Dia do Obrigado: A gratidão faz bem à saúde? Psicóloga explica
Segundo a sabedoria popular, dizer “obrigado” e “por favor” faz parte das regras da boa educação. Agradecer por um presente, um gesto, um conselho ou simplesmente para mostrar apreço a alguém é uma atitude natural para as pessoas que foram encorajadas a fazê-lo desde muito cedo. Mas mostrar gratidão a alguém ou a algo também parece ter um impacto positivo no bem-estar (e, por consequência, na saúde) de quem o faz e de quem recebe esse agradecimento.
A pensar nisso, na data em que se celebra o Dia Internacional do Obrigado, Joana Alexandre, psicóloga e membro da direção da Ordem dos Psicólogos Portugueses (OPP), explica ao Viral os benefícios da gratidão para o bem-estar geral e para a saúde mental.
Qual o impacto da gratidão no bem-estar?
O dicionário da Associação Americana de Psicologia (APA, na sigla inglesa) define gratidão como “um sentimento de agradecimento e felicidade em resposta ao recebimento de uma dádiva, seja um presente tangível (por exemplo, uma prenda, um favor) dado por alguém ou um acaso afortunado (por exemplo, um dia bonito)”.
Para Joana Alexandre, expressar gratidão (ou agradecer) é um gesto que faz parte de “competências pessoais e sociais” muito estudadas que “têm um papel fundamental no desenvolvimento dos indivíduos, nomeadamente das crianças e dos adolescentes”.
Sabe-se que “competências básicas como elogiar, dizer ‘obrigado’, ou estarmos gratos, no sentido mais lato, estão relacionadas com um maior bem-estar”, adianta a psicóloga (ver também aqui, aqui, aqui, aqui e aqui).
No fundo, esclarece, estamos a falar de algo designado por “consciência social”, ou seja, “a relação do ‘eu’ com o outro e o modo como este aspeto pode impactar o bem-estar dos indivíduos”.
No manual “Ser Capaz”, um projeto de intervenção e investigação socioeducativa promovido pela Universidade Católica Portuguesa, explica-se que a consciência social é a “capacidade para compreender a perspetiva social do outro e empatizar com outros de diferentes backgrounds, culturas e contextos”.
Inclui-se a capacidade “para compreender as normas para o comportamento social e ético e para reconhecer os recursos e suportes da família, da escola e da comunidade”, acrescenta-se.
Essa capacidade traduz-se não só em “compreender e expressar gratidão”, mas também, por exemplo, em: “reconhecer qualidades nos outros”; “demonstrar empatia e compaixão”; “reconhecer exigências e oportunidades situacionais”; “reconhecer o estado emocional dos outros e demonstrar preocupação pelos seus sentimentos”; e “reconhecer diversas normas sociais, influindo as injustas”, refere-se no mesmo documento.
Exprimir gratidão, além de ter um impacto positivo no bem-estar da pessoa que diz “obrigado”, também pode ter benefícios para a pessoa que recebe o agradecimento.
“Sempre que digo ‘obrigado’, sempre que manifesto, de algum modo, a minha gratidão, também estou a passar ao outro o seu reconhecimento e o seu valor”, refere Joana Alexandre.
Segundo a psicóloga, essa variável “é muito importante, sobretudo para a nossa autoestima” (ver aqui e aqui) e para cultivar relações positivas, “sejam relações do dia a dia, com pares, sejam relações em que existe uma hierarquia, com pais, filhos, netos, avós, alunos, professores”.
Ao agradecermos “potenciamos, no fundo, uma cadeia de contágio emocional positivo”, já que “emoções positivas geram outras emoções positivas”, explica. Daí a importância de promover competências pessoais e sociais junto das crianças e dos adolescentes.
Estas competências têm “um impacto quer ao nível da promoção de relações interpessoais positivas (ou seja, na relação com o outro), quer em si próprio (ou seja, em termos de autoconceito e da maneira como nos definimos)”.
Na perspetiva de Joana Alexandre, “a gratidão pode estar também muito ligada a outra variável muito estudada: o suporte social”. Por outras palavras, “sentirmos que temos uma rede de pessoas com quem contamos, de quem gostamos e a quem mostramos apreço”. No fundo, demonstrar gratidão contribui para a sensação de suporte social.
Ter um suporte social pode fazer toda a diferença em pessoas que estão “em situações de risco” de, por exemplo, “desenvolver sintomatologia depressiva”, explica.
“Se alguém demonstrar gratidão e mostrar o valor que a pessoa tem para si, naturalmente, isso pode constituir-se como um fator de proteção” neste contexto, porque contribui de forma positiva para a autoestima e pode dar uma sensação de suporte social à pessoa, através do fortalecimento da relação.
A título de exemplo, uma revisão de 70 estudos com respostas de mais de 26 mil pessoas encontrou uma associação entre níveis mais elevados de gratidão e níveis mais baixos de depressão (ver aqui e aqui).
Em questões ligadas à saúde mental é essencial “diminuirmos os fatores de risco e promovermos os fatores de proteção”. Nesse sentido, expressar gratidão “pode, sim, ser um fator de proteção”, conclui Joana Alexandre.
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