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Serão os suplementos de óleo de prímula a solução para as dores menstruais?

2 Ago 2024 - 02:00

Serão os suplementos de óleo de prímula a solução para as dores menstruais?

Num vídeo partilhado no Instagram, alega-se que tomar suplementos de óleo de prímula, desde uma semana antes de se menstruar até ao final da menstruação, é a solução para as dores menstruais. 

Segundo o autor do post, quem tomar “um grama de óleo de prímula pela manhã e um grama antes de ir dormir não terá mais cólicas menstruais”. Mas será mesmo assim? Há evidência científica que comprove a eficácia dos suplementos de óleo de prímula no combate às dores menstruais?

Tomar suplementos de óleo de prímula combate as dores menstruais?

Em esclarecimentos ao Viral, Anabela Rocha, ginecologista e obstetra no Instituto CUF Porto e na Clínica CUF S. João da Madeira, adianta que não há evidência científica suficiente que permita garantir a eficácia dos suplementos de óleo de prímula no alívio das dores menstruais.

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A médica explica que “o óleo de onagra (ou prímula) é extraído das sementes de oenothera biennis, uma planta originária do continente americano”. 

Segundo Anabela Rocha, “este óleo é rico em ácidos gordos essenciais polinsaturados, também conhecidos como vitamina F”, e é “constituído, sobretudo, por ácido linoleico e ácido gama-linoleico, bem como outros ómega-6”.

Têm sido feitos alguns trabalhos no sentido de tentar perceber se este óleo é eficaz em diversos problemas de saúde, tais como: dermatite atópica, artrite reumatoide, síndrome pré-menstrual (ou Tensão Pré-Menstrual – TPM), dor mamária e sintomas da menopausa.

Contudo, os estudos que pretenderam perceber a eficácia dos suplementos de óleo de prímula nos sintomas da TPM, como as dores menstruais, “não são conclusivos”, frisa a especialista (ver também aqui, aqui, aqui e aqui).

“O óleo de onagra parece ter benefícios na diminuição da sintomatologia associada à síndrome pré-menstrual”, mas “são necessários estudos com maior poder amostral e qualidade, para conclusões relativamente ao seu uso como terapêutica de primeira linha”, realça.

Esta ideia também é reforçada no site do Centro Nacional de Medicina Complementar e Alternativa (NCCIH) dos Estados Unidos. 

De acordo com um texto informativo do NCCIH, “não existem provas suficientes” que permitam “apoiar a utilização do óleo de onagra para qualquer problema de saúde”, incluindo condições como “a TPM e os sintomas da menopausa”.

Ainda assim, aponta Anabela Rocha, a toma destes suplementos parece ser segura para a população em geral. 

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Além disso, “o óleo de onagra é geralmente bem tolerado”, refere-se no texto do NCCIH. Os efeitos secundários mais comuns “são sintomas gastrointestinais temporários, como dor abdominal, sensação de enfartamento ou náuseas”, acrescenta-se.

No que toca à interação com medicamentos, sabe-se que estes suplementos podem aumentar os efeitos do lopinavir, um fármaco utilizado no tratamento da infeção pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV). 

Como há sempre o risco de o óleo de prímula interagir com outros medicamentos, ou de não ser adequado para todas as pessoas, o NCCIH recomenda que se consulte um profissional de saúde antes de tomar estes ou quaisquer outros suplementos.

Quais as recomendações no combate às dores menstruais?

A dismenorreia, também chamada de dor menstrual, “é um problema comum e experienciado por muitas mulheres em idade fértil”, adianta Anabela Rocha.

Esta dor “resulta de contrações uterinas intensas” que, por norma, surgem “um a dois dias antes ou no início da hemorragia menstrual e diminui gradualmente 12 a 72 horas depois”. 

Segundo a ginecologista, “a dor menstrual pode ainda associar-se a outros sintomas como náusea, diarreia, cefaleia e fadiga”.

Existem dois tipos de dismenorreia: a primária, que é “uma cólica recorrente durante o período menstrual”, não relacionada com outra patologia; e a secundária, causada por uma doença (ginecológica ou não).

O tratamento da dismenorreia secundária passa por tratar a doença que causa a dor menstrual

Por outro lado, para a dismenorreia primária, “o tratamento de primeira linha é farmacológico” (ver também aqui e aqui).

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Recorre-se “a anti-inflamatórios não esteroides, como o ibuprofeno ou o naproxeno; ao paracetamol; ou ao contracetivo hormonal”, explica Anabela Rocha.

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Do ponto de vista da médica, “o tratamento deve ser escolhido de acordo com as preferências da mulher, contraindicações, comorbilidades ou refratariedade terapêutica” (situações em que o organismo não responde ao tratamento). 

Estas opções “podem ser usadas de forma isolada ou em associação, e reavaliado o sucesso terapêutico periodicamente”, acrescenta.

Ao tratamento farmacológico, deve-se aliar “a prática de exercício físico e uma alimentação saudável”, pois “são medidas que melhoram a qualidade de vida associada à dor menstrual”.

Além disso, “o calor aplicado na região hipogástrica [zona do útero] também demonstrou ser um tratamento adjuvante eficaz”, conclui.

2 Ago 2024 - 02:00

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