
Detesta multidões? 7 estratégias para sobreviver a festivais e eventos de verão
Cruza-se com o cartaz de um festival de música e nota que uma das suas bandas favoritas vai atuar num dos dias. Não tem o hábito de ir a concertos, até porque só o pensamento de passar um dia inteiro num recinto com milhares de pessoas, ao sol e com calor, provoca-lhe ansiedade. Ainda assim, não consegue deixar de pensar que pode estar a desperdiçar uma oportunidade única. É possível uma pessoa que detesta multidões ir a um evento de verão com tranquilidade?
Em declarações ao Viral, Alexandra Antunes, psicóloga clínica e membro da direção da Ordem dos Psicólogos Portugueses (OPP), partilha sete estratégias para “sobreviver” a festivais e outros eventos de verão.
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Reconhecer os seus limites
Para Alexandra Antunes, antes de ir a um evento de verão, como um festival de música, é muito importante ter algum “autoconhecimento”.
A psicóloga considera fundamental haver um momento de reflexão em que a pessoa se questione sobre se já foi a eventos semelhantes, como se costuma sentir nesse tipo de ambiente e que dificuldades costuma ter.
Aliás, “uma pessoa que seja mais ansiosa e tenha mais dificuldade em estar em espaços com muita gente deve ter um cuidado acrescido nesse sentido”, aponta.
Por isso, salienta a especialista, “reconhecer os seus limites é essencial”. Isto porque “quanto mais controle eu tenho sobre a situação, mais tranquila vou estar” quando chegar o momento.
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Planear a ida ao evento
No sentido de se conseguir controlar minimamente a situação, a especialista recomenda que se planeie a ida ao evento.
“Conhecer o cartaz do festival”, saber “em que dias vai estar mais ou menos gente” e estudar o espaço são algumas dicas úteis que podem contribuir para aproveitar o evento com maior tranquilidade.
Recolher informações sobre o recinto do evento é particularmente importante, do ponto de vista de Alexandra Antunes.
Entre outras coisas, pode-se tomar nota “das zonas mais calmas” do recinto, perceber “quais são os espaços de alimentação” e “onde se pode ir buscar bebidas”, aponta.
Outro ponto importante é a pessoa perceber “como vai para lá” e de lá para casa, destaca a psicóloga. Deve-se perceber se “há transportes regulares” de modo a ir e voltar dessa forma, ou se é mais viável fazer a viagem com alguém, por exemplo.
Para facilitar o momento da chegada e da partida, deve-se ainda ter noção de onde fica a entrada e a saída do evento.
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Ter a companhia de pessoas em quem confia
Há quem prefira ir a este tipo de eventos sozinho. No entanto, na perspetiva de Alexandra Antunes, é sempre melhor levar companhia, sobretudo quando se tem “mais limitações”, ou seja, quando há um maior risco de se sentir mal no meio da multidão.
Para a psicóloga, é igualmente importante ir com alguém “com quem a pessoa se sinta segura e com quem possa falar, caso se sinta desconfortável”.
No sentido contrário, ir “com alguém desconhecido”, ou que não seja próximo, pode dificultar e até agravar uma situação de maior ansiedade, já que a pessoa pode não estar à vontade para partilhar o seu desconforto.
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Fazer um reconhecimento do local no momento da chegada
Quando se chega ao evento, deve-se “fazer um reconhecimento do local”, isto é, perceber se toda a informação que recolheu sobre o evento está certa e ter a noção – agora, mais realista – de onde estão os locais para comer e beber, as casas de banho, os sítios mais calmos e os mais movimentados.
“Chegar ao evento um pouco mais cedo, e não ir num momento de mais confusão”, pode tornar este processo de reconhecimento mais fácil e menos stressante.
Alexandra Antunes lembra que, atualmente, “quase todos os festivais, por exemplo, têm aplicações ou mapas online, que podemos descarregar”, facilitando a orientação dentro do recinto.
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Adotar medidas de autocuidado
Na visão da psicóloga da OPP, é indispensável tomar medidas que permitam o maior nível de conforto possível. Nesse sentido, antes, durante e depois de um evento, “é muito importante mantermo-nos hidratados e alimentados”, frisa.
A ingestão adequada de água e a proteção solar são medidas-chave, porque estes eventos decorrem no verão, numa altura em que “há alguns momentos de calor, e muitos deles duram o dia inteiro”.
Aliás, Alexandra Antunes alerta para o risco comum de “crises de ansiedade desencadeadas por momentos de hipotensão e de hipoglicémia”.
Também é recomendado “reduzir o consumo de bebidas alcoólicas e o consumo de outras substâncias, porque estes fatores podem ser desencadeantes de picos de maior ansiedade”, acrescenta.
Para mais, dependendo das limitações de cada um, também é importante gerir situações específicas que podem provocar desconforto.
Por exemplo, “no momento de um concerto, se uma pessoa não gosta de se sentir mais apertada, mais contida, e tem mais dificuldade em se afastar, não deve ir para o meio da multidão”, refere a especialista.
Quando o evento chega ao fim, o descanso é imprescindível. Por norma, estes eventos “não têm a duração de um dia apenas, são vários dias, muitas vezes, associados a consumos de bebidas alcoólicas, poucas horas de sono e exposição solar” prolongada.
Todos estes fatores “podem ser gatilhos para momentos de maior ansiedade”, alerta a psicóloga.
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Gerir bem o tempo passado no evento
Acima de tudo, deve-se “ter a percepção de que não tem de se ver tudo, nem é preciso estar em todos os momentos do evento”, defende Alexandra Antunes.
Uma pessoa que “tem dificuldade em estar rodeada de pessoas”, por exemplo, deve ponderar “não ir o dia inteiro”, mas, sim, “escolher o período que prefere ir”.
Mesmo durante o evento, “se a pessoa sentir que atingiu o seu limite”, é preferível “ir embora e voltar no dia seguinte, ou no próximo ano”, aponta a psicóloga.
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Refletir sobre o que correu bem e mal
Tal como é fundamental fazer uma reflexão antes de ir a um evento de verão, também é importante refletir quando acaba.
Perceber “o que correu melhor e pior para, no dia, no ano, ou no festival seguinte, conseguir tomar outras decisões que até aí não se tinha tomado”, esclarece Alexandra Antunes.
Na perspetiva da especialista, “uma das coisas mais importantes é não deixar de ir” numa próxima oportunidade.
A psicóloga explica que “o evitamento é um dos fatores de maior agravamento da ansiedade e dos medos”, porque, sempre que se deixa de ir a um evento ou a um sítio específico, aquele local passa a ser visto como “perigoso”.
Por isso, conclui, o melhor é perceber a razão do desconforto e “tentar encontrar a melhor forma de regressar”.
Como agir num momento de maior ansiedade?
Mesmo tomando alguns cuidados, é possível que o ambiente de festival cause picos de ansiedade. Alexandra Antunes deixa algumas recomendações sobre como lidar com esses momentos (ver também aqui, aqui e aqui).
Em primeiro lugar, o ideal é que a pessoa que está ansiosa partilhe como se sente com quem está.
O próximo passo deve ser “afastar-se do local onde está e tentar encontrar um sítio mais tranquilo”, avança. Caso a pessoa esteja num evento com espaços fechados, é importante ir para um local onde possa “apanhar ar”.
De seguida, é essencial “tentar controlar a respiração”, para não permitir que a frequência cardíaca e outros sintomas físicos aumentem. Caso contrário, a pessoa pode “sentir-se cada vez mais desconfortável”, justifica.
A recomendação é tentar adotar uma “respiração mais abdominal, focar-se em tentar inspirar pelo nariz e expirar pela boca, tranquilamente”.
Enquanto se passa por este processo, deve “tentar desfocar-se dos sintomas físicos provocados pela ansiedade, e tentar focar-se no que está à volta, se possível, com a ajuda de outra pessoa”, prossegue.
Quando a pessoa estiver mais calma, também é importante refletir sobre as possíveis razões que levaram àquele pico de ansiedade.
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