Posso não fazer a pausa da pílula de vez em quando? Especialista responde
Umas férias de verão, um casamento ou uma data importante são exemplos de razões pelas quais, por vezes, algumas mulheres optam por “ignorar” a semana de pausa da pílula anticoncecional, continuando a tomar os comprimidos diariamente, sem interrupção, de modo a evitarem que o sangramento coincida com estes eventos.
No entanto, algumas pessoas evitam esta prática por acreditarem que não respeitar a semana de pausa pode prejudicar a saúde ou a eficácia da pílula. Afinal, quem tem razão? Pode-se ou não “saltar” a pausa da pílula de vez em quando?
É seguro não fazer a pausa da pílula esporadicamente?
A resposta vai depender do tipo de pílula que está em causa. Tal como se explica no site do Serviço Nacional de Saúde (SNS), existem dois tipos principais de pílulas anticoncecionais orais: as combinadas (compostas por estrogénios e por progestativos) e as que são compostas apenas por progestativos.
Dentro das combinadas, existem pílulas de “regime monofásico” – em que “todos os comprimidos têm a mesma dosagem” – e de “regime multifásico” – em que “os comprimidos têm dosagens diferentes ao longo do mês”.
Em esclarecimentos ao Viral, Henrique Almeida, ginecologista e professor da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), explica que, se estivermos a falar da “pílula mais comum”, ou seja, a combinada e de regime monofásico, “não há nenhum inconveniente” em fazer a toma contínua (sem pausas) durante um mês.
Nesse contexto, “se a mulher quer ir de férias sem ter a preocupação da perda de sangue durante um, dois ou três meses, não há riscos maiores do que os que já possam existir na utilização da pílula”.
O ginecologista lembra que, “como todos os medicamentos, a pílula não é isenta de riscos”, mas fazer “a toma continuada deste tipo de pílulas com baixa dosagem não traz perigos acrescidos”.
No “Consenso sobre Contraceção 2020”, um documento com revisão científica da responsabilidade da Sociedade Portuguesa de Contraceção (SPDC), também se refere que a contraceção hormonal combinada, “nas formulações orais, monofásicas, na via transdérmica e vaginal pode fazer-se uma toma/uso contínuo sem intervalo livre”.
Inclusive, acrescenta-se, “o regime de toma/uso contínuo sem intervalo livre melhora os sintomas associados ao declínio dos níveis hormonais (estrogénios) na altura da pausa, podendo ser benéfico em algumas situações clínicas (síndrome pré-menstrual e endometriose) ou da preferência de algumas mulheres”.
Pelo contrário, aponta-se no mesmo documento, “os regimes multifásicos obrigam a respeitar a ordem na toma dos comprimidos e não é possível a sua utilização em regime contínuo” (ver também aqui).
Caso a mulher prefira tomar a pílula de forma contínua a longo prazo, “pode ser preferível substituir a pílula com os dois fármacos [combinada] por uma pílula que tem um só [progestativa]”, salienta Henrique Almeida.
A possível vantagem da pílula combinada prende-se apenas com o facto de a pausa na toma promover a hemorragia de privação (um sangramento a que, erradamente, é costume chamar-se “menstruação”).
Isto porque, explica o médico, “a pílula combinada foi preparada de maneira a haver uma perda de sangue” mensal que serve para indicar à mulher que à partida não está grávida.
Contudo, o progestativo “é que está a exercer o papel anticoncecional, o estrogénio está lá apenas para realizar uma determinada ação sobre o revestimento uterino, que se perde quando se faz a dita pausa”, adianta.
Por isso, realça, “as pílulas que só têm o progestativo são tão eficazes” quanto as outras. Apenas não promovem a perda de sangue.
Aliás, prossegue o professor da FMUP, as mães que estão a amamentar, caso pretendam tomar a pílula, são aconselhadas a tomar “a que tem apenas progestativo e é tomada de forma contínua”.
Isto deve-se ao facto de “o estrogénio ter um efeito negativo, em muitas mulheres, na produção de leite”, sustenta Henrique Almeida.
De acordo com a informação disponibilizada pelo SNS, a pílula progestativa ainda é indicada para outras mulheres que “não podem tomar estrogénios”, que “apresentem de efeitos secundários relacionados com o estrogénio provocados pela pílula combinada”, que “pretendem manter o regime contracetivo oral e diário” ou que “preferem tomar uma pílula só com uma hormona (os progestativos)”.
É importante ressaltar que nem todas as mulheres podem tomar este tipo de pílula. Segundo um texto informativo publicado no site do Serviço Nacional de Saúde britânico (NHS, na sigla inglesa), a pílula que só contém progestativo “pode não ser adequada se já tiver tido”, por exemplo, uma doença cardiovascular, “um acidente vascular cerebral”, “uma doença do fígado” (como cirrose), “cancro da mama” e “uma doença que afete os rins”.
Se pretender começar a tomar qualquer tipo de pílula anticoncecional ou se tiver intenções de trocar o tipo de pílula que toma, recomenda-se que contacte primeiro um profissional de saúde.
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