isso é um problema. 

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“Há sempre uma perda de prazer quando se coloca um preservativo e é por isso que as pessoas estão a voltar a não usar preservativo quando têm atos sexuais”, adianta.

Nos anos 80, 90 do século passado e no início de 2000 houve muita comunicação sobre a utilização do preservativo e os benefícios que tinha na prevenção da infeção por VIH. 

“Era como se houvesse uma formatação das pessoas, que tinham uma balança com dois pratos: num colocavam o não gostar de usar preservativo, no outro os benefícios, nomeadamente não ter contacto com o VIH, um vírus que provoca uma patologia incómoda e mortal”. E, claro, a balança pendia para utilização do preservativo.

A partir do momento que a terapêutica começou a ter níveis de eficácia muito elevados e que surgiu a PrEP, a balança começou a ficar desequilibrada e começou a ganhar mais peso a vontade de ter mais prazer.

Não obstante, insiste o especialista em Medicina Interna, o preservativo continua a ser fundamental “para evitar uma infeção de transmissão sexual e uma possível gravidez indesejada”.

Basta colocar o preservativo nos momentos imediatamente antes da ejaculação para evitar o contágio?

“Isso é um mito”, classifica o especialista. Obviamente, o grande volume de vírus está no sémen quando o homem ejacula no orgasmo, mas, como explica, variando de homem para homem, existem casos em que antes da ejaculação pode haver “a libertação de fluidos pré-ejaculatórios que podem conter células infetadas com VIH e, desta forma, pode haver risco de infeção mesmo sem haver ejaculação dentro da pessoa que está a ser penetrada”.

Isto a pensar na pessoa que está a penetrar, mas a pessoa que está a ser penetrada pode ser a que está infetada e, mesmo sem ejaculação, pode infetar o parceiro.

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Assim sendo, a recomendação é que o preservativo seja colocado quando o pénis estiver ereto e antes da penetração. 

E será que é preciso usar preservativo durante o sexo oral?

Porque sexo não é só penetração, é importante lembrar que a proteção deve ocorrer em todos os momentos do ato sexual por isso, sim, é preciso usar preservativo durante o sexo oral. 

“Quando faço a pergunta em consulta, a maioria das pessoas diz que não usa”, conta o internista que acrescenta: “O que está a acontecer é que as pessoas não têm perceção que as infeções de transmissão sexual também se transmitem por sexo oral e não só pela penetração vaginal ou anal”.

Além da infeção por VIH, as já mencionadas sífilis, gonorreia e clamídia “também se transmitem muito facilmente por sexo oral”, esclarece Eugénio Teófilo que continua, passadas quatro décadas desde os primeiros diagnósticos nacionais da infeção por VIH, a apelar ao uso do preservativo como método mais eficaz para a prevenção de todas as IST.

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Saúde sexual

13 Fev 2023 - 11:14

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