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Fome emocional: O que é? É negativa? Como lidar?

2 Mar 2023 - 10:24

Fome emocional: O que é? É negativa? Como lidar?

Comer é uma das necessidades mais básicas do ser humano. No entanto, a fome não é apenas fisiológica. Existe também a fome emocional, desencadeada não pela demanda de comer, mas por emoções positivas ou negativas. Mas sentir fome emocional é mau? Este tipo de fome deve ser contrariado? Como se distingue a fome emocional da fisiológica?

Em declarações ao Viral, a nutricionista e autora da página “Healthy but not on a diet”, Maria Novais da Fonseca, e a psicóloga Filipa Menano Almeida – que trabalham em parceria no acompanhamento de pessoas com problemas do comportamento alimentar – esclarecem o que é a fome emocional e indicam estratégias a adotar quando esta se torna um problema.

O que distingue a fome emocional da fisiológica?

fome emocional

A fome fisiológica é a “fome física”, ou seja, é o “sinal que o corpo nos envia quando precisa de comer para realizar as suas funções vitais e sobreviver”, começa por explicar a nutricionista e autora da página “Healthy but not on a diet”.

Este tipo de fome é “mais suave” e surge “muito gradualmente”, aponta a psicóloga Filipa Menano Almeida. Neste caso, “temos vontade de comer os alimentos no geral” e fica-se saciado depois de comer.

A fome física manifesta-se por “várias sensações” como “dores de cabeça, tonturas, dores de estômago e irritabilidade”, esclarece a especialista em nutrição.

Por outro lado, “a fome emocional é definida como o comportamento de recorrer à comida como uma forma de lidar com algum estímulo emocional, seja negativo ou não”, clarifica a psicóloga.

Às vezes, o sentimento de “aborrecimento”, de felicidade ou o desejo de “celebrar algo” pode desencadear fome emocional. Regra geral, neste tipo de fome, “a vontade de comer chega de repente e com mais urgência”.

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“É aquela sensação em que ‘de repente, só queremos abrir a despensa e comer o que aparecer’”, simplifica Maria Novais da Fonseca. O que acontece é que “a pessoa quer apaziguar a angústia que está a sentir”, por exemplo. 

De modo geral, quando se sente fome emocional, recorre-se a alimentos com muito “açúcar e gordura”. À partida, “não vamos ter uma grande vontade de comer um prato cheio de cenouras cruas”. Quando isto acontece, é comum preferir-se, por exemplo, “bolachas, chocolates, alimentos ultraprocessados e com sabores intensos”.

Na presença de fome emocional, “não ficamos saciados quando o estômago está cheio”. Segundo a nutricionista, parece que “há um incómodo” ou “uma sensação estranha”. 

Quando alimentada, esta fome “costuma ser acompanhada pelo sentimento de culpa, de vergonha e de estranheza”, porque a pessoa, mesmo deixando de ter a necessidade fisiológica de comer, continua a fazê-lo. 

Apesar de poder não existir fome fisiológica quando surge a fome emocional, a verdade é que pode acontecer “misturarem-se as duas”, avisa Filipa Menano Almeida. 

Pode-se “estar com fome, porque efetivamente não se come há imenso tempo”. Depois de ingerir alguma comida percebe-se “realmente se ainda temos a necessidade de comer ou não” e se a fome que ainda se sente “já passou a fome emocional”. 

“Comemos com emoção”

fome emocional

Na perspetiva de Filipa Menano Almeida, é necessário desmistificar a ideia negativa e “terrível” da fome emocional. “Todos nós sentimos este tipo de fome”, porque “o alimento não serve apenas para nutrir o nosso corpo, é também uma importante fonte de prazer e conforto” para a mente.

No mesmo plano, Maria Novais da Fonseca defende que não se deve “ter medo da fome emocional” logo à partida. Por exemplo, “se formos a casa de um família e comermos um prato ou uma sobremesa que significa muito para nós, comemos com emoção”.

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Aliás, completa a psicóloga, “a nossa cultura celebra os acontecimentos com alimentos”. Segundo a especialista, a ligação com a comida vem desde a infância. “Desde pequenos que nos oferecem um rebuçado quando estamos tristes, ou quando fazemos alguma coisa bem”. 

Além disso, “a comida está muito ligada às nossas memórias”. Portanto, no fundo, “o ato de comer tem sempre dimensões emocionais, culturais e sociais”, sustenta.

Assim, na visão da nutricionista, “a fome emocional não tem de ser um problema”. Este tipo de fome só é preocupante “quando se torna a única forma de resolver aquela situação psicológica que a pessoa está a passar, ou quando é a única forma que a pessoa tem de se expressar e de tentar apaziguar angústia e ansiedade, por exemplo”.

Quais as estratégias a seguir quando a fome emocional é um problema?

fome emocional

“Quando a fome emocional se torna a nossa estratégia preferencial para lidar com as emoções que sentimos, sejam elas positivas ou negativas, então começa a ser um problema”, alerta Filipa Menano Almeida.

De facto, “sentir prazer em comer é normal e faz parte da natureza humana”, pondera Maria Novais da Fonseca. “O único problema é quando a comida passa a ser a única forma de amenizar qualquer crise, através desse prazer de comer”, contrapõe.

Esta tendência deve ser contrariada, porque, mesmo que a pessoa continue a comer, o problema que a levou a fazê-lo não se vai resolver. Aliás, continua a especialista, “aquela sensação negativa de angústia, de ansiedade, pode até aumentar”.

Por isso, o importante “é resolver o problema de origem, já que o conforto da comida é apenas momentâneo”. Para tirar o foco na comida, Filipa Menano Almeida enumera algumas estratégias.

O primeiro passo, refere, “é trabalhar na regulação emocional, que começa muito pela tomada de consciência do que se está a sentir”. Na visão da especialista, “observar” o que se sente e até “dar um nome à emoção” torna-a mais “consciente”. 

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Por vezes, a fome emocional surge devido ao “aborrecimento”. Nesse caso, argumenta, “se estou a sentir aborrecimento, devo procurar distrair-me com alguma coisa, fazer algo que me entretenha e que me motive”. 

“Falar” ou “escrever” sobre as emoções podem ser boas opções para lidar com a situação. Para mais, é aconselhado pela psicóloga procurar “fontes de prazer alternativas” que envolvam, idealmente, “vários sentidos”. 

Procurar dedicar-se a atividades das quais se gosta pode ser o suficiente: seja “ouvir música, pintar, escrever, caminhar, ler, beber um chá, cheirar uma vela ou ouvir um podcast”. 

Estas dicas podem ser suficientes para algumas pessoas que “conseguem dar a volta a esta situação sem acompanhamento multidisciplinar”, assegura Maria Novais da Fonseca. 

Contudo, para outras pessoas o ideal é serem acompanhadas por profissionais que trabalham na área do comportamento alimentar, “até porque esse acompanhamento poderá reduzir a probabilidade de comerem em grande excesso, de se sentirem mal com isso, ou até de desenvolverem compulsões alimentares”, conclui.

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2 Mar 2023 - 10:24

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