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Porque sonhamos? Funções, mitos e significados dos sonhos

17 Mar 2023 - 01:01

Porque sonhamos? Funções, mitos e significados dos sonhos

O mundo dos sonhos tem tanto de democrático quanto de misterioso e desconhecido. Se, por um lado, todas as pessoas têm a capacidade de sonhar, por outro, a ciência sabe muito pouco sobre as funções e os significados dos sonhos.

Este desconhecimento dá origem a vários mitos e crenças com contornos quase mágicos. Os mais antigos acreditam, por exemplo, que sonhar com dentes é um presságio de morte de parentes e que sonhar com cobras é sinal de traições ou de mentiras. 

Mas existirão significados universais para os sonhos? E para que servem os sonhos? No Dia Mundial do Sono, a psicóloga e somnologista Teresa Rebelo Pinto adianta, em declarações ao Viral, algumas das hipóteses que existem sobre as funções e os significados dos sonhos.

Os significados dos sonhos existem e são universais?

significados dos sonhos

Existem várias teorias sobre os significados dos sonhos, mas não existe consenso. Enquanto Freud, por exemplo, defendia que os sonhos estavam relacionados com a realização de desejos, outros investigadores argumentam que os sonhos têm outros significados ou que até podem não ter significado nenhum. Ao mesmo tempo, a “sabedoria popular” criou glossários de significados dos sonhos que foram passando de geração em geração.

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Para Teresa Rebelo Pinto, não há fórmulas universais, defendendo que “a melhor pessoa para saber os significados dos sonhos é o próprio”.

“Ou seja, não podemos ter um dicionário, um guião de símbolos, que é igual para toda a gente”, sustenta.

A somnologista explica que “nós só sonhamos com memórias ou com conteúdos que façam parte da nossa vivência e do nosso cérebro”. Portanto, “cada um de nós vai sonhar, por assim dizer, à sua maneira”.

Ainda assim, acredita a psicóloga, a interpretação dos sonhos “caso a caso” pode ser uma ferramenta importante, desde que seja feita “com cautela”, sem se ficar demasiado “agarrado ao seu conteúdo, mas olhando para o simbolismo do que se viveu durante o sonho”.

Teresa Rebelo Pinto sugere, por isso, que “as pessoas se dediquem a essa temática já acordadas, numa ótica de arrumar aquele assunto, mas não numa lógica de ficarem reféns do mesmo”, afastando-se da ideia de que se sonharam com algo é porque isso “vai acontecer”.

“A própria pessoa pode interpretar o seu sonho, procurando padrões de comportamento naquilo que sonhou e procurando emoções, tentando perceber o que sentiu durante o sonho. Até porque, tipicamente, nós sonhamos muito com desejos, medos, angústias ou situações que estamos a atravessar”, explica.

Na perspetiva da somnologista, tanto os sonhos bons quanto os menos positivos são normais, mas podem ser um sinal de preocupação “quando as pessoas têm a sensação de que sonham demais, que os sonhos são muito cansativos, que têm muitos pesadelos, que acordam cansadas por causa dos sonhos ou que os sonhos são muito angustiantes”.

Noutro plano, a psicóloga acrescenta que, apesar de não existirem significados universais, já foram descritos na literatura científica alguns “conteúdos universais” nos sonhos.

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“Por exemplo, em algumas demências sabe-se que as pessoas têm tendência para terem conteúdos nos sonhos mais padronizados. Passam a ter mais sonhos com animais ou com conteúdo agressivo. Mas isto é em relação aos conteúdos, não é em relação ao significado”, reforça.

As crianças, acrescenta a especialista, “também parecem sonhar mais com animais do que os adultos, por exemplo”.

Para que servem os sonhos?

significados dos sonhos

Questionada sobre as funções dos sonhos, Teresa Rebelo Pinto refere que “ainda se sabe muito pouco, hoje em dia, sobre as funções dos sonhos”. Ou seja, o que existe são, sobretudo, “hipóteses”.

“Até porque nós podemos medir quase tudo quanto se passa no sono de uma pessoa, mas nós não conseguimos entrar no sonho daquela pessoa, a não ser através da descrição do próprio. Não temos nenhuma forma de medir a não ser pelo autorrelato, o que nos limita em termos de investigação”, clarifica.

Ainda assim, aponta a somnologista, “pensa-se que a função dos sonhos tem a ver com os benefícios da fase do sono REM” – a fase do sono em que acontece a “maior parte dos sonhos vívidos e intensos”.

“As pessoas valorizam muito o sono profundo, mas todas as fases do sono são importantes. Concretamente a fase do sono REM acaba por ser importante. Do ponto de vista fisiológico, tem a função de consolidar algumas funções cognitivas, desenvolver a criatividade e a própria regulação das emoções”, avança.

Por outro lado, a psicóloga acredita que, “do ponto de vista simbólico, quando nós sonhamos acaba por ser uma oportunidade para ensaiar a realidade”.

“É um momento em que podemos experimentar várias opções que não experimentamos quando estamos em vigília. Nos sonhos podemos fazer tudo: podemos voar, podemos ressuscitar, podemos dar a volta ao mundo num segundo. Tudo coisas que não podemos experimentar quando temos o pensamento de vigília”, completa.

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Por fim, adianta a especialista, os sonhos podem também ter um “papel muito importante na resolução de problemas pela sua componente criativa”, reforçando que “há muitos relatos do ponto de vista artístico e até científico de descobertas ou de criações artísticas que vêm de um sonho”.

Todos sonhamos todas as noites e, se tudo correr bem, ou nem nos lembramos ou esquecemos rapidamente o que sonhámos. É quase como o que acontece no sonho, fica no sonho”, conclui.

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Sono

17 Mar 2023 - 01:01

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