É perigoso acordar um sonâmbulo? 5 perguntas e respostas sobre o sonambulismo
“Nunca acordes um sonâmbulo. É perigoso”. Quantas vezes já ouviu esta frase? A ideia está enraizada na crença popular e passa de geração em geração. Mas terá algum fundamento? Ou trata-se apenas de um mito? Neste artigo, conheça a resposta a dúvidas comuns sobre o sonambulismo.
O que é o sonambulismo e quais as causas ou fatores desencadeantes?
O sonambulismo é um distúrbio do sono do grupo das designadas parassónias, começa por explicar ao Viral Miguel Meira e Cruz, diretor da Unidade de Sono do Centro Cardiovascular da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa e CEO do Centro Europeu do Sono.
“É caracterizado por episódios com despertar parcial, em que a pessoa se levanta e caminha ou realiza outras atividades enquanto o cérebro se mantém num estado de sono profundo. Durante esses episódios, o indivíduo pode parecer estar acordado, mas não se lembra de nada ao despertar”, explica.
Embora as causas exatas do sonambulismo não sejam totalmente conhecidas, acredita-se que este distúrbio esteja associado a “fatores genéticos, ambientais e fisiológicos”.
“É mais frequente em gerações de famílias em que o distúrbio está presente: se um dos pais tiver sonambulismo, é mais provável que o filho venha a ter”, esclarece o especialista.
Além disso, o sonambulismo pode ainda ser agravado por fatores como:
- privação de sono;
- ansiedade;
- stress;
- ruídos ambientais;
- uso de medicamentos ou substâncias;
- doenças sistémicas.
Como se manifesta o sonambulismo?
As manifestações do sonambulismo incluem comportamentos automáticos, como caminhar, falar ou manipular objetos, sem que a pessoa perceba.
O especialista em medicina do sono Miguel Meira e Cruz explica que os episódios de sonambulismo podem variar, desde “movimentos simples até comportamentos mais complexos”. Regra geral, a pessoa regressa à cama ou acorda num sítio diferente.
Durante os episódios, os olhos podem estar abertos, mas o sonâmbulo “não responde de forma adequada ao ambiente”.
O sonâmbulo está consciente?
Apesar de aparentar estar acordado, na verdade, o sonâmbulo não está consciente. “A pessoa está num estado de sono profundo, especificamente na fase de sono NREM (Non- Rapid Eye Movement), e não tem controlo consciente sobre as suas ações,” afirma o professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa.
Meira e Cruz esclarece que, durante um episódio de sonambulismo, a atividade cerebral “mostra uma ativação peculiar”, no sentido em que as “áreas motoras estão ativas, mas as responsáveis pela tomada de decisões conscientes, como o córtex pré-frontal, permanecem inativas”.
É mais comum em crianças do que em adultos?
O sonambulismo é mais comum em crianças e, na maioria dos casos, até costuma desaparecer com a idade. No entanto, também pode ocorrer na idade adulta, “nomeadamente em contexto de distúrbios do sono, como por exemplo a apneia do sono,” explica ao Viral o CEO do Centro Europeu do Sono.
É perigoso acordar um sonâmbulo?
A ideia de que acordar um sonâmbulo é perigoso e de que pode provocar um ataque cardíaco, ou mesmo a morte, é um mito.
A Associação Portuguesa do Sono refere que se alguém acordar um sonâmbulo, deve fazê-lo com cuidado porque tal ação “pode causar confusão e, às vezes, medo”.
Miguel Meira e Cruz diz mesmo que a pessoa pode reagir de forma confusa ou até agressiva quando é acordada porque não percebe o que está a acontecer.
“O maior perigo reside nos riscos que a pessoa corre enquanto está sonâmbula, como tropeçar, cair ou interagir com objetos perigosos. Em vez de acordar um sonâmbulo, uma abordagem mais segura e oportuna será guiá-lo de volta à cama calmamente,” sugere.
No caso de ser mesmo necessário acordar o sonâmbulo, “é preferível fazê-lo de forma gradual”.