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Erva-de-são-joão trata a depressão? Quais os riscos?

18 Fev 2023 - 11:07

Erva-de-são-joão trata a depressão? Quais os riscos?

Alega-se nas redes sociais que a erva-de-são-joão trata a depressão. Em várias publicações do Facebook, defende-se que a planta também conhecida como hipericão funciona, supostamente, como um “antidepressivo natural”.

Importa sublinhar que uma parte significativa dos posts em que se descrevem os supostos benefícios do hipericão têm um intuito comercial. Ou seja, o objetivo dos autores das publicações é vender cápsulas ou chás feitos a partir da erva-de-são-joão.

Num desses anúncios lê-se que “a erva-de-são-joão, também conhecida como hipericão ou hipérico, é uma planta medicinal que possui ação antidepressiva, ajudando a combater a depressão leve a moderada, assim como os sintomas associados de ansiedade e tensão muscular”.

Mas estas alegações são verdadeiras? Confirma-se que a erva-de-são-joão trata a depressão? E quais os riscos associados ao consumo de produtos feitos à base desta planta?

É verdade que a erva-de-são-joão trata a depressão?

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Segundo João Palha, psiquiatra e diretor clínico da Casa de Saúde Santa Catarina (CSSC), a escassez de estudos e a “falta de segurança” da erva-de-são-joão não permite concluir que esta planta seja eficaz no tratamento da depressão.

Em declarações ao Viral, o médico diz alegar-se que, “devido à sua potência, esta erva pode ter, principalmente, efeito no aumento da serotonina”. Nesse sentido, continua, alguma evidência sugere que a erva de São João “poderá funcionar nas depressões mais leves”.

No entanto, os estudos disponíveis não permitem reunir consenso sobre estes supostos benefícios. Isto porque, por um lado, há alguns estudos a apontar para efeitos positivos desta planta, mas, no sentido contrário, há também trabalhos a indicar que esta planta não tem impacto no tratamento da depressão.

Aliás, no caso “da depressão grave”, alerta João Palha, “não há mesmo nenhuma evidência” da eficácia do hipericão.

Além dos resultados contraditórios, “não existem preparações standard”, nem “se sabe como é que esta planta deve ser administrada”, explica o diretor clínico da CSSC.

Portanto, o uso de erva-de-são-joão para tratar a depressão “não é recomendado a nível europeu (menos na Alemanha) e mundial” e este procedimento “não está licenciado”, precisamente devido à falta de segurança do hipericão.

Importa referir que a depressão grave pode levar ao suicídio, pelo que deixar de tomar o antidepressivo prescrito pelo médico e passar a tomar um produto natural não regulado pode ter consequências negativas e pôr em causa a vida da pessoa.

A erva-de-são-joão pode interferir com a ação dos medicamentos?

erva-de-são-joão

À falta de estudos que comprovem a eficácia e a segurança desta planta – impedindo que se afirme com certeza que a erva-de-são-joão trata a depressão – acresce o facto de o hipericão poder interferir com alguns medicamentos e afetar a ação de alguns fármacos.

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João Palha explica que, logo à partida, o hipericão pode afetar a ação dos antidepressivos, mas também de outros medicamentos como a pílula anticoncecional.

Nas palavras do médico, a erva-de-são-joão pode aumentar “a carga viral no caso do HIV”, “provocar a não atuação dos métodos contracetivos orais” e “reduzir o efeito dos anticoagulantes, potenciando uma trombose”.

O psiquiatra lembra, por isso, que muitas pessoas podem não ter noção “dos riscos que podem correr” quando encaram os produtos naturais como inofensivos.

Como se trata a depressão?

erva-de-são-joão

Existem vários tipos de depressão e, dependendo de vários fatores, pode ser recomendada a toma de medicação, a psicoterapia, ou os dois tratamentos associados.

“Na depressão, a medicação principal são os antidepressivos”, refere o psiquiatra. Desde “o famoso prozac (fluoxetina) a muitos outros da mesma família e não só, este tipo de medicamentos têm uma capacidade bastante elevada a tratar depressões”.

Além disso, continua João Palha, há outros fármacos que ajudam no tratamento, “como os estabilizadores de humor”.

Por outro lado, na visão do especialista, o acompanhamento do doente também é fundamental. 

“Uma grande parte das depressões têm uma causa” que vai desde “a personalidade” a um fator “conjetural”, como “um despedimento, uma falência, um luto”. Seja qual for a origem da depressão, na perspetiva do psiquiatra, “tem de se atacar a causa para a pessoa poder melhorar”. 

Existem ainda outras medidas que, apesar de não tratarem a doença, podem ser um complemento importante como manter “uma alimentação equilibrada e saudável, dormir bem e praticar atividade física”.

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Tal como se lê no site do balcão digital do Serviço Nacional de Saúde, “atualmente, existem diversas estratégias terapêuticas para o tratamento da depressão que permitem, na maioria dos doentes compensar os sintomas durante as crises e ajudar a evitar as recorrências”.

Segundo o mesmo texto, “a depressão, mesmo nos casos mais graves, pode ser tratada e quanto mais cedo o tratamento é iniciado, mais eficiente é”.

“A maioria dos doentes apresentam melhorias dos seus sintomas quando tratados com antidepressivos, psicoterapia ou uma combinação de ambos”, descreve a mesma fonte.

Contudo, assegura-se no mesmo texto, “a escolha do tratamento deverá atender à: gravidade do quadro clínico; preferência do doente; presença ou não de outras doenças”.

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Saúde mental

18 Fev 2023 - 11:07

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