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Vestígios de metais pesados detetados em tampões. Há motivo para alarme?

20 Ago 2024 - 09:55

Vestígios de metais pesados detetados em tampões. Há motivo para alarme?

Um estudo recente tem gerado alarme nas redes sociais. Os investigadores responsáveis pelo trabalho em questão detetaram vestígios de metais pesados em tampões. Perante este cenário, surgiram várias publicações nas redes sociais a alertar para os supostos perigos de usar tampões. 

A autora de um dos vídeos partilhados no TikTok destaca os níveis de chumbo encontrados nos tampões. Sugere que “nenhuma concentração de chumbo” é segura e defende que “a exposição de chumbo está ligada a imensos efeitos adversos” a nível “reprodutor, imunitário, cardiovascular, neurológico, renal”. Mas será que isso quer dizer que utilizar tampões é prejudicial à saúde da mulher? Afinal, o que concluiu o estudo citado?

Metais pesados detetados em tampões são motivo para alarme?

tampões metais pesados

Em esclarecimentos ao Viral, Teresa Almeida Santos, professora na Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra (FMUC) e diretora do departamento de Ginecologia, Obstetrícia, Reprodução e Neonatologia da Unidade de Saúde Local de Coimbra, começa por defender que, para já, “não há motivo para alarme”.

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Segundo a especialista, o estudo citado nas publicações reporta apenas ter encontrado vestígios de metais pesados nos tampões avaliados e não que os tampões são perigosos para a saúde da mulher.

A investigação em questão, publicada em junho deste ano, teve como objetivo avaliar “as concentrações de 16 metais em 30 tampões de 14 marcas de tampões e 18 linhas de produtos” e comparar “as concentrações por características dos tampões”, refere-se no estudo.

De acordo com os resultados apresentados pelos investigadores, foram encontradas “concentrações mensuráveis de todos os 16 metais avaliados”, inclusive “concentrações médias elevadas” de metais tóxicos como “chumbo”, “cádmio” e “arsénio”. 

O estudo refere ainda que “a maioria dos metais diferia em função do estatuto orgânico”, isto é, “as concentrações de chumbo eram mais elevadas nos tampões não orgânicos, enquanto o arsénio era mais elevado nos tampões orgânicos”, lê-se. 

No entanto, salienta Teresa Almeida Santos, além de se tratar de “uma análise pequena”, este “é apenas um primeiro estudo” que “tem de ser validado e reproduzido”.

Numa segunda fase, prossegue, “tem de se ver se esses metais têm algum impacto direto nas funções celulares”.

Entre outras coisas, é necessário “saber se os metais seriam absorvidos ou não” pelo organismo e analisar “as diferentes concentrações de metais no sangue das pessoas depois de usarem esses tampões”.

Os próprios investigadores que conduziram o estudo destacam que “é necessária investigação futura” para reproduzir os resultados “e determinar se os metais podem sair dos tampões e atravessar o epitélio vaginal para a circulação sistémica”.

Em teoria, todos os produtos “que tenham metais pesados e que estão em contacto com o nosso organismo são potencialmente deletérios”(tóxicos), aponta Teresa Almeida Santos.

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“É evidente que a presença de metais nos tampões, impregnados com sangue, e numa fase em que a vagina está com mais irrigação, pode de alguma forma facilitar alguma absorção desses metais pesados”, explica a médica.

Ainda assim, na perspetiva da professora da FMUC, relacionar estes resultados específicos com “a função reprodutiva ou com alguma toxicidade parece muito precoce”.

Há alimentos com níveis de metais pesados superiores aos detetados nos tampões

metais pesados

Além de não se saber se os metais encontrados têm impacto na saúde, as concentrações encontradas são, na visão da especialista ouvida pelo Viral, relativamente baixas.

Teresa Almeida Santos refere ainda que os tampões não são os únicos produtos com vestígios de metais pesados.

Aliás, sugere, “se fizessem o estudo em pensos higiénicos teriam provavelmente resultados idênticos”, sugere. Isto acontece porque “não conseguimos fugir à contaminação ambiental que vivemos”, sustenta. 

A própria “roupa que usamos” e “os peixes que comemos” podem ter vestígios destes metais. E, quando se fala no peixe, está em causa “a ingestão direta desses metais”, destaca a especialista.

Outro exemplo relevante, no contexto da alimentação, é o chá. Um estudo de 2013 e um relatório de 2015 da Agência de Normas Alimentares do Reino Unido (FSA, na sigla inglesa) detetaram maiores quantidades de chumbo no chá do que as que foram encontradas nos tampões. 

Além disso, tanto os níveis encontrados nos tampões como os detetados no chá são muito mais baixos do que os limites estabelecidos pela Agência de Proteção Ambiental dos EUA (ver aqui e aqui) e pela União Europeia para o chumbo e para o arsénio na água engarrafada.

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O arsénio, por exemplo, é conhecido por ser um contaminante preocupante no arroz. Por esse motivo, foram estabelecidos limites, pela Comissão Europeia, para proteger a saúde do consumidor. É de notar que estes limites, mais uma vez, são muito superiores aos níveis encontrados nos tampões.

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Ginecologia

20 Ago 2024 - 09:55

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