PUB

Porque é que os ouvidos entopem e doem no avião? Como atenuar os sintomas?

As dores de ouvidos e a sensação de entupimento durante ou depois de uma viagem de avião afetam muitas pessoas e, por vezes, persiste algumas horas depois do fim do voo. Porque é que isto acontece? E como evitar?

31 Out 2022 - 10:26

Porque é que os ouvidos entopem e doem no avião? Como atenuar os sintomas?

As dores de ouvidos e a sensação de entupimento durante ou depois de uma viagem de avião afetam muitas pessoas e, por vezes, persiste algumas horas depois do fim do voo. Porque é que isto acontece? E como evitar?

Para alguns passageiros, o momento de aterragem do avião é doloroso. Os ouvidos entopem e, em alguns casos, chegam mesmo a doer. Mesmo com a aeronave já em terra, estes sintomas podem persistir, causando uma dificuldade temporária em ouvir. O fenómeno, como a maioria sabe, está relacionado com a alteração da pressão atmosférica. Mas o que significa isso na prática? O Viral falou com três especialistas para perceber a causa deste desconforto auditivo e como pode ser atenuado.

Porque é que os ouvidos entopem quando andamos de avião?

Para entender melhor a explicação que se segue, é importante perceber que o ouvido é divido em três partes: o ouvido externo, que faz ligação com o exterior e permite a entrada dos sons; o ouvido médio, onde a vibração é amplificada através do tímpano; e o ouvido interno, que transforma e envia os sinais para o cérebro.

Nesta situação em concreto, “interessa-nos o ouvido médio”, começa por explicar Filipe Freire, diretor do serviço de otorrinolaringologia do Hospital Dr. Fernando Fonseca. Esta zona do ouvido é “uma cavidade cheia de ar, com a respetiva pressão, cuja única forma de comunicar com o exterior – e, por conseguinte, equalizar a pressão – se faz através de um canal chamado trompa de Eustáquio, que liga o ouvido médio à nasofaringe (parte de trás do nariz)”.

No mesmo sentido, Paulo Santos, professor da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) e investigador do Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde (CINTESIS), explica que “o ouvido médio é uma espécie de caixa ressonância gasosa que faz a ligação entre o tímpano e o ouvido interno”, ou seja, é uma “estrutura fechada” que apenas comunica com o exterior pela trompa de Eustáquio, por onde “entra ou sai ar, consoante a necessidade”.

“Este processo é rápido, mas não é imediato, pelo que pode existir um pequeno tempo em que a pressão dentro do ouvido é superior à do ambiente (durante a subida) ou o contrário (na descida) provocando desconforto e dor”, prossegue.

PUB

Quando o avião sobe, a pressão atmosférica diminui, apesar de as cabines de as aeronaves serem pressurizadas. No interior dos aviões comerciais a pressão atmosférica é equivalente à sentida a 2.400 metros de altitude, ou seja, cerca 30% inferior à pressão ao nível do mar. Por outro lado, durante a aterragem a pressão atmosférica aumenta.

“Para um correto funcionamento do aparelho auditivo é necessário que exista uma pressão igual nos dois lados da membrana do tímpano, ou seja, no ouvido externo e no ouvido médio. Só assim a referida membrana poderá vibrar devidamente com a chegada da onda sonora e transmitir essa vibração à cadeia ossicular que, por sua vez, a conduz ao ouvido interno”, explica António Miguéis, diretor da Clínica Universitária de Otorrinolaringologia da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra

É por essa razão que, durante a descolagem e a aterragem, poderá ter a sensação de ouvido tapado. “A diminuição da audição é outro sintoma que poderá surgir, por vezes acompanhada de zumbidos e até de ligeira vertigem”, prossegue o diretor da Clínica Universitária de Otorrinolaringologia.

Quando a pressão externa é mais elevada do que a pressão interna, pode levar a um barotraumatismo, que ocorre quando o tímpano é empurrado para o ouvido médio, causando dor. Em situações mais complicadas, pode mesmo ocorrer a rutura do tímpano e, nesse caso, “poderá ser necessário realizar uma intervenção cirúrgica – timpanoplastia – para reparar a lesão”, afirma o especialista.

A intensidade dos sintomas pode depender de vários fatores, como a localização do aeroporto. Se o avião aterrar num aeroporto situado a maior altitude, a diferença de pressão não será tão elevada, ou seja, os sintomas serão mais ligeiros. Por outro lado, se a aterragem implicar uma descida mais acentuada, os sintomas podem ser exacerbados.

O otorrinolaringologista sublinha que, “na maioria dos casos, estes sintomas irão ceder de uma forma progressiva e desaparecer ao fim de algumas horas”, não sendo necessário “realizar qualquer tratamento específico”. 

PUB

No entanto, para as pessoas que viajam frequentemente de avião – como pilotos ou hospedeiros de bordo – é aconselhado estar atento ao aparecimento constante de problemas de audição e, nesses casos, deverá procurar-se aconselhamento médico.

Como atenuar os sintomas?

Num “ouvido saudável e com tímpano íntegro”, a trompa de Eustáquio “não está sempre aberta”, explica Filipe Freire. “São necessárias algumas manobras que envolvem músculos dessa região para promover a abertura momentânea”, permitindo “equalizar as pressões de ar do ouvido médio com o exterior”. Essas manobras passam por engolir, bocejar ou realizar a manobra de Valsalva.

“A manobra de Valsalva – em que se expira com o nariz e a boca tapada – é uma das técnicas que permite aumentar a pressão dentro das vias respiratórias e forçar a passagem do ar para dentro do ouvido, resolvendo a baixa pressão da descida”, explica Paulo Santos. 

Esta técnica pode ser utilizada sem causar problemas, “desde que não exista doença que a contraindique e que seja realizada com algum bom senso e de forma gradual, para não haver exageros”. 

Outra técnica bastante utilizada pelos passageiros é mastigar pastilha elástica durante a descolagem e a aterragem do avião. Além disso, podem também ser utilizados rebuçados ou outros alimentos que permitam a movimentação do maxilar.

PUB

Os bebés e as crianças “estão mais sujeitos ao aparecimento de sintomas por motivos anatómicos”, prossegue o investigador. Por isso, “oferecer um biberão ou dar mama” pode ser uma solução para aliviar o desconforto sentido.

As patologias das vias aéreas podem dificultar o normal funcionamento da trompa de Eustáquio, provocando maiores dificuldades durante os voos, assim como as constipações. Nestes casos, “quando a viagem não puder ser adiada, a aplicação de vasoconstritores nasais poderá ser feita, não esquecendo os efeitos secundários que este tipo de medicamentos pode provocar”, conclui António Miguéis.

Categorias:

Otorrinolaringologia

31 Out 2022 - 10:26

Partilhar:

PUB