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É mais perigoso do que a Covid-19? O que se sabe sobre o HMPV

7 Jan 2025 - 03:39

É mais perigoso do que a Covid-19? O que se sabe sobre o HMPV

 

O aumento do número de casos de infeções por metapneumovírus humano (HMPV), no norte da China, tem merecido destaque nas notícias e nas partilhas online. As imagens de hospitais chineses repletos de pessoas que circulam, nos últimos dias, nas redes sociais, fizeram emergir o receio de uma nova pandemia. À tona vieram também dúvidas e uma série de narrativas falsas ou imprecisas sobre este vírus respiratório.

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HMPV

Na rede social X, por exemplo, há quem se refira ao HMPV como “o novo vírus chinês” e quem o descreva como “um vírus mortal que pode ser mais perigoso do que a Covid-19”. Mas será mesmo assim? Haverá motivo para alarme?

HMPV

Em declarações ao Viral, Celso Cunha, virologista do Instituto de Higiene e Medicina Tropical da Universidade Nova de Lisboa (IHMT), e Paulo Paixão, virologista e professor da NOVA Medical School, explicam o que se sabe até agora sobre o HMPV.

O que é o HMPV? É um vírus novo?

Ao contrário do que se alega em algumas publicações nas redes sociais, o metapneumovírus (HMPV) “não é um vírus novo”, esclarecem os dois virologistas entrevistados pelo Viral.

Celso Cunha começa por explicar que o HMPV “foi identificado pela primeira vez no início deste século, em 2001, na Holanda”, embora já circule há mais tempo entre a população, estimando-se que a maior parte das pessoas já tenha tido contacto com o vírus.

O HMPV, continua o virologista, “pode causar infeções respiratórias, sobretudo do trato superior” e, menos frequentemente, pode ter complicações graves, como “pneumonia ou bronquites”.

O risco de complicações mais graves, acrescenta Paulo Paixão, é maior em “crianças muito pequeninas, idosos, pessoas com problemas de imunidade, transplantados, ou pessoas com problemas cardíacos”. No entanto, ressalva, “a maioria das infeções são banais”.

Segundo Celso Cunha, o facto de, na maior parte dos casos, não causar “doença com sintomas graves”, o HMPV “não tem sido alvo de muita pesquisa”, pelo que “muito daquilo que nós sabemos é por comparação com o Vírus Sincicial Respiratório (VSR), com o qual o HMPV tem algumas parecenças”.

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Quais os sintomas e como se transmite?

Os sintomas da infeção por HMPV são semelhantes aos de outras infeções respiratórias, como, por exemplo, a gripe ou a Covid-19.

Na página dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC) dedicada ao HMPV, aponta-se que “tosse, febre, congestão nasal e dificuldade em respirar” são alguns dos sintomas mais comuns.

“Os sintomas clínicos da infeção por HMPV podem evoluir para bronquite ou pneumonia e são semelhantes aos de outros vírus que causam infecções respiratórias superiores e inferiores”, lê-se no mesmo texto.

No mesmo sentido, indica Paulo Paixão, o vírus transmite-se “por via aérea”, ou seja, pelo contacto com gotículas respiratórias de uma pessoa infetada.

Como se previne e trata?

Neste momento, não existe nenhuma vacina contra o HMPV. Por isso, adiantam os virologistas contactados pelo Viral, os cuidados de prevenção passam por adotar a etiqueta respiratória, lavar as mãos com frequência, evitar ir para o trabalho ou para a escola quando se tem sintomas respiratórios e, se necessário, utilizar máscara.

Quanto ao tratamento, Paulo Paixão refere que não há nenhum medicamento antiviral “com boa eficácia” contra o metapneumovírus.

Por esse motivo, explica Celso Cunha, faz-se um “tratamento de suporte”, ou seja, focado em aliviar os sintomas (como, por exemplo, a febre) e ajudar o corpo a combater a infeção.

É mais perigoso do que a Covid-19? E mais mortal?

Não há nenhuma evidência de que este vírus possa ser mais mortal do que a Covid-19”, responde Celso Cunha quando questionado sobre as alegações partilhadas nas redes sociais sobre a suposta elevada mortalidade associada ao HMPV.

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A mesma visão é partilhada por Paulo Paixão que sublinha que, embora algumas complicações graves da doença possam ser letais, a mortalidade associada à infeção por HMPV “é baixa”.

Importa sublinhar que, embora as pessoas dos grupos de risco (como, por exemplo, crianças e pessoas imunocomprometidas) possam ter um risco aumentado de complicações graves, a maioria das infeções por HMPV têm uma evolução favorável e os sintomas são, em geral, leves.

Podemos estar perante uma nova pandemia?

Celso Cunha é perentório: Tendo em conta os dados disponíveis atualmente, “não há nada que nos leve a crer estarmos perante o possível início de uma nova pandemia”.

Esse cenário é também afastado por Paulo Paixão que diz que, neste momento, “não há motivo para preocupação”.

O professor da NOVA Medical School assinala que, apesar de o HMPV e o SARS-CoV-2 (vírus responsável pela Covid-19) terem sintomas e uma forma de transmissão semelhantes, existem várias diferenças entre estes dois vírus.

Em primeiro lugar, o SARS-CoV-2 só foi identificado em seres humanos, pela primeira vez, em 2020. Ou seja, até então, “a população humana ainda não tinha tido contacto” com o vírus, pelo que o organismo “não tinha defesas para ele”.

Já o HMPV é um vírus “conhecido” e com o qual boa parte da população já terá tido contacto, mesmo que não o saiba. Por isso, à partida, o sistema imunitário das pessoas estará mais preparado para lidar com o metapneumovírus do que estava com o SARS-CoV-2 no início da pandemia da Covid-19.

“Isso dá-nos agora uma maior proteção, mas não significa que essa proteção seja total”, acrescenta Paulo Paixão.

Outra diferença entre estes dois vírus apontada pelo virologista prende-se com o seu grau de variabilidade genética, ou seja, com a quantidade e ao tipo de mudanças (ou mutações) genéticas que o vírus sofre ao longo do tempo.

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Enquanto o SARS-CoV-2 sofreu várias mutações (que deram origem a diferentes variantes, com características e graus de severidade distintos), os dados disponíveis atualmente mostram que, em termos genéticos, o HMPV “não é muito instável”, ou seja, foi tendo, ao longo do tempo, “pequenas alterações genéticas, mas não muito significativas”.

Em suma, o HMPV não é um “vírus novo”, nem potencialmente “mais mortal do que a Covid-19”. É um vírus respiratório conhecido que, embora possa causar complicações graves em grupos de risco, não apresenta uma taxa de mortalidade elevada.

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Virologia

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Covid 19 | HMPV

7 Jan 2025 - 03:39

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