“Febre da preguiça”: O que é e como se transmite o vírus Oropouche
A doença causada pelo vírus Oropouche, também conhecida como “febre da preguiça”, chegou à Europa pela primeira vez. Segundo os dados do Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças (ECDC, na sigla inglesa), até meados de agosto, foram detetados “19 casos importados da doença” em países da União Europeia (12 em Espanha, cinco em Itália e dois na Alemanha). Todos estes casos estão relacionados com viagens a Cuba ou ao Brasil. Mas o que é o vírus Oropouche? Como se transmite? É possível prevenir a doença?
O que é a “febre da preguiça”?
A “febre da preguiça” é uma doença causada pelo vírus Oropouche (ver aqui, aqui e aqui). Este vírus “foi detetado pela primeira vez em 1955 perto do Rio Oropouche em Trinidad”, nas Caraíbas, informa-se num texto informativo publicado no site da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS).
Desde que foi descoberto, este vírus causou “vários surtos no Brasil no final do século passado”, acrescenta-se.
A preocupação global aumentou, porque foram relatados “mais de 8 mil casos” na América do Sul, na América Central e nas Caraíbas desde janeiro de 2024 (ver aqui).
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), “os sintomas da doença são semelhantes aos da dengue e começam entre quatro a oito dias (variação entre três e 12 dias) após a picada infecciosa”.
A OMS explica que os sintomas começam de forma repentina, “geralmente, com febre, dor de cabeça, rigidez articular, calafrios e, às vezes, náusea e vómito persistentes, por até cinco a sete dias”.
O quadro clínico grave é raro, mas pode dar origem a uma “meningite asséptica” (infeção viral das meninges). A maioria das pessoas “recupera em sete dias”, no entanto, em alguns pacientes, o período de recuperação pode levar semanas, refere-se.
A morte por “febre da preguiça” é ainda mais rara. Tal como avança a OPAS, as únicas “duas mortes atribuídas ao Oropouche” foram registadas no Brasil, em julho deste ano.
Importa sublinhar que as grávidas correm um risco acrescido se contraírem esta doença. Num texto informativo do ECDC informa-se que “dados recentes” (não confirmados) referem a possibilidade de o Oropouche, neste contexto, levar “a resultados graves, incluindo aborto, problemas de desenvolvimento e deformidades no feto”.
Como se transmite?
Segundo a OMS, a “febre da preguiça” é “uma doença arboviral”, ou seja, é transmitida pela picada de mosquitos, sobretudo o Culicoides paraensis, encontrado em áreas florestais e ao redor de corpos de água.
Este mosquito pode ser encontrado com alguma frequência nas Américas, mas nunca foi detetado na Europa, informa-se no texto do ECDC.
Até o momento, destaca a OMS, “não há evidências de transmissão de Oropouche de humano para humano”.
No entanto, desde julho de 2024 que as autoridades brasileiras investigam a possibilidade de casos de transmissão de mãe para filho, durante a gravidez.
A OPAS refere que a única observação semelhante anterior ocorreu “durante um surto de Oropouche em Manaus, no Brasil, entre 1980 e 1981, quando a infeção “foi observada em nove mulheres grávidas, duas das quais abortaram”.
Conselhos para quem vai viajar para a América do Sul, América Central e Caraíbas
O risco de exposição ao vírus Oropouche na Europa “é considerado muito baixo”, adianta o ECDC.
Apesar da provável importação de mais casos, a doença não se transmite de pessoa para pessoa e os mosquitos que transmitem a “febre da preguiça” não estão na Europa.
Assim, quem corre um maior risco são as pessoas que viajam ou vivem “em áreas epidémicas na América do Sul, América Central e Caraíbas”, onde o risco é “avaliado como moderado”, até à data.
O risco aumenta para as pessoas “que visitam áreas altamente afetadas”, sobretudo no norte do Brasil ou na região amazónica, “e/ou para aqueles que não tomam medidas de proteção pessoal adequadas”, alerta o ECDC.
Não há vacinas para prevenir o Oropouche nem medicamentos específicos para tratar a doença (ver aqui, aqui e aqui).
Por esse motivo, “a melhor maneira de se proteger de Oropouche é prevenir picadas de mosquitos e moscas”, defende-se num texto dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC, na sigla inglesa).
Com esse objetivo em mente, o ECDC recomenda “a utilização de repelente, o uso de camisolas de manga comprida e calças compridas”.
Também é importante colocar “redes mosquiteiras de malha fina tratadas com inseticida” nas portas e janelas das habitações, enquanto se descansa
Como as grávidas são uma população de risco, caso pretendam viajar para países com um aviso de saúde para viagens nível 2 do vírus Oropouche (ver aqui) devem ponderar bem se o devem fazer.
Os CDC aconselham as grávidas a consultarem um médico antes de viajar para um desses destinos e a seguirem “rigorosamente as medidas para evitar picadas de insetos durante a viagem”.