
Frio pode causar lesões na pele? Como prevenir e tratar frieiras
O frio pode ter impacto na saúde de diversas formas. No que diz respeito à pele, com a chegada do inverno, há pessoas que sofrem com frieiras, inflamações desencadeadas pelo frio e pela humidade. Mas o que são as frieiras? É possível preveni-las? Qual o tratamento para esta condição?
Em esclarecimentos ao Viral, Margarida Gonçalo, professora na Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra (FMUC) e diretora do Serviço de Dermatologia da Unidade Local de Saúde (ULS) de Coimbra, esclarece estas e outras questões sobre as freiras.
O que são as frieiras?
Margarida Gonçalo começa por explicar que as frieiras (também conhecidas como perniose) são “uma inflamação da pele após exposição ao frio”, que não precisa de estar associada a uma “congelação”.
As frieiras “aparecem sobretudo nos dedos das mãos e dos pés”, mas “também podem aparecer no rosto e nas pernas”, refere-se num texto do Serviço Nacional de Saúde britânico (NHS, na sigla inglesa).
Esta condição é mais frequente no inverno porque, adianta Margarida Gonçalo, “a exposição mais prolongada ao frio causa constrição das artérias da pele e a redução da irrigação sanguínea e falta de oxigénio nos tecidos”.
Isto “provoca sofrimento das camadas mais profundas da pele (derme e hipoderme) e uma resposta inflamatória” que se manifesta através das frieiras.
Na maioria dos casos, não se identifica uma causa para as frieiras além da exposição ao frio e à humidade. Contudo, sabe-se que, de forma geral, esta condição afeta mais “mulheres jovens e crianças”, por terem “uma sensibilidade anormal ao frio”, esclarece a secretária-geral da Academia Europeia de Dermatologia e Venereologia (EADV, na sigla inglesa).
Quais os sintomas?
Segundo Margarida Gonçalo, as frieiras “manifestam-se por manchas ou nódulos únicos ou múltiplos de cor vermelha viva que ficam roxos logo após exposição ao frio” (ver também aqui e aqui).
Por norma, estas manifestações associam-se a “mais queixas de comichão, sobretudo quando as lesões aquecem e ficam mais vermelhas e inchadas”, adianta a especialista.
Mas, “em casos mais exuberantes, podem surgir feridas ou crostas” e, nesse caso, “as lesões tornam-se dolorosas”, acrescenta.
É possível prevenir o aparecimento de frieiras?
Uma vez que o fator de risco associado às frieiras é “a exposição ao frio ou à humidade fria”, na perspetiva da professora da FMUC, a melhor forma de preveni-las é evitar essa exposição.
Aliás, num texto informativo, publicado no site da Sociedade Portuguesa de Dermatologia e Venereologia (SPDV), defende-se que “as frieiras não necessitam de ser uma causa de sofrimento para a população” e “para prevenir o seu aparecimento é fundamental cumprir as medidas preventivas”.
Isto pode ser feito, nomeadamente, através da “proteção com roupa, meias e luvas, de forma a manter as extremidades bem quentes”, realça Margarida Gonçalo.
Como se tratam as frieiras?
Tal como se refere no texto da SPDV, regra geral, “as frieiras são autolimitadas, melhorando ao fim de três semanas”.
Ainda assim, assinala Margarida Gonçalo, “em casos mais exuberantes, a utilização de um corticoide tópico potente pode reduzir um pouco a inflamação e a sintomatologia”.
Em alguns casos, acrescenta, “a utilização de vasodilatadores (como a nifedipina) ou antiagregantes (como a aspirina) podem reduzir a intensidade das lesões ou facilitar a sua resolução”.
Além disso, também é importante ter alguns cuidados. De acordo com o texto do NHS, não se deve colocar as zonas afetadas “num aquecedor ou debaixo de água quente” para as aquecer.
Também não se deve “coçar ou arranhar a pele” e recomenda-se ainda que “não se fume nem se beba bebidas que contenham cafeína”, porque estas práticas “podem afetar o fluxo de sangue nos dedos das mãos e dos pés”.
Apesar de as frieiras, à partida, não serem uma condição grave, é fundamental haver uma vigilância mais apertada das populações de risco, sobretudo os idosos.
No texto da SPDV salienta-se que, nos idosos, “se houver manutenção da exposição aos fatores desencadeantes”, as frieiras “podem tornar-se crónicas”.
“Se as lesões forem mais persistentes e se associarem a outros sintomas, como mal-estar, falta de força, dores articulares, febre, ou manchas noutras lesões do corpo, deve-se ir ao médico”, avisa Margarida Gonçalo.
Isto porque “as frieiras podem ser uma manifestação de lúpus eritematoso, de doenças do sangue ou de doenças autoinflamatórias raras”, clarifica.
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