Pensamentos de suicídio. Como pedir ajuda ou ajudar alguém em risco
O suicídio é considerado um problema de saúde pública pelas várias organizações e instituições de saúde a nível mundial. Segundo a informação disponibilizada no site do Serviço Nacional de Saúde (SNS) estima-se que, em Portugal, morram, por dia, três pessoas por suicídio. E, de acordo com os dados partilhados pela da Organização Mundial da Saúde (OMS), todos os anos morrem mais de 700 mil pessoas por suicídio.
A propósito do Dia Mundial de Prevenção do Suicídio, que se assinala a 10 de setembro, o Viral reúne informação sobre quem corre um maior risco de suicídio, quais os sinais de alerta e como pode pedir ajuda para si, caso tenha pensamentos suicidas, ou ajudar alguém que esteja em risco.
Quem corre maior risco de suicídio?
O suicídio é um fenómeno transversal, que não escolhe classes sociais, género, idade ou região geográfica. Contudo, sabe-se que existem fatores que aumentam o risco de suicídio (ver também aqui).
Num texto informativo, publicado no site do SNS, refere-se que “ser homem” é um fator de risco, pois morrem mais homens por suicídio do que mulheres.
Por outro lado, “sofrer uma perda marcante”, “ter uma doença grave ou limitativa” e “estar isolado” também são fatores que aumentam o risco de suicídio.
O “abuso de álcool e/ou drogas” tem, de igual forma, um impacto significativo neste contexto.
Por si só, “ter pensamentos ou planos de suicídio” e ter “tendência para agir sem pensar” (impulsividade) também são apontados como fatores de risco pelo SNS.
Importa sublinhar que “90% dos casos de suicídio têm história psiquiátrica prévia”, ou seja, quem tem uma doença mental (ou tem familiares com doença mental) – como “depressão”, “doença bipolar”, “esquizofrenia” e/ou “perturbações de personalidade” – corre um risco acrescido.
Segundo um manual para a comunidade sobre prevenção do suicídio, da autoria da ARIS da Planície – Associação para a Promoção da Saúde Mental e com o patrocínio da Direção-Geral da Saúde (DGS), determinadas faixas etárias podem apresentar um risco aumentado de suicídio.
Neste contexto, as pessoas mais velhas são consideradas vulneráveis. Isto deve-se a “mudanças relacionadas com o envelhecimento, como a reforma, a perda de posição social, a perda da rede social e relações afetivas, a viuvez, a perda progressiva de familiares e amigos, doença física, incapacidade, perda de autonomia, institucionalização em lar e o afastamento progressivo da família”, refere-se no documento.
Por outro lado, os mais jovens, por poderem ter, por exemplo, “baixa autoestima” e alguma “dificuldade natural em lidar com várias situações de vida, como a perda de relações afetivas, bullying, desafios académicos ou conflitos em torno da identidade sexual”, também têm um risco de suicídio aumentado.
Noutro plano, há algumas profissões que estão associadas a um maior risco de suicídio. “Não só pelo elevado nível de stress associado, mas também pelo acesso facilitado a meios letais, como as armas de fogo no caso dos polícias e militares, e a medicamentos no caso dos profissionais de saúde”, salienta-se no manual.
Por ser “alvo de discriminação, opressão, exclusão social, violência verbal, física, e de grande estigma”, a população LGBTQIA+ (sobretudo a “população transexual e transgénero”) encontra-se numa situação mais vulnerável.
Importa ainda ressalvar que “a exposição a um suicídio pode aumentar o risco de suicídio”. Ou seja, qualquer pessoa que já se tenha tentado suicidar ou que conheça alguém que tenha morrido por suicídio (mesmo que não seja uma pessoa próxima) tem um risco acrescido.
Sinais de que alguém poderá precisar de ajuda
Mesmo que a pessoa em questão não se aperceba disso, em situações graves, há “alterações do seu comportamento habitual” que podem indicar que é necessário intervir.
Segundo o texto do SNS, estes “sinais de alarme são geralmente percetíveis e são uma oportunidade para oferecer ajuda”. Eis os principais sinais apontados pelo SNS:
- Ter “dificuldades de concentração”;
- Isolar-se mais e/ou ter “variações de humor extremas” (por exemplo, irritar-se com mais frequência);
- Ter alterações constantes do apetite;
- Não conseguir manter uma rotina saudável de sono, ou seja, ou “dorme muito ou dorme muito pouco”;
- Passar a consumir álcool ou drogas;
- Perder o interesse geral pela vida. Isto pode traduzir-se em: agir “de forma ansiosa, agitada ou imprudente”; não ver “solução para os problemas”; não ter “esperança no futuro”; e perder “o interesse pelas atividades habituais (trabalho, escolha, atividades sociais, desporto)”;
- Perder “o interesse pela própria aparência” e sentir-se “um fardo para os outros”;
- Falar “sobre querer morrer ou querer matar-se” e procurar “formas de se matar”;
- Organizar a vida “e preparar o momento da morte”, ao doar “bens pessoais significativos”, escrever um testamento ou guardar dinheiro para o funeral.
Contudo, no mesmo texto, sublinha-se “que a presença de um ou mais destes sinais não implica que a pessoa pretende suicidar-se: a única forma de ter a certeza é perguntando” (um passo importante quando se quer ajudar alguém em risco de suicídio).
Como ajudar alguém ou pedir ajuda para si mesmo?
O primeiro passo para ajudar uma pessoa em risco de suicídio é “reconhecer os sinais de alarme”, refere-se no texto do SNS.
De seguida, é essencial “encarar os pedidos de ajuda com seriedade”, “saber ouvir atentamente a pessoa em risco, sem fazer juízos de valor”, e “não desvalorizar ou minimizar os sentimentos do outro”.
Tal como se aponta no manual de prevenção do suicídio, não se deve assumir que os comportamentos de uma pessoa em risco “são chamadas de atenção inofensivas ou tentativas de manipulação”.
Em termos práticos, é importante ouvir “o que a pessoa tem a dizer de forma empática, amigável e não ameaçadora”, e mostrar preocupação pela pessoa, ao referir, por exemplo, “que notou mudanças no comportamento e nas atitudes”.
No momento em que se tenta perceber o que se passa, deve-se fazer “perguntas abertas e diretas” (por exemplo, “como te sentes”), mas não se deve tentar “adivinhar as preocupações da pessoa”, lê-se no documento.
É fundamental não desvalorizar os sentimentos da pessoa. Isto é, não dizer para a pessoa “esquecer” o assunto, nem dar conselhos vazios, tais como “isso passa” ou “tens de te animar”.
Ao contrário do que se possa pensar, recomenda-se que pergunte “diretamente se a pessoa pensa em suicidar-se” (ver também aqui).
Fazer isto “não vai incentivar ou estimular ideias”, mas sim “dar oportunidade à pessoa para falar dos seus pensamentos de suicídio”. Isto “pode ser um alívio” para a pessoa “e é um ponto de partida para encontrar uma solução”, refere-se no manual.
Além disso, destaca o SNS, é fundamental “encorajar a procura de ajuda profissional” (ver também aqui).
Pode ser difícil convencer alguém a procurar ajuda neste contexto, mas, como “a maioria das pessoas com ideias de suicídio estão ambivalentes e com dúvidas em relação à morte”, vão provavelmente “acabar por concordar em receber tratamento”, aponta-se no manual.
É importante não esquecer que “os pensamentos de suicídio podem afetar qualquer pessoa, de qualquer idade ou género e em qualquer momento”, refere-se noutro texto do SNS.
Muitas vezes, a pessoa “pode não saber o que provocou estas ideias”. Isto acontece porque, habitualmente, trata-se de “uma combinação de fatores e pode não haver uma causa evidente”.
Por isso, “é natural que sinta que não há nada a fazer”, mas “não é verdade”, lembra o SNS.
Se precisa de ajuda ou se quer ajudar alguém em risco de suicídio, contacte o Serviço de Saúde Mental do Hospital da sua região – Adultos (ver aqui), Infância e Adolescência (ver aqui).
Também pode contactar a linha SNS24 (808 24 24 24 e sns24.gov.pt) e o 112, “através das Linhas de Crise e da Linha de Aconselhamento Psicológico”.