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Divórcios e separações pós-férias: O que explica esta tendência?

4 Set 2024 - 11:02

Divórcios e separações pós-férias: O que explica esta tendência?

 

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As férias são vistas por muitos casais como uma oportunidade para passarem mais tempo juntos, namorarem mais e cumprirem todos os planos até então adiados pelas obrigações do dia a dia. No entanto, para outros, as férias correspondem a um momento de tensões e conflitos agravados que podem até conduzir ao fim da relação.

Alguns estudos têm verificado que o período pós-férias é particularmente rico em divórcios e separações. E o mesmo se verifica nos gabinetes dos psicólogos, que, depois das férias de verão, das férias de Natal ou dos períodos de Ano Novo, costumam receber mais pedidos de ajuda por parte de pessoas e de casais que se querem separar ou divorciar.

Em declarações ao Viral, Luana Cunha Ferreira, psicóloga, terapeuta de casal e familiar e investigadora expõe alguns dos motivos que podem explicar esta tendência.

O que explica os divórcios e as separações pós-férias?

Problemas “disfarçados” vêm à tona

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As alturas de férias ou de Natal e Ano Novo são “momentos atípicos que saem da rotina, em que se criam novas rotinas e em que as pessoas passam mais tempo juntas”. 

Por isso mesmo, explica Luana Cunha Ferreira, nesses momentos, “tudo aquilo que, de alguma forma, funcionou para manter uma vida organizada – sem que as pessoas tenham de mergulhar muito no mundo das emoções e no mundo relacional e de enfrentar os problemas desse calibre – desaparece”, deixando mais visíveis questões como: “a elevada tensão, alguns desencontros, e também, muitas vezes, a falta de conexão, a falta de conversa ou até mesmo a falta de desejo” dentro do casal.

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No fundo, acrescenta a psicóloga, “se houver conflito expresso, esse conflito pode-se tornar mais elevado, e, se houver um distanciamento suficientemente grande, o simples facto de o casal estar com mais tempo pode não chegar para uma reconexão”.

Disparidades na divisão das tarefas com os filhos mais evidentes

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Luana Cunha Ferreira adianta que, nos casais com filhos, as férias com as crianças podem também motivar alguns conflitos e tensões.

“O facto de os filhos não estarem entregues à escola durante grande parte do dia – e de serem os próprios pais a gerir aquilo que normalmente só gerem durante o fim de semana – pode aumentar a tensão familiar”, aponta.

Isto, refere a terapeuta de casal e familiar, pode ser particularmente evidente “se as tarefas domésticas e as tarefas de parentalidade – ou seja, as tarefas reprodutivas – não tiverem uma distribuição paritária que seja satisfatória para os membros do casal”.

“Essa desigualdade gera muita tensão no dia a dia, e, nas férias, eventualmente, isso também se nota mais”, sublinha.

Expectativas defraudadas quanto ao potencial “reparador” das férias

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Nas palavras de Luana Cunha Ferreira, é comum as pessoas “empurrarem com a barriga” a discussão e a abordagem de “algumas temáticas que estão difíceis, mas que não há tempo ou vontade de mergulhar a sério nelas”, na expectativa de que, durante as férias, quando tiverem mais tempo em casal, “as coisas se vão resolver”.

Esta ideia, defende a psicóloga, nasce do mito de que “o diálogo resolve tudo” e que, por isso, “se o casal tiver tempo para conversar, eventualmente, as coisas vão se resolver”. No entanto, lembra, “há muitas problemáticas” em que a conversa – ou, pelo menos, um certo tipo de conversa – , por si só, “não chega”.

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Luana Cunha Ferreira avança que, muitas vezes, “esse contraste entre a idealização e o sonho” do que seriam as férias e “a vivência real daquilo que se está a passar” pode ser “muito doloroso” e dar às “pessoas um sentido de urgência” na resolução do problema que, em alguns casos, pode corresponder ao fim da relação.

Vontade de mudança típica da “rentrée”

divórcios e separações pós-fériasO fim das férias, o regresso ao trabalho e o início de um novo ano letivo correspondem a um período conhecido como “rentrée” (reentrada, em português) ao qual está associado “todo um significado de mudança e de recomeço”, tal como assinala Luana Cunha Ferreira.

Nesta fase, as pessoas podem, por exemplo, sentir necessidade de “encontrarem novos hobbies”, ter “vontade de serem mais autênticas” ou procurar “executar planos com que sonharam”, até mesmo durante as férias, uma altura em que tiveram mais tempo para pensar naquilo que são, naquilo que querem fazer e na forma como querem viver.

A rentrée pode levar a pessoa a pensar que, “se calhar, há uma forma melhor de estar [na vida] e pode abanar um bocadinho a cauda dessa sensação de mudança”, indica a psicóloga consultada pelo Viral.

É neste contexto que, para alguns, pôr fim a uma relação pode surgir como uma possibilidade já que “o divórcio e a separação são mudanças incríveis” que, muitas vezes, são “muito positivas para muita gente”.

Luana Cunha Ferreira ressalva que isto não significa que “o momento do divórcio e os tempos do divórcio” não sejam potencialmente traumáticos, mas sim que trazem também, com frequência, “a esperança em alguma mudança”.

As férias não são uma sentença de “morte” para os casais

Apesar de as férias serem um momento de tensão – e até de cisão – para muitos casais, Luana Cunha Ferreira lembra que, para outros, as férias podem ser uma fase de renovação.

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Por exemplo, quando as relações estão fragilizadas “por fatores de stress exteriores ao casal” (como “o excesso de trabalho, a precariedade laboral, a desigualdade social e as tarefas da parentalidade”), o alívio dessas questões, durante as férias, pode ter resultados positivos na relação.

“Se estes fatores forem aliviados durante as férias e se o casal tiver bons mecanismos de comunicação, de adaptação e até de transgressão (de fazer diferente e de se reinventar), as férias podem ser um momento para fazerem um novo ponto de situação sobre o que querem que seja diferente e para estarem em momentos mais conectados, com maior intimidade e, no fundo, criarem um novo patamar para ocuparem nesta rentrée”, sustenta.

Posto isto, Luana Cunha Ferreira deixa uma ressalva: “Não quero, de forma alguma, dizer que as férias vão ser um desastre para a vida conjugal, mas, nos casais que estão muito fragilizados por questões mais internas ao casal, as consequências podem ser fatais”.

Como não chegar às férias no limite?

Questionada sobre o que podem os casais fazer para evitar que as férias (e o pós-férias) se tornem períodos de crise no relacionamento, Luana Cunha Ferreira defende que devemos “cuidar da nossa saúde relacional com tanto afinco e com tanta constância como cuidamos da nossa saúde mental e da nossa saúde física”.

“Se há pessoas que conseguem ir ao ginásio, ou dar uma corridinha três vezes por semana, pois era bom que o casal tivesse também, três vezes por semana, momentos mais curtos ou mais longos para fazer os seus pontos de situação e as suas pontes de conexão, e que as famílias se sentassem uma vez por semana à mesa e pensassem em conjunto sobre o que correu bem, o que correu mal e o que vão fazer diferente na próxima semana”, elabora.

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Em jeito de conclusão, a psicóloga lembra que “as relações são extraordinariamente dinâmicas” e que, por isso, “nós não nos podemos, simplesmente, ‘sentar’ nas relações como se se tratasse de um sofá confortável, pois esse sofá começa a tremer muito rapidamente”.

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4 Set 2024 - 11:02

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